Presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), de 58 anos, foi internada nesta quinta-feira (28), em um hospital de Brasília, após detectar uma obstrução coronária durante exames de rotina. Os médicos recomendaram que ela passasse a noite no hospital para aprofundar a investigação sobre o problema e verificar a necessidade de cirurgia. Nesta sexta-feira (29), ela postou nas redes sociais que terá que fazer uma cirurgia.

“Olá pessoal, vou passar por um procedimento cirúrgico, resultado de exames que fiz ontem, mas está tudo certo, estou bem e sendo cuidada. Nesse momento, quero agradecer todo o carinho que tenho recebido da militância, companheiros e companheiras que querem notícias, e vamos repassar, e que estão torcendo por mim”, escreveu Gleisi.

O caso da deputada chama a atenção especialmente neste Dia Mundial do Coração (29), que traz dados alarmante sobre o crescimento das doenças cardiovasculares (DCVs) entre as mulheres. Principais causas de morte em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as DCVs, que tradicionalmente preocupam aos homens, já são hoje responsáveis por 35% dos óbitos femininos.

No Brasil, os números vêm crescendo. Em 2019, o DataSUS revelou que as doenças do aparelho circulatório foram a principal causa de mortalidade feminina (28%). O número é superior inclusive à soma de todos os tipos de câncer, que causam 170 mil óbitos por ano no país. As DCs já matam sete vezes mais que o câncer de mama, de acordo com o Ministério da Saúde.

O número de infartos também vem aumentando: uma em cada cinco mulheres está sujeita a sofrer um infarto, segundo a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. Segundo levantamento do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), a partir de dados do Sistema de Internação Hospitalar do Datasus, entre 2008 e 2022, a média mensal entre os homens passou de 5.282 para 13.645, alta de 158%. Já entre as mulheres a média de internações por infarto saltou de 1.930 para 4.973, um aumento de 157%.

Moradora de Curitiba, Andreia Maria Rodrigues, de 45 anos, está entre milhares de mulheres que sofrem infarto a cada ano no Brasil. Limpar, lavar e arrumar casas até transformá-las em lares acolhedores era a rotina da diarista. No entanto, essa vida ativa foi interrompida mais de uma vez por infartos agudos do miocárdio, desencadeados por uma hipertensão que a acompanha há 16 anos.

“Depois de começar a sentir fortes dores no peito, cansaço e falta de ar, fui até uma farmácia e descobri que minha pressão estava acima de 18 por 12. Em seguida, fui diretamente a um hospital, onde recebi o diagnóstico de infarto”, lembra Andreia.

Por que o risco de infarto aumenta na menopausa?

O cenário preocupa, pois o número de casos vem aumentando, principalmente entre mulheres jovens e de meia-idade. Segundo outro estudo da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o aumento de infartos nas mulheres de 15 a 49 anos foi de 62%, no comparativo entre 1990 e 2019. Os riscos ficam ainda maiores nas mulheres de 50 a 69 anos, faixa etária que apresentou um aumento de 176% nas mortes por infarto.

Luiz Lucio, diretor médico da Organon, explica que isso ocorre porque na menopausa acontece a perda do estrogênio, um fator de proteção para as doenças cardiovasculares, produzido pelo corpo feminino durante o período fértil, tornando as mulheres mais vulneráveis a um infarto.

“Após a menopausa, como a mulher perde esse fator de proteção, o risco de infarto aumenta, se assemelhando ao do homem. Por isso, as mulheres na idade da menopausa, que no Brasil está por volta dos 48 anos em diante, têm um maior risco de infarto do coração”, explica o médico.

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Carta às Mulheres: entenda os fatores de risco inerentes ao gênero feminino

Para a médica cardiologista do Sabin Diagnóstico e Saúde, Carla Janice Baister Lantieri, os números revelam um quadro preocupante, que é possível reverter porque já sabemos que 80% dessas doenças podem ser evitáveis com estilo de vida saudável e acompanhamento médico adequado.

“Sempre se acreditou que os riscos de doenças cardiovasculares eram os mesmos para homens e mulheres, hoje já sabemos que existem riscos específicos relacionados ao gênero feminino e por isso precisamos chamar atenção para o tema”, destaca.

Em 2022, o Departamento de Cardiologia da Mulher da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) publicou pela primeira vez o Posicionamento sobre Saúde Cardiovascular nas Mulheres, intitulado “Carta às Mulheres. Além dos fatores clássicos, como sedentarismo, obesidade, estresse, tabagismo, dislipidemia, hipertensão arterial, diabetes e qualidade ruim do sono, que atingem homens e mulheres, existem os fatores de riscos inerentes ao gênero feminino e pouco associados às doenças cardiovasculares.

Em cada momento da vida da mulher há riscos específicos à saúde cardiovascular e não apenas na menopausa. “A gravidez é um momento de alteração importante dos níveis hormonais com propensão ao aparecimento da hipertensão arterial gestacional, que pode evoluir para a hipertensão sistêmica pós gestação. No pós-parto, há alterações glicêmicas e dificuldade para redução do peso”, explica Lantieri.

Segundo ela, os fatores de risco relacionados ao sexo ainda incluem síndrome dos ovários policísticos, uso de contraceptivo hormonal e terapia de reposição hormonal na menopausa. Para além dos fatores de risco clássicos e os específicos, a Carta às Mulheres traz ainda os chamados fatores sub reconhecidos relacionados ao aumento do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como depressão e ansiedade, falta de acesso aos sistemas de saúde, estresse crônico, tratamento oncológico, além de abuso e violência, discriminação racial e orientação sexual.

“Há uma distorção da ideia de que mulheres se cuidam mais e vão ao médico mais vezes. Isso acontece quando falamos em saúde reprodutiva, mas não quando falamos das doenças do coração. É preciso olhar para a saúde da mulher de forma integral e individualizada para que se crie uma rotina de cuidados preventivos que incluam também os riscos que impactam em sua saúde cardiovascular ao longo da vida”, completa Carla.

Cada minuto importa

O diagnóstico precoce e o tratamento adequado dessas doenças são essenciais para a redução da mortalidade e da morbidade. Por isso, é importante que as mulheres sejam conscientizadas sobre os riscos e que busquem orientação médica regularmente.

No caso de um ataque cardíaco, cada minuto importa: quanto menor o tempo para receber atendimento médico, menores os danos ao coração. Apesar da metade das vítimas morrer antes de chegar ao hospital, estudos da Universidade de Harvard apontam que 90% dos pacientes hospitalizados sobrevivem.

Para a cirurgiã cardiovascular Daniele Colatusso, o alto índice de sobrevida é resultado do trabalho de equipes multidisciplinares, com o apoio do avanço de conhecimento, tecnologia e ciência. “Uma vez diagnosticado algum problema, o acompanhamento e mudanças de hábitos, seguindo corretamente as orientações do cardiologista, já vai trazer ótimos resultados no tratamento e qualidade de vida”, completa.

A combinação dos recursos humanos, tecnológicos, infraestrutura e políticas de controle de risco hospitalar torna-se essencial para o sucesso de procedimentos complexos. No Hospital Universitário Cajuru, com atendimento 100% via SUS, várias equipes se unem para recuperar a saúde e a esperança dos pacientes.

“Em momentos como esse, faltam palavras para expressar minha profunda gratidão pela vida e pelas pessoas que me cuidaram. Estou certa de que foram muitos os envolvidos para permitir que meu coração continue a bater”, encerra a paciente Andreia.

Sintomas de infarto em mulheres x homens

Em geral, os sintomas típicos do infarto feminino são semelhantes aos dos homens, como dor ou aperto no peito, que pode se irradiar para o braço esquerdo, pescoço ou braço direito; além de cansaço, falta de ar e sudorese fria. No entanto, as mulheres, assim como os homens, também podem apresentar sintomas atípicos, como dor no estômago, sensação de angústia, enjoo, entre outros, como esclarece Luiz Lucio.

“É importante que as mulheres estejam atentas aos sintomas de infarto, mesmo que eles sejam atípicos. Por vezes, pelo fato de se associar o infarto cardíaco mais ao homem do que à mulher, o diagnóstico na população feminina acaba sendo muito mais demorado, o que pode contribuir para que a taxa de mortalidade seja mais alta neste público. O diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento”, alerta.

Segundo a cardiologista do Sabin Diagnóstico e Saúde, Carla Janice Baister Lantieri, como a sintomatologia das doenças cardiovasculares em mulheres pode ser diferente, muitos sinais não são levados em consideração ou muitas vezes são negligenciados pela paciente e pelo médico.

“Desconforto epigástrico, que ocorre na chamada ‘boca do estômago’, logo abaixo do tórax, fadiga e palpitações podem ser sintomas iniciais, mas acabam sendo relacionados à ansiedade, por exemplo, e atrasam o início do tratamento correto”, destaca a médica.

Para prevenir a doença, Lucio recomenda a adoção de hábitos de vida saudáveis, como: alimentação balanceada; controle de peso; atividade física regular; redução do estresse; acompanhamento médico de rotina; e tratamento das doenças associadas, como hipertensão arterial, diabetes, dislipidemias e outras. “Mulheres com predisposição genética para doenças cardiovasculares devem ter um cuidado extra. O acompanhamento médico frequente e próximo é essencial”, enfatiza.

Por fim, o médico destaca a necessidade do autocuidado e da importância de prestar a devida atenção à própria saúde física e mental. “Ouvimos muito, mas praticamos pouco. Nosso corpo ‘fala’ e, por vezes, negligenciamos seus sinais. É importante estarmos atentos”.

Tratamento pode incluir cirurgia de ponte de safena

Com apenas 45 anos, Andreia está entre quase 5 mil mulheres que sofrem infarto a cada ano no Brasil
(Foto: Divulgação)

O último infarto, em março de 2023, fez Andreia passar por uma cirurgia de revascularização do miocárdio. “É a famosa ponte de safena, que consiste em pegar um pedaço da veia safena da perna para fazer uma ponte entre a artéria aorta e o local após a obstrução da artéria coronária”, complementa a cirurgiã responsável pelo procedimento da paciente.

Agora, Andreia retorna ao convívio de sua família, carregada de gratidão pela vida e esperança pela oportunidade de recomeçar. “Sinto que estou com um coração novo e pronta para dar um passo de cada vez, com a paciência que esse momento merece”, revela a paciente, que recebeu cuidados especiais no Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba (PR).

“O zelo dos profissionais com a minha saúde foi decisivo para a minha recuperação. Fiz uma cirurgia no coração de peito aberto e estou bem, graças a Deus e à equipe que comandou o procedimento”, conta a paciente, emocionada.

Para Daniele Colatusso, que acompanha todos os dias casos semelhantes como o de Andreia, o sentimento de salvar vidas a impulsiona na missão de ser uma profissional melhor.

“Como médicos, estudamos e nos dedicamos ao máximo para cuidar e prolongar a expectativa de vida dos pacientes. Então, é um sentimento de missão cumprida e uma enorme satisfação quando o paciente retorna ao consultório bem, sem sequelas e com a vida de volta ao normal”, afirma a médica que atua nos hospitais Universitário Cajuru e São Marcelino Champagnat.

Agenda Positiva

Rodada do Coração no Brasileirão

Os Jogos da 25ª rodada do Brasileirão, neste fim de semana, contarão com ativações em alusão ao Dia Mundial do Coração e conscientização sobre saúde cardiovascular. A ação é promovida pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Sob o lema “Drible o risco, cuide da sua saúde” a campanha pela data visa conscientizar a população sobre a importância da prevenção e do cuidado com a saúde do coração. A previsão é que mais de 400 mil brasileiros irão morrer de doenças cardiovasculares em 2023, sendo uma pessoa a cada 1 minuto e 30 segundos.

Entre as ativações previstas estão a exibição de mensagem no led dos jogos (placa de campo), faixa de capitão de todos os times, moeda dos árbitros, vídeos nos estádios e publicação em colaboração nas redes sociais do Brasileirão e da SBC.

Com Assessorias

 

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