Apenas um em cada quatro brasileiros tem direito a se vestir com roupas bonitas, confortáveis, funcionais para seus corpos e movimentos. Isso porque 25% da população brasileira têm algum tipo de deficiência e não têm acesso à moda e a roupas adaptadas que possibilitem a autonomia para se vestirem sozinhos, a acessibilidade e a elevação da autoestima cada vez que se olham no espelho. Em um mercado que é o quinto maior produtor têxtil e o quarto maior produtor de vestuário do mundo, gera empregos e movimenta mais de 150 bilhões por ano, essa é uma realidade que precisa mudar.

Pensando em contribuir para a criação uma moda com compromisso ético, que seja inclusiva e que seja também sustentável, o Instituto Nação Brasil e o Instituto Hadassa se uniram para o lançamento de um livro que é a síntese de uma série de iniciativas que vêm sendo realizadas por profissionais do mundo da moda em prol da Moda Inclusiva. Um Olhar Diferente sobre a Moda reúne, em 190 páginas, textos, estudos e depoimentos de 11 especialistas em moda e inclusão de diversas cidades do Brasil com a proposta de desenvolver uma nova perspectiva sobre o mercado da moda e dar visibilidade ao segmento.

Daniel Massafera (centro) e Daniela Auler, coautores do livro ‘Um olhar diferente sobre a moda (Foto: Divulgação)

Um dos coautores é Daniel Massafera, maquiador, bailarino e colunista do canal@modainclusiva. Aos 27 anos, ele se intitula ‘um garoto em uma armadura de homem’, após sofrer a amputação traumática do braço e da perna direita e perde a visão de uma das vistas em um acidente.

Nas redes sociais, Daniel tem a oportunidade de fazer essa diferença, ao mostrar ao mundo que representatividade importa. O jovem tornou-se um influencer anticapacitismo e fala sobre temas variados, que vão de acessibilidade e inclusão, passando por moda, saúde e até política. Tudo, segundo ele, para promover “reflexões e transformar pessoas”.

Daniel Massafera é coautor do livro, junto com  a consultora de moda Daniela Auler, idealizadora do Concurso Internacional de Moda Inclusiva e dos cursos de Moda Inclusiva realizados pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo. Daniela também idealizou o projeto Retalhos & Atalhos realizado na Rede de Reabilitação Lucy Montoro.

“O grande atrativo do livro é que ele foi feito com especialistas e com profissionais da moda com diferentes deficiências, o que traz uma visão clara das reais necessidades e as ferramentas técnicas para a solução das carências do que é oferecido atualmente no mercado da moda”, explica Daniela Auler.

Moda para quebrar barreiras físicas e promover a inclusão

Bacharel em negócios da moda pela Universidade Anhembi Morumbi, com especialização em responsabilidade social e sustentabilidade pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), Daniela Auler desenvolveu sua carreira na criação e no marketing em moda inclusiva e sustentável. Ela é coidealizadora do MoDe (moda e design: economia, inovação e sustentabilidade) e representante do Fashion Revolution na cidade de Paraty (RJ).

Em 2007, Daniela foi convidada por uma médica do Hospital de Reabilitação de Sâo Paulo a fazer um estudo sobre como a moda poderia beneficiar as pessoas com deficiência. Em 2008 foi criada a Secretaria do Estado do Direito das Pessoas com Deficiência, em SP,  e ela foi chamada para fazer o trabalho com moda para quebrar paradigmas não só barreiras físicas, mas atitudinais como ferramenta de inclusão.

Daniela Auler criou o concurso internacional de moda inclusiva, que teve 10 edições (Foto: Divulgação)

Daniela criou o concurso internacional de moda inclusiva, que teve 10 edições. Estimulava profissionais e estudantes de moda a criar soluções para facilitar o dia a dia da pessoa com deficiência através da moda. O próximo passo foi criar cursos de moda inclusiva. Ela conta que não existia bibliografia sobre o tema, que era novo na época.

Então, eles levaram a temática para o mundo e inspiraram as universidades a criar essa grade de matérias sobre o tema. Foram pioneiros. Vários países se inspiraram. Hoje existem grades da temática em várias universidades, como o Instituto de Design Europeu e a Universidade do Morumbi.

“Isso acabou gerando trabalhos acadêmicos e pesquisas que englobam a temática da deficiência física e ajudam a desenvolver novas tecnologias como tecidos inteligentes e aviamentos mais tecnológicos, trazendo autoestima e autonomia para as pessoas com deficiência. O objetivo da moda inclusiva é, não apenas oferecer uma moda funcional, que atenda às necessidades de cada deficiência, mas resgatar a identidade de cada pessoa através da moda”, afirma Daniela.

Mais sobre o livro

Para atingir a todos, Um Olhar Diferente Sobre a Moda é impresso em tinta e transcrito em linguagem Braille, voltado para pessoas com deficiência visual e baixa visão. O livro tem produção, edição e realização do Instituto Nação Brasil, de Santa Catarina, em parceria com o Instituto Hadassa, do Rio Grande do Sul e com transcrição e montagem da Associação dos Deficientes Visuais de São Paulo (Adeva). Quem apresenta o livro é Ronaldo Fraga, um dos mais importantes estilistas da moda contemporânea.

O lançamento foi realizado na última terça-feira, dia 18 de abril, na OAB do Rio de Janeiro, com um bate papo com alguns autores e ativistas anti-capacitistas, como parte da programação da Comissão de Direito da Moda. Estiveram presentes na mesa de debates o influenciador digital Ivan Baron, que subiu a rampa do Planalto na posse do presidente Lula, a vereadora Luciana Novaes, vítima de bala perdida na Universidade Estácio de Sá, o humorista Jefinho Farias, do programa A Praça é Nossa, e Fernanda Honorato, primeira apresentadora brasileira com Síndrome de Down.

Sobre outros autores

Silvana Louro é idealizadora da Equal Moda Inclusiva, do Rio de Janeiro (Foto: Divulgação)

– SILVANA LOURO – RIO DE JANEIRO/RJ: Silvana Louro, é estilista formada pela Universidade Cândido Mendes e idealizadora da Equal Moda Inclusiva. Criou e produziu o primeiro uniforme paralímpico adaptado do mundo em 2015. É parceira da Reserva na Linha Adapt& + Equal. Sua etiquetagem em braille é certificada pelo Instituto Benjamin Constant. Em 2022, conquistou os primeiros lugares nos Prêmios Visão Consciente da Fecomércio, Sebrae Mulher de Negócios Nacional e Estadual. Em 2023 a Equal completa 10 anos de excelência e inovação contribuindo com o protagonismo das pessoas com deficiência na moda e na beleza. A marca tem seu diferencial na confecção de roupas em duas versões: com e sem adaptação.

– BRUNA BROGIN – CURITIBA/PR: Bruna Brogin é doutora em Design pela UFPR (2019), realizou estágio doutoral na Sapienza Università di Roma (2017), é mestre em Gestão de Design pela UFSC (2015), é especialista em Design Experiencial pela UFSC (2014) e é graduada em Design de Moda pela UDESC (2011). Atualmente é professora do SENAI PR e SC e pesquisa sobre Moda Inclusiva há oito anos.

– DEBORA MONTEIRO – SÃO PAULO/SC: Débora Monteiro é jornalista e educadora social, publicou “Três mil horas e adeus” na antologia 2020, o ano que não começou, da Editora Reformatório, e as obras “Vítimas Colaterais” e “Viageiros” na antologia Parem as Máquinas, do Selo Off Flip. Desde 2015 mora em Paraty/RJ, onde participa do coletivo literário “Segundas Intenções”, que publicou o livro coletivo “Paraty em Festa – Contos e Encontros”.

A jornalista Heloísa Rocha nasceu com osteogênese imperfeita, condição rara que leva à fragilidade óssea (foto: Divulgação)

– HELOISA ROCHA – ARACAJU/SE: A jornalista Heloisa Rocha é idealizadora do Moda Em Rodas, projeto que trabalha em prol da moda inclusiva, do resgate da autoestima feminina, especialmente da mulher com deficiência, e de promover uma nova percepção do corpo com deficiência na mídia. Radicada em São Paulo desde 2008, a profissional de 37 anos é natural de Aracaju (SE) e nasceu com osteogênese imperfeita, condição rara que tem como principal característica a fragilidade óssea;

– SHEILA GIES – INGLATERRA/UK: Inglaterra, 2002, Manchester Metropolitan University, MMU, Mestrado em Desenvolvimento de Produto de Vestuário (MSc Master of Science, Clothing Product Development) – foi o lugar e o tempo para o avanço dos conhecimentos e práticas em moda e design, já adquiridos em nível acadêmico no primeiro Curso de Estilismo em Moda do Brasil, uma Extensão Universitária, 1992, Universidade Federal do Ceara, UFCe.

– ELEONORA AMARAL – SÃO PAULO/SP: Cursou Design e Produção de Moda, atuando no mercado ao lado de nomes como Lenny Niemeyer, Dudu Bertholini, Reinaldo Lourenço e Luiza Ortiz. Posteriormente se especializou em Consultoria de imagem pela Fashion Institute Of New York – Fit e também em etiqueta e protocolo pela The Protocol School Of Washington – Psow. Atualmente ministra classes de Consultora de Imagem no Curso de Moda Inclusiva em parceria com a Rede Lucy Montoro de Reabilitação, sob tutela de Daniela Auler;

Themis Briand, que criou um método de automaquiagem para pessoas com deficiência visual, e a psicóloga Thais Frota (Foto: Divulgação)

– THEMIS BRIAND E THAIS FROTA – FORTALEZA/CE : Themis Briand – Oficial de Justiça Federal e apaixonada por maquiagem, criadora do método Beleza Para Todos de automaquiagem para pessoas com deficiência visual. Criadora de conteúdo, compartilha na internet dicas sobre beleza com acessibilidade e maternidade. Thais Frota é analista judiciária, formada em Psicologia e Direito;

– LARA SOUTO – SÃO PAULO/SP: Lara Souto Santana tem graduação em Letras português, Inglês e Pedagogia, e mestrado em estudos linguísticos e literários em inglês. Viciada em livros e entusiasta da moda inclusiva, é professora da rede municipal de São Paulo e trabalha como consultora em acessibilidade e audiodescrição;

Tetraplégica, Walquíria Coimbra é modelo inclusiva, paratleta de tênis de mesa e bailarina (Foto: Divulgação)

– WALQUIRIA COIMBRA – BRASÍLIA/DF: Brasileira, tetraplégica, presidente do Fashion Inclusivo, modelo Inclusiva, com desfiles em vários eventos, Hair Brasília, Made in Japão, II Congresso Ibero Americano de Doenças Raras, paratleta de tênis de mesa e bailarina.

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