A celebração do Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, reforça a saúde mental como uma das áreas essenciais para melhorar a qualidade de vida das mulheres de qualquer idade ou origem social e econômica. De acordo com dados do relatório Alerta Amarelo, feito em 2021 pelo Instituto Cactus, uma em cada cinco mulheres apresenta algum tipo de transtorno mental.
Dentre os transtornos mentais mais comuns em mulheres estão a depressão, ansiedade, compulsão alimentar, bulimia. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o índice de depressão entre mulheres chega a ser o dobro da incidência em homens.
E, para cada fase da vida, existem situações diferentes que podem desencadear algum quadro de transtorno mental. Aline Sabino, psiquiatra na Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, afirma que no puerpério as mães estão suscetíveis a depressão pós–parto, assim como rotinas sobrecarregadas podem ocasionar dificuldades de lidar com a ansiedade e o estresse.
Neste cenário, a Síndrome de Burnout é mais frequente em mulheres devido às jornadas duplas de trabalho, dentro ou fora de casa. Um exemplo disso é a jornalista Izabella Camargo, de 42 anos, ex-apresentadora da TV Globo, que teve um apagão ao vivo apresentando a previsão do tempo na televisão antes de ser diagnosticada com Burnout.
A jornalista declarou em entrevistas que já apresentava sintomas como bruxismo, problemas no estômago e taquicardia dois anos antes do ocorrido ao vivo no telejornal em 2018. A TV Globo terá que desembolsar R$ 500 mil à jornalista, após perder uma ação que movia contra a ex-funcionária.
Além disso, com um salário de até 20% a menos do que o dos homens – apontado pelo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o fator motivacional do trabalho também pode diminuir.
“Seja a mulher mãe ou não, a cobrança da sociedade para a mulher no trabalho não é pequena e um trabalho que não gera motivação pode adoecer as pessoas. Mas com a jornada dupla de trabalho, o esgotamento psicológico é mais frequente e pode afetar as mães em até 20% mais do que os pais”, afirma.
As alterações hormonais fazem com que o tratamento para mulheres com transtornos emocionais ou psiquiátricos exija um cuidado especial, como explica Aline Sabino.
“A produção cíclica de hormônios do corpo feminino faz com que a escolha do medicamento, caso necessário, seja feita com mais atenção para não ocorrer conflitos com métodos de prevenção sexual, por exemplo. Também é importante reparar que alguns sintomas de transtornos podem agravar ou atenuar dependendo de qual momento do ciclo de hormônios que a mulher está vivenciando”, comenta.
Maio Furta-cor: saiba como apoiar a saúde mental materna
Diante da diversidade de mudanças que acompanham a jornada da mulher ao longo da gestação e maternidade, manter o equilíbrio emocional revela-se um desafio de grandes proporções. Estudos nacionais indicam que 63% das mães tiveram sintomas depressivos durante a pandemia.
O dado acende um alerta para a saúde mental materna, tema da campanha Maio Furta-cor, que visa sensibilizar a população a respeito do assunto. Para Rosana Fernandes, psicóloga da Clínica Censo, reconhecer o sintomas da depressão é um passo importante para poder tratar a doença de forma adequada.
“Tristeza persistente, perda de interesse nas atividades diárias, sentimento de desesperança ou culpa excessiva, alterações no apetite e no sono são alguns dos sinais. Caso esses sintomas se manifestem, busque ajuda profissional para receber o tratamento adequado”, explica a psicóloga.
Rosana explica que a gravidez e a maternidade passam por duas vertentes: a ideal e a real. Nesse caso, as idealizações acabam refletindo na saúde mental da mulher, o que pode impactar no desenvolvimento do bebê, na relação entre mãe e filho, e se estender para problemas mais graves no pós–parto.
“Há uma pressão da sociedade para que mães experimentem a maternidade como o melhor momento de suas vidas, com idealizações que, muitas vezes, diferem das experiências que elas são expostas diariamente”, ressalta a profissional.
Ainda segundo Rosana, é no período gravídico-puerperal que há maior vulnerabilidade para a ocorrência de alterações emocionais na mulher. “Neste momento, a mãe pode ter dificuldades sociais, insegurança, medo, ansiedade e pensamentos negativos em relação à nova experiência, que vem carregada de sobrecarga mental, solidão e falta de rede de apoio”, completa.
Como cuidar da saúde mental e emocional?
Pré-natal adequado: é importante que a mulher entenda seu estado gestacional. Por isso, manter o acompanhamento com profissional, através de consultas e exames, permite que a mãe tenha maior suporte para manter a saúde física e mental equilibrada.
Rede de apoio: pode ser composta por uma equipe multiprofissional, como obstetra, pediatra, enfermeiros, doula, consultora e outros profissionais da maternidade, além de parentes, amigos, familiares. A rede de apoio é importante para ajudar nos cuidados com o bebê, dar suporte emocional e proporcionar escuta à mãe.
Autocuidado: essencial para manter a saúde física e emocional, o autocuidado pode ser praticado por meio da alimentação adequada, sono regular e exercícios leves. Praticar técnicas de relaxamento, como respiração profunda, meditação, caminhadas ao ar livre e exposição ao sol, pode ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade.
“A saúde mental é importante para todos. Entretanto, em momentos de grande mudança estrutural, física, emocional e todas as demandas que uma gestação pode gerar, é fundamental que a mãe saiba reconhecer sinais de desconforto e tenha apoio para pedir ajuda”, finaliza a psicóloga.
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