Mesmo com a previsão do forte temporal, não foi possível evitar a tragédia que deixou um rastro de destruição e morte em Petrópolis, onde ao menos 120 pessoas morreram por conta de uma forte chuva na última terça-feira (15/2). Em entrevista à Rádio Tupi nesta quinta-feira (17), o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), deputado André Ceciliano, criticou a falta de iniciativas para evitar uma “tragédia anunciada” como esta.

Ceciliano lembrou que há dois radares para detectar chuvas, um em Macaé e outro em Guaratiba, na Zona Oeste carioca, cobrindo uma área total de 400km, mas falta um tratamento adequado das informações que são coletadas, a tempo de preservar vidas e danos materiais. “Não basta ter os radares. É preciso tratar as informações”, comentou Ceciliano.

Bombeiros, moradores e voluntários trabalham no local do deslizamento no Morro da Oficina, após a chuva que castigou Petrópolis (Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil)

Segundo o presidente da Alerj, as mudanças climáticas, que aumentam o aquecimento global e as queimadas, refletem no índice de chuvas, o que tende a crescer ainda mais nos próximos anos. Na terça-feira, foram quatro horas de chuva em Petrópolis, mais do que o dobro de um mês inteiro. O pico da chuva ocorreu no posto do Alto da Serra, com intensidade máxima de 199,2 mm/h, o equivalente a um mês de chuvas.

Além das vítimas fatais de alagamentos e soterramentos, o Corpo de Bombeiros estima que outros 130 moradores estejam desaparecidos na cidade. Até esta quinta-feira, 24 pessoas haviam sido encontradas com vida em meio a muita lama e escombros.

 

Dinheiro não falta, é preciso coragem e determinação’

André Ceciliano (centro), presidente da Alerj. em visita a Petrópolis (Foto: Divulgação Alerj)

Para evitar tragédias desta natureza, afirma, é preciso realocar as famílias que moram nas encostas. Em 2017, havia 7.177 famílias que precisam de remoção, em 234 pontos de risco alto ou muito alto de acidentes, o equivalente a 18% do território do município, conforme apontava o Plano Municipal e Redução de Riscos, elaborado pela prefeitura naquele ano.

“Precisa de espaço para realocar as famílias, outros políticos também não querem tirar. Já fui prefeito de Paracambi. Precisa ter coragem e determinação para tomar as medidas necessárias. Não faltam recursos”, comentou.

O presidente da Alerj lembrou que são mais de R$ 300 milhões do Fundo de Habitação Social para a destinação de moradias para populações em área de risco no estado. O Inea (Instituto Estadual do Ambiente) também investiu pesadamente na instalação dos radares e mapeamento de solo de todo o estado, detectando as áreas de maior risco, por conta da tragédia de 2011 na Serra.

De terno, ao lado do governador Claudio Castro, presidente da Alerj participa de reunião com a Defesa Civil para as primeiras ações de socorro em Petrópolis (Foto: Divulgação Governo do Estado)

Presidente da Alerj acompanhou as primeiras medidas de socorro

Assim que foi comunicado da tragédia em Petrópolis, o presidente da Alerj, André Ceciliano, que participava da abertura do Fórum de Prefeitos da Região do Médio Paraíba na noite de terça-feira, rumou imediatamente para a cidade, acompanhando o governador Claudio Castro e o secretário estadual de Obras, Max Lemos. O evento, que reuniria os 12 prefeitos das cidades da região no Sesc de Barra Mansa, foi cancelado. 

Já em Petrópolis ainda na noite de terça-feira, a comitiva da Alerj e do Governo do Estado acompanhou as primeiras medidas de apoio à população, logo após a enxurrada e os deslizamentos de terra, reunindo-se com representantes dos Bombeiros e Defesa Civil. “Nosso foco é prestar todo apoio para o socorro às vítimas. Vamos somar esforços para auxiliar os moradores neste momento”, disse Ceciliano.

O presidente da Alerj também se solidarizou com as vítimas do novo temporal. “Estamos unidos, Legislativo e Executivo, para ajudar a população no que for preciso. Minha solidariedade às vítimas dessa tragédia”, escreveu no Twitter. Ceciliano retornou da cidade na manhã desta quarta-feira para agilizar, junto aos demais parlamentares, a formulação de uma série de medidas emergenciais para ajudar Petrópolis no enfrentamento dos impactos da tragédia.

Alerj doa R$ 30 milhões para apoiar Petrópolis

. A Casa vai doar R$ 30 milhões economizados do próprio Orçamento em apoio às vítimas das fortes chuvas que atingiram a cidade na última terça-feira (15/02). A doação foi autorizada por meio da Lei 9.562/22, sancionada pelo governador Cláudio Castro e publicada no Diário Oficial do Executivo desta quinta-feira (17/02).

A lei é de autoria original do presidente da Alerj,  que abriu coautoria a todos os deputados da Casa. A votação do projeto em plenário ocorreu na quarta-feira (16/2), em caráter emergencial, após ser acordada entre os parlamentares no Colégio de Líderes que antecedeu a sessão plenária. Os R$ 30 milhões já foram repassados do Fundo Especial da Alerj para o município.

“O estado já disponibilizou equipamentos, caminhões, máquinas, colchonetes, cesta básica e precisamos agora de um recurso emergencial para ajudar a Prefeitura de Petrópolis. Convocamos, então, o Colégio de Líderes, aprovamos a votação e o governo já sancionou. Estive em Petrópolis na terça e o cenário é, infelizmente, de caos”, comentou o deputado André Ceciliano (PT).

R$ 40 milhões para mais 16 municípios afetados por chuvas

A Alerj também aprovou nesta quinta-feira (17) uma doação de R$ 40 milhões do Fundo Especial da Casa para 16 municípios do Norte e Noroeste fluminense em situação de emergência declarada por causa das chuvas, a partir de 1º de janeiro de 2022, com homologação do Governo do Estado.

A medida prevê a doação de R$ 2,5 milhões para cada um dos seguintes municípios: Itaperuna, Cambuci, Aperibé, Italva, Laje do Muriaé, Miracema, Santo Antônio de Pádua, Itaocara, Bom Jesus do Itabapoana, Porciúncula, Varre e Sai, Natividade, Cardoso Moreira, São Jose de Ubá, Carmo e São Fidélis.

O projeto de lei 5.432/22, de autoria original do deputado André Ceciliano (PT), foi aprovado em regime de urgência pelo plenário e será encaminhado à sanção do governador Cláudio Castro. 

Impostos prorrogados e linha de crédito para empresas

Além da verba emergencial de  R$ 30 milhões da Alerj, moradores de Petrópolis e de qualquer município que declarar calamidade pública em razão de desastres naturais poderão prorrogar o pagamento de impostos estaduais. É o que determina a Lei 9.563/22, que também foi sancionada pelo governador e publicada no DO do Executivo nesta quinta-feira (17/2).

A lei, de autoria original do presidente da Alerj, que tem a coautoria para todos os parlamentares da Casa, foi aprovada em plenário em caráter emergencial na tarde de quarta-feira (16). Segundo a medida, o pagamento dos impostos será prorrogado para o segundo semestre do ano em exercício. O texto vale para o IPVA e para o ICMS.

Micro, pequenas e médias empresas das áreas atingidas pelas chuvas em Petrópolis terão direito a uma linha de crédito extra entre R$ 50 mil e R$ 500 mil para a recompor seu capital de giro. O valor do empréstimo será de até 25% do faturamento bruto em 2019 ou 2021. Os beneficiados terão até 12 meses de carência antes de começar a pagar o empréstimo, que poderá ser quitado em até 60 vezes sem juros.

A medida foi proposta pelo Poder Executivo, através do Projeto de Lei 5.430/22, e aprovada em regime de urgência na Alerj nesta quinta-feira (17), sendo imediatamente sancionada e publicada em DO já nesta sexta (18). A linha de crédito será concedida pela Agerio – Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro, com recursos do Fundo de Recuperação Econômica dos Municípios Fluminenses (FREMF). De acordo com a Lei Orçamentária de 2022, há mais de R$ 232 milhões a ser destinados ao fundo este ano.

Nos 10 anos da tragédia de 2011, promessa de R$ 500 milhões

Em janeiro de 2011 deslizamentos e enchentes na Região Serrana do Rio de Janeiro deixaram 918 mortos, sendo 451 em Nova Friburgo, 392 em Teresópolis, 71 em Petrópolis e 22 em Sumidouro. Duas mortes foram registradas em São José do Vale do Rio Preto e outras duas em Bom Jardim. A maioria dos desaparecidos (74) morava em Teresópolis. Pelo menos 99 vítimas seguem desaparecidas até hoje.

Foi a maior catástrofe climática do Brasil, de acordo com os dados do Ministério Público. Classificado pela ONU como o oitavo maior deslizamento ocorrido no mundo nos últimos 100 anos, o desastre foi comparado, por sua dimensão e danos, a outras grandes catástrofes, como a que devastou a região de Blumenau-Itajaí, em Santa Catarina, em 2008, e a provocada pelo furacão Katrina, que destruiu a cidade de Nova Orleans, nos Estados Unidos, em 2005.

Na noite de 11 de janeiro de 2011, em apenas três horas, o volume de água ultrapassou a expectativa para todo o mês na região. Riachos viraram ondas avassaladoras e deslizamentos atingiram áreas urbanas e rurais como avalanches. A chuva torrencial também levou destruição a Bom Jardim, Sumidouro, São José do Vale do Rio Preto e Areal.

Aproximadamente 35 mil pessoas perderam suas casas ou tiveram que sair por conta do risco de desabamento. As casas que não desabaram foram interditadas, mas muitas famílias voltaram a ocupá-las. Em janeiro de 2021, dez anos após a tragédia, ainda havia pelo menos 86 mil pessoas vivendo em áreas de risco.

Nos três municípios mais devastados, ainda existiam imóveis interditados desde aquela época, desabrigados recebendo Aluguel Social e à espera de casas prometidas e obras que nunca foram concluídas. O Governo do Estado prometeu investir mais de R$ 500 milhões em contenções de encostas, limpeza de rios e obras de infraestrutura em Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis e Areal.

Fontes: Alerj e Exame (atualizado em 18/02/22, às 10h)

 

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