Condição genética causada pela presença de um cromossomo 21 extra, que ocorre  em aproximadamente um em cada 700 nascimentos, a síndrome de Down é repleta de mitos e tabus que precisam ser desconstruídos para melhor acolhimento dos pacientes e seus familiares. O Dia Mundial da síndrome de Down (21 de março) destaca a importância do acolhimento e do acesso à informação para famílias de pessoas com a condição.

A médica pediatra e nutróloga Renata Aniceto, mãe de Laura, de 20 anos, que tem síndrome de Down, vivenciou de perto os desafios enfrentados por pais e cuidadores.

O preconceito impõe barreiras desde cedo, afetando a forma como enxergamos e acolhemos as diferenças. Todos queremos o melhor para nossos filhos: que sejam saudáveis, realizados e felizes. No entanto, quando a vida nos presenteia com uma criança que foge do ”script’ que imaginávamos, precisamos ressignificar esses obstáculos de dentro de casa, para fora”, destaca.

Para ela, o ambiente familiar é essencial: “As famílias têm um papel fundamental nesse processo. Muitas vezes, esperam que a inclusão venha de fora, sem perceber que são elas as principais impulsionadoras desse desenvolvimento, A criança se desenvolve em casa, no dia a dia, e não apenas dentro da terapia”, ressalta.

Comunidade desmistifica conceitos equivocados das próprias famílias

Combinando sua experiência pessoal com sua especialização em síndrome de Down, Renata criou a Comunidade Tribo 21, um espaço online que amplia o acesso a conhecimento qualificado e promove a troca de experiências entre famílias atípicas. Com uma abordagem que une conhecimento médico e a vivência de uma mãe, a iniciativa busca desmistificar conceitos equivocados e auxiliar as famílias na construção de um caminho mais informado e acolhedor.

O espaço online amplia o acesso a conhecimento qualificado e promove a troca de experiências entre famílias atípicas. A médica também ressalta que grande parte das informações sobre T21 é compartilhada em grupos de WhatsApp entre famílias, onde frequentemente circulam ideias equivocadas e estigmas sem embasamento científico.

Isso pode não só prejudicar o desenvolvimento das crianças com Síndrome de Down, mas também reforçar preconceitos e perpetuar a desinformação sobre essa realidade”, alerta.

A plataforma surgiu a partir da constatação de que, mesmo duas décadas após o nascimento de sua filha, a informação sobre T21 ainda é escassa e, muitas vezes, restrita a grupos informais.

Quando minha filha nasceu, o acesso a profissionais especializados era limitado. Hoje, mesmo com os avanços na comunicação, muitas famílias ainda encontram dificuldades para obter informações confiáveis e atualizadas”, afirma Renata.

Pediatra esclarece 9 mitos e verdades sobre a síndrome de Down

Para desmistificar o tema no mês em que a condição é lembrada, a pediatra Maria Aparecida Figueiredo Aranha, que faz parte do Núcleo de Apoio à Criança com síndrome de Down do Sabará Hospital Infantil, esclarece as nove principais dúvidas. Confira!

1. Crianças com síndrome de Down podem estudar junto com outras crianças em escola regular
Verdade: Podem e devem! De acordo com o último Censo Escolar da Educação Básicade 2023, o número geral de crianças com deficiência incluídas em turmas regulares atingiu 91% na educação básica em comparação com 79% em 2014.
Dos alunos matriculados na educação especial do ensino básico, 53,7% têm deficiência intelectual, incluindo os que possuem síndrome de Down Isso aponta o aumento no reconhecimento do direito à educação para alunos com deficiência e reafirma a importância de inclusão dessas crianças na sociedade e no ambiente escolar.
2. Crianças com síndrome de Down não podem ler nem escrever.
Mito: A maioria das crianças com Down consegue ler e escrever. Entretanto, precisam de adaptações curriculares e atendimento individualizado para aprendizagem.
3. Crianças com síndrome de Down tendem a adoecer mais.
Verdade: Devido à baixa resistência imunológica, principalmente nos primeiros anos de vida, elas estão mais suscetíveis a infecções, principalmente no sistema respiratório e digestivo. Mas, com acompanhamento de uma equipe multidisciplinar essa tendência tende a diminuir com o tempo
4. Os bebês com essa condição não podem realizar atividades de outras crianças na mesma idade.
Mito: Crianças com síndrome de Down geralmente podem fazer a maioria das atividades que qualquer outra criança faz: andar, falar, brincar, se vestir, usar o banheiro. A única diferença é que talvez leve um pouco mais de tempo para desenvolver essas habilidades de maneira autônoma.
5. Todas as crianças que nascem de mães acima dos 40 anos terão síndrome de Down.
Depende: É verdade que mulheres que têm filhos após os 35 têm de mais chance de ter um bebê nessa condição. No entanto, segundo dados do Centro de Controle de Doenças e Prevenção dos EUA (CDC), mostram que 80% dos bebês com Down nasceram de mulheres com menos de 35 anos, porque há, naturalmente, mais nascimentos entre as mais jovens.
6. Pessoas com Down morrem jovens.
Mito: A expectativa de vida depende do acesso ao sistema de saúde e ao acompanhamento clínico multidisciplinar que o bebê recebe desde seu nascimento.  De acordo com o estudo “The four ages of Down Syndrome”, nas duas últimas gerações, a expectativa de vida subiu de 12 para 60 anos.
7. Quem tem síndrome de Down pode praticar esporte.
Verdade:  A prática deatividade física auxilia muito no bem-estar físico e emocional. Não existe uma mais indicada, o mais importante é ter sempre um acompanhamento do especialista.
8. Todas as pessoas com Down têm sobrepeso.
Mito: Nem todas. No entanto, estudos sugerem que a tireoide e o baixo metabolismo contribuem para a obesidade em pessoas com a síndrome. Por esse motivo, o acompanhamento com endocrinologista e nutricionista é muito importante.
9. Todas as crianças com síndrome de Down são cardiopatas.
Mito: Cerca de 50% das crianças apresentam algum tipo de cardiopatia congênita, sendo que destas, a metade delas têm indicação cirúrgica até os três anos de idade.

Núcleo de Apoio à Criança com síndrome de Down

O Dia Mundial da síndrome de Down também tem como objetivo conscientizar a implementação de políticas públicas voltadas às pessoas com esta condição e promover a realização e divulgação de eventos que valorizem a sua inclusão na sociedade.
Com o intuito de oferecer um atendimento multiprofissional e completo, o Sabará Hospital Infantil acaba de inaugurar o Núcleo de Apoio à Criança com síndrome de Down. A coordenadora Renata Zampol, gerente médica de Unidade de Internação e Retaguarda de Especialistas, explica.
Nosso objetivo é oferecer um atendimento integrado com uma equipe multidisciplinar, seguro e eficaz criando um vínculo na jornada do paciente, proporcionando desenvolvimento das crianças com essa condição”.

Comunidade apoia famílias atípicas

Tribo 21 já conta com mais de 40 usuários e leva informação qualificada sobre síndrome de Down para todo o Brasil

Criada em 2022, a Comunidade Tribo 21 funciona como um espaço de orientação e apoio para famílias de pessoas com síndrome de Down, oferecendo conteúdo cientificamente embasado e relatos de quem vivencia a condição no dia a dia.

Atualmente, a plataforma disponibiliza mais de 80 vídeos educacionais sobre diferentes aspectos do desenvolvimento, além de encontros mensais ao vivo com a especialista. Mais do que um espaço de acolhimento, a iniciativa incentiva as famílias a se tornarem protagonistas no desenvolvimento de suas crianças

A atuação online permite que a iniciativa alcance famílias em diferentes regiões do país, incluindo locais onde há escassez de profissionais, exames e terapias especializadas.  Segundo Renata, cerca de 40% dos atendimentos realizados por ela são feitos remotamente. “A telemedicina ampliou o acesso à orientação, mas a informação organizada e de qualidade ainda é um desafio”, explica.

Além de apoiar famílias, a Tribo 21 se tornou um espaço de aprendizado para médicos pediatras e terapeutas que desejam se aprofundar no atendimento a pessoas com síndrome de Down. Profissionais de diversas áreas ingressam na comunidade para acompanhar as discussões e aprender com a experiência e o conhecimento da Dra. Renata, contribuindo para a ampliação da rede de suporte especializado no país.

Com Assessorias

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