Aqui em casa é uma luta todo dia na hora de dormir. Se fico até tarde no computador atualizando o blog, a Clarinha não dorme. Na verdade, ela quer “me botar pra dormir” para só então descansar. Uma inversão completa de papeis que lutamos para modificar. Mas só quem convive com crianças e adolescentes sabe o quanto o sono deles pode ser peculiar. Este é o tema da segunda da matéria da série sobre Sono, que Vida & Ação traz esta semana, para marcar o Dia Mundial do Sono (16 de março).
Um estudo feito pela Universidade de Queensland, na Austrália, acompanhou 2.900 crianças, entre 0 e 5 anos, e constatou: crianças sem rotina para dormir têm maiores chances de apresentar déficit de atenção e dificuldades de aprendizado. Noites mal dormidas podem ainda gerar sintomas como irritabilidade, agitação, dificuldades para ganhar peso e até alterações orofaciais.
No entanto, é importante que os pais saibam: o sono das crianças não é igual ao dos adultos. Em média, as crianças precisam de 14 horas de sono por dia, enquanto os adultos apresentam uma necessidade de apenas 7 horas. “Existem diferenças significativas entre ambos. Crianças e bebês são programados biologicamente para ficar mais tempo no sono leve. Por isso, é mais fácil que elas despertem mais vezes à noite. Além disso, é no período noturno que se produzem os hormônios do crescimento”, afirma o otorrinolaringologista do Hospital Cema e membro da Internacional Sleep Surgery Society, Emerson Thomazi.
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Realmente não são poucos os casos de noites mal dormidas e muito choro durante a infância, o que pode se estender também na adolescência. Muitos pais ficam aflitos sem saber se é normal ou não que os filhos durmam tão mal. Alguns recorrem a métodos de treinamento como forma de vencer a batalha. Para especialistas, a rotina é a palavra que define o sucesso ou fracasso na hora de “ensinar” as crianças a dormirem bem. Hoje já se sabe que a falta dela pode ser prejudicial à qualidade do sono.
Para o especialista, esses “treinos” podem ser bem úteis. “As crianças recebem muitas informações novas todos os dias, e estão expostas à tecnologia desde cedo. Por isso a rotina de dormir, seja ela praticada inconscientemente ou por treinamentos é importante para a manutenção da qualidade de sono”, explica.
Dicas para disciplinar o horário de dormir
Mas como ajudar as crianças a dormirem melhor? Segundo Thomazi, o mais importante é criar uma rotina de horários para a criança dormir e acordar, pois isso ajuda o organismo a se acostumar e adormecer mais facilmente. “Também é essencial reduzir estímulos visuais à noite, como TV, celulares e tablets, pois é a diminuição da luminosidade que faz o corpo produzir melatonina, o hormônio do sono”. Até a alimentação entra nessa conta: refeições pesadas, de difícil digestão, em grande quantidade e próximas ao horário de dormir podem atrapalhar a hora do descanso.
A decisão de “ensinar” as crianças a dormir é algo que vai ser útil para elas a vida toda. “Dormir bem é extremamente importante em qualquer fase da vida. Distúrbios no sono podem esconder desde problemas psicológicos até doenças orgânicas graves”, detalha o médico do CEMA. Embora cada pessoa tenha um tempo de sono ideal, incluindo as crianças, é importante ficar de olho em possíveis alterações e procurar ajuda de um especialista, se necessário. E para acalmar os pais aflitos, a dica do especialista é apenas estender a educação praticada durante o dia para a noite também. “Impor limites para a criança ainda é o melhor tratamento”, resume.
Fonte: Hospital Cema, com Redação