O estado civil vai além de questões de relacionamento ou convenções sociais – ele pode ter impacto significativo no bem-estar mental. No Brasil, são 81 milhões de solteiros e 63 milhões de casados, de acordo com o último levantamento divulgado em 2023 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Muito se fala sobre as vantagens de estar solteiro, especialmente com a chegada do Dia do Solteiro, celebrado em 15 de agosto, caindo convenientemente numa sexta-feira. No entanto, um estudo conduzido pela Telavita, empresa pioneira em soluções digitais de psicologia e psiquiatria no Brasil, revela um alerta importante: 1 em cada 5 solteiros apresenta sintomas de depressão muito grave, enquanto pessoas casadas demonstram os melhores índices de equilíbrio emocional.

A pesquisa utilizou o questionário DASS-21 (Depression, Anxiety and Stress Scale), instrumento internacionalmente validado para medir níveis de depressão, ansiedade e estresse, e separou os pacientes em 4 estados: Casado(a) ou coabitando, namorando (sem coabitação), Separado(a)/Divorciado(a) ou viúvo(a), Solteiro(a).

Em relação à ansiedade, 62% dos casados relataram níveis dentro da normalidade, ao passo que apenas 48% dos solteiros apresentaram os mesmos níveis. Já no quesito estresse, o cenário também é mais crítico entre os solteiros: 44% relataram níveis moderados, graves e muito graves, comparado com apenas 26% dos casados.

Outro dado relevante mostra que pessoas sem filhos relataram mais sofrimento emocional em todas as dimensões avaliadas (depressão, ansiedade e estresse), indicando que a presença de crianças, por mais que aumentem as demandas, pode funcionar como um elemento de vínculo emocional e senso de propósito.

Solteiros têm até 80% mais risco de depressão do que casados

Uma pesquisa recente, publicada pela revista Nature Science Behaviour, destacou essa influência ao revelar que pessoas sem um relacionamento formal têm até 80% mais chance de desenvolver depressão do que casados.

A pesquisa analisou dados de cerca de 106 mil pessoas de diferentes países, como Estados Unidos, Reino Unido, México, Irlanda, Coreia do Sul, China e Indonésia. Dentre os participantes, aproximadamente 4.486 apresentaram sintomas de depressão, e ao cruzar esses dados com o estado civil dos entrevistados, observou-se que os solteiros, divorciados ou viúvos tinham taxas de depressão significativamente mais altas.

O levantamento mostra que pessoas divorciadas ou separadas enfrentam um risco de depressão 99% maior que casados, praticamente o dobro, sugerindo que o fim de um relacionamento formal pode deixar essas pessoas mais vulneráveis emocionalmente. No entanto, a pesquisa também alerta que fatores como a ausência de apoio emocional, menor segurança financeira e outros fatores sociais podem contribuir para esse aumento de risco.

O estudo é preliminar e os especialistas indicam a necessidade de investigações adicionais para confirmar uma correlação robusta entre estado civil e transtornos mentais. “É importante interpretar essa pesquisa como uma avaliação sintomática da sociedade, que evidencia os efeitos subjetivos das construções sociais em cada pessoa”, observa a psicóloga Lara Nepomuceno.

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Para s psicóloga Lara Nepomuceno, é importante lembrar que a saúde mental é uma soma de fatores, que envolvem todas as áreas da vida de uma pessoa. o casamento é um desejo compartilhado por muitas pessoas e é comum fazer a associação entre casar-se e ser feliz, o que expressa os sintomas de viver na sociedade na qual vivemos, que promove a ideia de que ao realizar o desejo, finalmente será “feliz para sempre” desde a infância.

 

Portanto, a psicóloga reforça que estar solteiro não é sinônimo de infelicidade ou de saúde mental fragilizada, mas que a supervalorização do casamento como algo mais importante do que as outras relações pode ser adoecedor. “Somos seres sociais e manter relações de qualidade, sejam românticas, amizades, familiares, e até mesmo as profissionais, que nos permitam ser quem somos, compartilhar problemas e conquistas, faz diferença na nossa saúde mental”, afirma a psicóloga. Para ela, solteiros podem desfrutar de uma vida plena e satisfatória desde que cultivem relações significativas e estejam bem consigo mesmos.

Para não ficar refém do status civil, a psicóloga recomenda que as pessoas evitem associar a felicidade ou o sucesso apenas a uma vida a dois. “Cultivar autoestima, aprofundar o autoconhecimento e valorizar as próprias conquistas são essenciais”, aponta. Investir em hobbies, atividades de lazer e objetivos profissionais também são formas de viver com propósito e autossuficiência. Assim, a vida se torna equilibrada, e qualquer relacionamento é uma escolha, não uma necessidade.

Celebrar a si mesmo e reencontrar o amor

Para Aline Silva, psicóloga e diretora clínica da Telavita, os dados reforçam a importância dos vínculos humanos para o bem-estar emocional.

A ausência de vínculos afetivos duradouros pode aumentar a vulnerabilidade emocional, especialmente em momentos de solidão não escolhida. O amor não é um remédio, mas relações saudáveis funcionam como fator de proteção para a saúde mental”, explica a especialista.

Segundo ela, o Dia do Solteiro é um convite para valorizar a liberdade, o autoconhecimento e a autonomia afetiva — não apenas uma data para lamentar a solteirice, mas sim para refletir sobre ela e reaprender a se amar, primeiro. Para a psicóloga, os dados também trazem uma reflexão crítica sobre o por que a felicidade ainda está tão associada à presença de um par ou de filhos.

Vivemos em uma época em que se valoriza a independência emocional, o autocuidado e as relações mais conscientes. Ainda assim, culturalmente, parece desafiador reconhecer a felicidade como algo possível na solitude”, pondera.

A especialista traz ainda uma reflexão importante. “Será que continuamos presos a expectativas sociais que reforçam esse modelo tradicional de realização? Talvez estejamos apenas começando a amadurecer outras formas de viver — e ser feliz — que não dependem exclusivamente da companhia de alguém ou da parentalidade”.

Dia do Solteiro: a origem da data

Apesar de no Brasil o Dia do Solteiro ser celebrado em 15 de agosto, no restante do mundo a data da comemoração é outra, 11 de novembro. A origem da data comemorativa remete ao início dos anos 1990, quando universitários chineses na cidade de Nanjing, resolveram instituir um dia no ano para celebrar a solteirice como algo positivo, fazendo festas entre os solteiros e solteiras.

O que começou como uma brincadeira virou tradição em muitos países e em muitas partes do mundo o 11 de novembro passou a ser referência para quem está só ou vive só por opção. No Brasil, porém, não se sabe ao certo o motivo do Dia do Solteiro ser celebrado em outra data.

Especula-se que por aqui a data tenha sido criada após uma ampla campanha comercial promovida por uma grande plataforma de vendas onlines, com o intuito de estimular compras por parte desse público dos solteiros.

Com Assessorias

 

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