Até o século passado, casar-se era o único destino aceitável para a maioria das pessoas, sobretudo, as mulheres. Tanto que aquelas que não se casavam eram pejorativamente taxadas de solteironas, que ficaram para “titias”. Hoje, são novos tempos e casar não é mais sinônimo de felicidade, realização ou sucesso na vida.
O Dia dos Solteiros, comemorado nesta quinta-feira (15 de agosto), traz à tona a velha discussão sobre o ditado popular ‘antes só do que mal acompanhado’.  A afirmação está na ponta da língua de boa parte das pessoas que fazem parte de um contingente que cresce cada vez mais no Brasil: o time dos solteiros convictos.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, há 81 milhões de solteiros e 63 milhões de casados no Brasil.  De acordo com o Censo de 2000, aproximadamente um terço (38,5%) da população eram solteiras e os casados representavam 49,5%.
Não à toa a data vem ganhando cada vez mais destaque no calendário e celebra a individualidade e a liberdade de quem está sem um parceiro. Dados mais recentes do IBGE apontam que o número de pessoas solteiras tem aumentado de forma constante. Estima-se que mais de 50% da população adulta brasileira está solteira, seja por opção, por questões pessoais ou por outros motivos.

Entre as faixas etárias mais representativas de pessoas solteiras no Brasil, estão os  jovens, entre 20 e 34 anos, priorizando a formação profissional e a construção de suas carreiras antes de se comprometerem com um relacionamento sério. Seguidos pelos idosos, devido à maior expectativa de vida, a maior taxa de divórcios e a menor pressão social para se casar após a morte do cônjuge. A faixa etária entre 35 e 49 anos também apresenta um número significativo de solteiros, com muitas pessoas optando por viver relações mais flexíveis e sem rótulos.

Mudanças sociais

Essa tendência é global, mas no Brasil, fatores culturais, sociais e econômicos contribuem para essa mudança. As projeções indicam que o número de solteiros continuará crescendo nos próximos anos, impulsionado por fatores como a maior independência financeira das mulheres, a busca por realizações pessoais e a mudança nos valores relacionados ao casamento.

Para a psicóloga Bárbara Couto, especialista em Relacionamentos, as mudanças sociais ao longo do tempo têm um papel bastante importante no modo como as pessoas veem o estar solteiro e o casamento.
Hoje, há mais aceitação de diferentes estilos de vida, diferentes tipos de família, valorizando o ser humano do jeito que ele é, não o diminuindo pelo seu estado civil. O casamento deixou de ser uma urgência e não determina mais o valor das pessoas. Pode-se ter a liberdade de escolher o que é melhor para a vida, seja seguir solteiro, casar ou adotar outros tipos de relacionamento que faz sentido para cada um. E é isso o mais importante”, diz a psicóloga.
Para ela, estar solteiro hoje é uma escolha consciente da maioria. “Passamos a entender que o objeto da vida humana não é apenas construir uma família, que é possível ter uma vida que faça sentido e ser feliz mesmo solteiros. A nossa sociedade entendeu que a é possível encontrar sentido de vida no trabalho, viajando ou no nosso próprio desenvolvimento”, explica.

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Solidão x solitude

De fato, casar não é mais sinônimo de felicidade e realização. E estar solteiro não é o mesmo de sentir-se só. E é aí que entra o novo conceito de solitude, que tem sido cada vez mais empregado, em contraponto à solidão.  Na solitude, a pessoa entende que que estar sozinho pode ser uma experiência positiva, quando se sente completa na própria companhia.
Estar na solitude é entender que somos nós mesmos os responsáveis por nos sentirmos bem. Já a solidão é experimentada quando se procura a felicidade em outra pessoa, quando se sente desconfortável por não estar conectada com ninguém ou sozinho”, explica Bárbara.
Há pesquisas que demonstram que quando se está em um relacionamento saudável, há melhoras na saúde emocional, mas essa não é a realidade de todos.
Quando se vive uma relação abusiva, tóxica, a pessoa fica constantemente em estado de alerta e corre risco de desenvolver estresse, ansiedade, depressão e outros transtornos. Nesse sentido, quando se está solteiro é muito mais fácil priorizar a saúde mental, porque estando mal acompanhado, esse companheiro simplesmente não vai deixar a pessoa olhar para as próprias necessidades”, acredita a psicóloga.

Estar casada não é mais objetivo para as mulheres

Com o avanço social e do feminismo, não só os homens, mas também as mulheres passaram a ter mais liberdade para decidirem se casar seria o principal foco e objetivo de suas vidas.
A jornalista e assessora de imprensa Deivianne Jhasper se separou em abril deste ano. Com duas filhas, de oito anos e um ano e quatro meses, Deivianne não abre mão de seus momentos, quando as crianças vão para casa do pai e da avó, uma vez por semana. Ela aproveita para tomar um vinho, assistir a um filme, sair com amigos, ter um tempo para ela fazer coisas que lhe satisfaçam.
Nesses momentos, eu reflito sobre minha vida, penso mais em mim ou saio com amigos. Precisamos também ter autoestima elevada, fazer planos para a vida e, consequentemente, para a família. Quando estamos bem conosco, aproveitando o melhor da vida, com saúde emocional em dia, há muitos benefícios para a educação dos filhos, leva ndo de forma mais leve, com menos cobranças também”, disse a jornalista.

Homens também não ligam de ser chamados de ‘solteirões’

O jornalista Paulo Novais, de 35 anos, está solteiro por opção. Ele, que não tem filhos, diz amar a vida de solteiro, a liberdade de fazer o que quiser na hora que quiser.
Sou uma pessoa super bem resolvida e entendo que ser feliz independe de um relacionamento amoroso. Sentir-se só é algo tão subjetivo.  Até porque podemos sentir-nos sozinhos sentados à mesa e estando rodeado de pessoas”, reflete.
Ele ainda lembra a solidão dos casais modernos, hoje separados por seus dispositivos móveis, embora próximos fisicamente.
Hoje se tornou comum ver pessoas sentadas à mesa cada uma isolada no seu smartphone sem a menor interação com quem está ao seu lado e ou sua frente. Quantos casais em que um dos parceiros não se queixa de se sentir só? Entendo que para se dar ao outro é necessário aprender primeiro a conviver consigo mesmo e isso só se faz estando só, se conhecendo”, relata Paulo.
A psicóloga Bárbara Couto concorda com Paulo que, quando se está solteiro, é um bom momento para se descobrir e se autoconhecer. Quando não se tem outra pessoa como foco e para dividir a vida, passa-se a buscar essa vida em si mesmo.
O autoconhecimento vai surgir nessa reflexão da solteirice, entendendo melhor as próprias necessidades, desejos e limites. Quando se tem esse conhecimento, a pessoa aprende sobre seu valor, o que merece e o que se espera. Aprende a preencher as próprias necessidades, sem precisar de alguém para tampar buracos emocionais”, explica Bárbara.

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Uma celebração ao amor próprio e à abundância de amor sem um par romântico

Enquanto o Dia dos Namorados é amplamente celebrado com declarações de amor e presentes, o Dia dos Solteiros  ganha cada vez mais força como uma data para reconhecer e valorizar os amores que também estão presentes numa vida sem par.  A ocasião é um convite para que aqueles que estão sem um parceiro romântico possam celebrar não só suas escolhas, sua liberdade e possibilidade de mergulhar no autoconhecimento como também para comemorar os muitos amores presentes nessa vida. O convite é que se celebre a potência do amor dos amigos, familiares, vínculos nos ambientes de trabalho e nos estudos.

Segundo a psicanalista e especialista em relacionamentos, Carol Tilkian, é importante celebrar o dia dos solteiros para tirar o estigma de que estar sozinho é um fracasso social. “Há muito amor numa vida sem namorado, mas para isso precisamos tirar o par romântico da ‘série A’ do amor e tratar todos os outros amores como coadjuvantes. Celebrar o dia dos solteiros é uma oportunidade de se reconectar consigo mesmo e com pessoas que te amam e te valorizam de maneira consistente”.

Essa é uma chance de aprofundar o autoconhecimento, entender suas próprias necessidades e desejos, e buscar realizações que não dependam da validação externa. É um momento de fortalecer práticas de autocuidado e também de reforçar os laços com amigos e familiares que nutrem amores muitas vezes mais saudáveis do que muitos namoros e casamentos.

No Dia dos Solteiros deveríamos celebrar o espaço que damos para quem nos coloca pra cima, compartilha vulnerabilidades, topa viagens e também de se dar ao luxo de fazer o que se tem vontade”, afirma.

Para muitos, a solteirice ainda é vista como um período transitório, um intervalo até encontrar um novo relacionamento. No entanto, a psicanalista ressalta que é importante enxergar esse estado civil como uma fase que pode ser tão plena e significativa quanto qualquer outra e relembra que, segundo um estudo sobre longevidade, o fator determinante de uma velhice saudável é a qualidade das relações.

Um dos resultados do estudo é o destaque de que as relações que contribuem positivamente para a vida das pessoas são as amizades e não as relações românticas ou familiares. “Ter bons amigos é o que te garantirá uma vida longa, saudável e feliz. Esse é um amor subestimado e que pode ser celebrado no dia dos solteiros”, ressalta.

Além disso, Carol Tilkian destaca que o dia pode ser um bom momento para desconstruir preconceitos para quem não está em um relacionamento. “Há uma pressão social que faz com que muitas pessoas sintam a necessidade de estar em um relacionamento para se sentirem completas. A data pode ser uma oportunidade para refletir sobre essas pressões e entender que a felicidade e a realização não estão necessariamente atreladas ao estado civil”, comenta.

Com Assessorias

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