Se aquela clássica imagem da “família de comercial de margarina” é a ideia que você ainda tem do que seja a família brasileira, é melhor fazer um upgrade urgente nesse seu conceito, que pode estar, no mínimo, ultrapassado. Aliás, definir um perfil exato dos agrupamentos familiares no Brasil é uma tarefa pra lá de difícil. Afinal, tal como o nosso povo, nossas famílias também são ricamente diversas.

Mas uma coisa podemos afirmar com certeza sobre as famílias brasileiras: elas estão encolhendo. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano 2000, na virada do século, o número médio de membros por família era de 3,7; já em 2022, ano do último Censo do IBGE, esse índice caiu para 2,8 pessoas.

Dados do último Censo do IBGE, divulgados em 2023, apontam que 81 milhões de brasileiros se declaram oficialmente nesta condição. O número é bem maior dos que se declaram casados, que é de 63 milhões de pessoas. E vem engrossando com o aumento dos divórcios:  só em 2023 a quantidade de registro se separações aumentou quase 5% (4,9%) nos cartórios.na comparação com o ano anterior.

Muitos desses solteiros vivem sozinhos. Segundo o último censo, aumentaram o número das chamadas famílias unipessoais. Em 2010, o número de residências com apenas um morador era de 12,2%; em 2022, esse percentual saltou para 16%, ou seja, quase 12 milhões de brasileiros que vivem sós.

Essas famílias mais compactas são reflexo de várias mudanças comportamentais e econômicas ao longo das últimas décadas, como a diminuição da taxa de natalidade no país, a maior presença das mulheres no mercado de trabalho e o fato de elas serem, pela primeira vez, a maioria dos chefes de lares no Brasil — 51%, segundo dados do último Censo.

Novas configurações familiares, como casais sem filhos, lares liderados por mães solo, casais homoafetivos (com ou sem filhos) ou a família unipessoal (arranjo familiar formado por apenas uma única pessoa), há tempos já impactam alguns segmentos econômicos, como, por exemplo, o mercado imobiliário.

Viver sozinho(a) – por conveniência, opção ou contingências da vida moderna – tem impacto em muitas áreas, como na indústria de serviços de entretenimento, de viagens e também no mercado imobiliário, que nos últimos anos tem desenvolvido produtos específicos para esse público single.

Embora os imóveis residenciais de dois e três quartos ainda sejam as tipologias mais procuradas, nos últimos anos tem-se registrado uma crescente demanda por moradias compactas que, ao mesmo tempo, sejam bem localizadas, com alto padrão construtivo e inseridas em empreendimentos modernos com muitas opções de lazer e convivência.

Mercado imobiliário cria soluções para os novos solteiros

Mais do que  uma condição social momentânea, viver só é encarado por muita gente como uma opção de vida.  De olho nesse público single, o mercado imobiliário lança produtos para quem quer um pouco menos de espaço, mas não abre mão do luxo e da comodidade

De acordo com Ricardo Teixeira, especialista imobiliário com 34 anos de mercado, a demanda por imóveis compactos ou de apenas um dormitório, apesar de não representar a maior parte no conjunto de operações do mercado financeiro, ela sempre existiu e continuará existindo, inclusive com uma tendência de crescimento nos próximos anos.

Há um estudo da consultoria Euromonitor Internacional, que aponta que o número de pessoas no mundo vivendo só deva aumentar em 20% até 2040. Isso muito em virtude de novas opções de estilo de vida, avanço das tecnologias que traz mais automais para pessoas, pessoas essas que não necessariamente se sentem só, mas preferem morar sozinhas”, avalia Ricardo.

De acordo o especialista imobiliário, que é sócio-diretor da Urbs, um dos maiores grupos imobiliários do Centro-Oeste, além de atender aquele público que tem a solteirice como uma opção de vida, a oferta de imóveis compactos, em especial os compactos de luxo, deve crescer para atender a demandas específicas de moradia, que tem a ver com questões profissionais, de saúde, novos formatos de famílias e mudança do status conjugal das pessoas.

Além dos solteiros por convicção, percebemos que imóveis mais compactos, especialmente os de alto padrão, vêm para atender a demandas como estádia de executivos em outras cidades, casais sem filhos , turismo hospitalar, moradia de estudantes universitário e até hospedagem para grandes shows em Goiânia. Mas há uma demanda que também tem crescido bastante que é dos divorciados, que de certa maneira voltam a ser solteiros e com essa mudança de vida a pessoa precisa repensar o seu espaço”, concluir Ricardo Teixeira.

Solteiros estão em busca de maior comodidade

Segundo o especialista imobiliário, atento à essa demanda dos solteiros, o mercado imobiliário tem investido em projetos que buscam facilitar, e muito, a vida das pessoas que moram só ou que num determinado período precisaram estar só.

O que mais percebemos de mudança nesse segmento de imóveis voltado para o público single é a modernização dos produtos, com uma grande prioridade para as localizações nobres da cidade, onde é possível ter acesso a tudo que a pessoa precisa a poucos passos de casa. Porque quem opta por morar só, quer sobretudo comodidade, quer também ter o mesmo padrão de conforto e qualidade construtiva que se tem nos imóveis voltados para famílias maiores, por isso é grande a quantidade de lançamento dos chamados compactos de luxo”, afirma Ricardo.

Teixeira também avalia os imóveis compactos como um grande negócio para investidores, principalmente aqueles em regiões consideradas consolidadas ou nobres. “Pesquisas recentes realizadas em grandes capitais confirmam a tendência das pessoas em buscar morar próximo ao trabalho em regiões já consolidadas, nem que para isso reduza o tamanho da moradia”, afirma.

O diretor do Grupo Urbs explica que para atender às necessidades de moradia desses solteiros, seja por opção ou necessidade, as incorporadoras investem em projetos que num empreendimento residencial só unem comodidade, conveniência, segurança e equipamentos de lazer e bem-estar.

Hoje vemos com frequência modernos prédios residenciais que agregam espaços como lavanderia, minimercados, áreas para delivery, coworkings, áreas de lazer completas que valorizam a saúde trazendo itens como academias , piscina, com raia, paisagismo e até parque urbano”, descreve Ricardo.

Para o diretor do Grupo Urbs, quem mora só, não quer necessariamente morar numa kitinete ou num apartamento micro. “Essa pessoa quer na verdade um espaço justo e adequado para o seu dia a dia, por isso frequente pessoas que optam por viver só, adquirem imóveis de dois quartos, pois podem usar o quarto a mais para montar um home office, uma biblioteca ou mesmo um quarto de hóspedes para receber parentes a amigos de forma mais confortável”.

Ainda segundo ele, o fato de morarem só não quer dizer que abrem mão de interações e convivências. “Por isso temos muitos projetos de compactos de alto padrão que trazem espaços gourmet para eventos menores com amigos e um lobby semelhante a de um hotel, onde as pessoas possam conviver, as pessoas querem ver e serem vistas”, explica Ricardo Teixeira.

Demanda maior por imóveis de um quarto

Em Goiânia, por exemplo, segundo um estudo encomendado pela Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Estado de Goiás (Ademi-GO) à consultoria Brain Inteligência Estratégica, no segundo semestre de 2022 foram comercializadas 471 unidades de um quarto em prédios residenciais.

No segundo semestre de 2023, foram vendidos 529 apartamentos com um dormitório, aumento de 12%; e no  mesmo período em 2024 foram 885 apartamentos desta tipologia comercializados, crescimento de 67%.  Conforme dados da pesquisa Brain, em dois anos, a quantidade de apartamentos de um quarto lançados só em Goiânia mais do que dobrou — um aumento de 164% no período.

Especializada em condomínios verticais de alto e médio padrão, a Sim Incorporadora, uma empresa em Goiânia com mais de 20 anos de mercado, mesmo trabalhando na maioria dos seus projetos com a construção de apartamentos de metragens maiores, acima de 100 metros quadrados, nos últimos anos a incorporadora tem investido em produtos voltados para esse público single.

Com 15 anos de mercado imobiliário, Guido Santos, coordenador comercial da SIM Incorporadora, afirma que, quando presentes nos projetos, as unidades de um dormitório são as que vendem mais rapidamente.

A demanda por apartamentos compactos ela existe é vem crescendo. A gente percebe realmente uma velocidade maior de comercialização dessas unidades de um quarto, não só pelo valor, já que costumam ser as mais baratas, mas também porque há uma demanda contínua e crescente por imóveis dessa tipologia”, revela.

Demanda pelos imóveis mais compactos

De acordo com Guido Santos, junto com os grupos de jovens solteiros e casais sem filhos, os investidores imobiliários formam o perfil principal de compradores de apartamentos de um quarto. “Eles compram como investimento justamente para atender a essa demanda por compactos de alto padrão, que no mercado de locação oferecem enorme rentabilidade”, explica Guido.

Para o especialista, essa demanda por apartamentos compactos, em especial os de um quarto, sempre irá existir — não só pela tendência de agrupamentos familiares menores, mas também para atender à demanda de moradia de acordo com a fase da vida da pessoa.

A nossa vida, ao longo dos anos, passa por muitas mudanças. Quando jovem ou estudante, você busca mais liberdade, mais comodidade e menos espaço; então, a sua demanda por moradia é uma. Mas as relações, hoje em dia, também são muito dinâmicas”, analisa.

Ele cita como exemplo um casal com ou sem filhos que se vê, por exemplo, numa situação de separação, percebe que terá outra necessidade de moradia. “Já os casais maduros que, ao se verem sós num apartamento enorme comprado para os filhos que já cresceram e saíram de casa, percebem que preferem manter a boa localização que tinham, mas num apartamento um pouco menor, porém com igual qualidade e segurança”, afirma Guido Santos.

 

Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *