A sexualidade é uma parte importante da vida humana, mas ainda é um tabu em muitas camadas da sociedade. Isso é especialmente verdadeiro quando se trata de pessoas idosas. Muitas pessoas acreditam que os idosos não têm mais interesse em sexo ou que são incapazes de ter uma vida sexual ativa. Estes mitos podem levar a um impacto negativo, pois podem dificultar o acesso a informações e serviços de saúde sexual, inclusive em relação à prevenção e tratamento de HIV/Aids.

O Boletim Epidemiológico HIV/Aids do Ministério da Saúde, publicado em dezembro de 2022, reforça a tendência de subida nos casos entre idosos. Entre 2011 e 2021, houve 12.686 diagnósticos positivos para o HIV na faixa populacional a partir dos 60 anos. A participação relativa dos idosos na porcentagem total de novos casos também cresceu. Em 2011, 2,6% de todos os diagnósticos ocorreram no grupo com mais de 60 anos. Atualmente, eles representam 3,7% dos testes positivos para esse vírus.

O geriatra Milton Crenitte, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), reforça os cuidados que as pessoas idosas devem ter, mas, ao mesmo tempo, empoderando-as quando se trata de sexualidade. “Pessoas idosas têm e podem ter vida sexual ativa, sim. As pessoas idosas sexualmente ativas devem fazer exames de sorologia de seis em seis meses ou anualmente, dependendo do contexto de vida”, destaca.

O geriatra  afirma que o diagnóstico do HIV em pessoas idosas, na maioria dos casos, é feito tardiamente, o que dificulta e também encarece o tratamento da doença, reduzindo a expectativa de vida.

“Ao contrário do jovem, que a gente diagnostica, geralmente em centros de atenção primária, no idoso o diagnóstico é feito na atenção secundária ou terciária, ou seja, em hospitais mais especializados, e não no posto de saúde. Isso mostra que eles chegam em casos mais avançados e já é um diagnóstico mais tardio, quando as células de defesa já estão prejudicadas. Um diagnóstico tardio na pessoa idosa é um obstáculo para controlar as novas infecções, gera mais custos para o tratamento e mais mortalidade”, ressalta.

Luta contra a sorofobia, o preconceito contra quem tem HIV

O mês de dezembro é marcado pela campanha do Dezembro Vermelho, que visa conscientizar a população sobre a prevenção, o diagnóstico e o tratamento do HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Também busca combater o estigma e a discriminação associados a essas doenças.

Diante da nova realidade da doença no Brasil e no mundo, o geriatra pondera: “É importante entendermos que a gente tem que pensar nesses dados e, novamente, pensarmos em estigmas. A questão do HIV e das pessoas mais velhas acontece também pelo discernimento de risco. Porque muitas pessoas idosas não se veem como vulneráveis à infecção pelo HIV”, ressalta.

Dr. Milton nega que a doença seja um sinal de uma vida pouco longeva e luta para o fim do preconceito da doença, chamada de sorofobia.

“O HIV não é a doença do outro, é uma condição de todos nós. Todos nós podemos viver com HIV. E, se vivermos com HIV, queremos viver e ter longevidade. Essa é uma mensagem muito importante, pensando na longevidade, isto é, que o HIV não é mais uma sentença de morte. A sociedade presenciou essa transformação do HIV de uma condição fatal para uma condição crônica de saúde”.

Além disso, o geriatra reforça que as pessoas idosas, em assuntos ligados à sexualidade, não levam em conta a percepção de riscos e reitera que os idosos heterossexuais são os que mais possuem o HIV. “Ainda hoje há um certo pré-conceito de achar que só pessoas LGBTQIA+ são vulneráveis à infecção pelo HIV, porém, temos estatísticas mostrando que a maior parte da população que vive com HIV é heterossexual”, pontua.

Para o especialista, medidas preventivas e políticas públicas devem ser tomadas e desenvolvidas para uma melhor qualidade de vida das pessoas idosas:

“Nós, profissionais da saúde, também não vemos as pessoas idosas como vulneráveis à infecção pelo HIV. A gente não fala sobre políticas públicas, a gente não fala sobre prevenção. Então, é muito importante que a classe médica tenha esse olhar sobre vulnerabilidade para que se consiga pensar estratégias de prevenção”.

 

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