Na semana passada, a mãe de um adolescente que morreu de febre amarela em Teresópolis, mesmo após ter sido vacinado, fez um desabafo nas redes sociais, apelando para que a população não deixe de usar repelente, mesmo tendo sido vacinada contra a doença. O caso teria sido o primeiro no Estado do Rio de Janeiro, segundo a Secretaria estadual de Saúde. Nesta quinta-feira (1º de março), a Fiocruz realizará uma oficina sobre febre amarela para jornalistas, blogueiros e influenciadores digitais para tirar dúvidas e ajudar a impedir a onda de boatos que tem aterrorizado a população.
“No Brasil, entre as causas externas, a violência é o mais grave problema de saúde pública. São cerca de 150 mil mortes por ano por causas violentas, das quais 50 mil assassinatos. A preocupação com a febre amarela não vai substituir outros problemas de saúde que já existiam”, destacou Rivaldo Venâncio, coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, em recente evento realizado pelo órgão. Segundo ele, a Fiocruz é responsável por 80% das doses de vacina em todo o mundo desde a década de 30 e a vacina é confiável. Rivaldo atribui a onda de boatos à existência de “segmentos minoritários que resistem a fazer não só a vacina da febre amarela, mas também outras vacinas”. E reforçou: “A vacina salva vidas”.
Rivaldo explicou que boa parte da Região Sudeste, que não era área para recomendação da vacina, passou a adotá-la devido à aproximação do vírus da região, mais recentemente, as regiões centrais de São Paulo e Rio de Janeiro. Sobre o público-alvo da vacina, esclareceu que é recomendada para todas as pessoas acima de 9 meses de idade. Bebês entre 6 e 9 meses e inclusive gestantes, nas quais a vacina é contraindicada, podem ser vacinados após avaliação risco-benefício. Na pessoa vivendo com HIV/Aids deve-se ter avaliação clinica se está imunodeprimida. Se não tiver num processo de imunosupressão, a partir de avaliação clinica, pode tomar a vacina. Pessoas em tratamento de doença autoimune ou em uso de corticóides em baixas doses pode ter contraindicação definitiva ou temporária.
Rivaldo participou em meados de janeiro, junto com outros pesquisadores da Fiocruz, de uma live no Facebook para esclarecer informações sobre a doença e a vacina. Ricardo Lourenço, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do Instituto Oswaldo Cruz e André Siqueira, médico infectologista do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), também tiraram algumas dúvidas, especialmente sobre os boatos que têm circulado. ViDA & Ação levantou alguns deles. Veja:
1 – O própolis tem efeito imunizante e pode substituir a vacina da febre amarela?
Própolis é muito gostoso, mas que eu saiba não tem estudos indicando própolis para substituir a vacina da febre amarela. Rumores sem base científica (Rivaldo).
2 – Doenças como meningite, encefalapatia, sindrome de Guillain-Barret podem surgir como efeitos colaterais da vacina?
Estas síndromes podem ocorrer em diversas situações, geralmente como infecções sistêmicas,virais ou não, e decorrentes de vacina e não apenas a da febre amarela, mas que podem ocorrer, principalmente com outros tipos de vacina. São fenômenos raríssimos e não podem servir como argumento para a pessoa deixar de se vacinar. Quando olhamos a avaliação risco e benefício indiscutivelmente devemos todos nos vacinar.
3 – A vacinação em massa é porque o governo comprou muitos estoques?
Não procede. Aliás, não existe estoque disponível nessa quantidade que esses boatos estão gerando. Até porque uma boa parte da produção de vacinas feitas pela Fiocruz, por BioManguinhos, é repassada via OMS para outros países, em especial da África. Não é porque tem estoque sobrando e por isso está havendo a campanha. Tanto não procede que estamos fazendo a dose fracionada. Se estivesse sobrando tanta vacina assim, não seria necessário.
4 – Tem sido falado que não há risco de epidemia. O que fazer?
Depende da localidade onde a pessoa vive. A pessoa pode viver numa localidade onde não esteja ocorrendo a circulação do vírus neste momento, seja pela presença de macacos adoecendo ou pessoas com suspeita clínica da doença. Então, por isso, que essas localidades foram escolhidas (para receber a dose fracionada) pelas Secretarias estaduais de Saúde, em comum acordo com o Ministério da Saúde, que são aquelas áreas inicialmente identificadas como as mais suscetíveis à circulação do vírus neste momento. A primeira reflexão que se devem fazer é: ‘Moro ou não em área de risco?’ Eu vou ou não me deslocar para uma área sob risco? Eu vou ou ou não fazer uma viagem internacional para cujo destino é exigido o Cartão de Vacinação Internacional’. Vivendo numa região de risco, indiscutivelmnente, está recomendada a vacinação.
5 – Tenho receio de tomar a vacina porque ouvi falar que a vacina causa outras doenças…
Sobre os eventos adversos da vacina, vale a pena reforçar que são realmente raros, um a cada 250 mil doses. Como fração, isso é mínimo se comparando com doença que pode levar a óbito um a cada cinco ou a cada dez pessoas infectadas, ou até a uma fatalidade maior. Todos os tratamentos, atividades que a gente faz na vida, a gente pesa o risco e o benefício. Se o risco de a gente se vacinar está em ocorrer um evento adverso grave a cada 250 mil ou expor a risco que poderia estar protegido e pode levar a risco de 50% de óbito.
6 – Quais são os efeitos adversos e o que fazer?
Incômodo, moleza, febre baixa. Eventos mais graves ocorrem em, no máximo, 10 a 14 dias. Mas isso é extremamente raro. Pensando em alguma consequência da vacina, deve procurar o serviço de saúde e investigar. Se a pessoa tomou a vacina hoje, não pode circular numa área onde está morrendo macaco por febre amarela. Tem que aguardar pelo menos 10 dias para estar totalmente imunizado.
7 – Meu filho é alérgico a leite de vaca. Ele pode ser vacinado?
A alergia ao leite de vaca não é contraindicação para a vacina.
Confira na íntegra a nota ‘Fiocruz esclarece boato sobre mutações no vírus da febre amarela e ineficácia de vacina’
Fundação Oswaldo Cruz
Em relação às mensagens que têm circulado nas mídias sociais sobre mutações no vírus da febre amarela, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) esclarece que:
– No contexto da missão de investigar temas científicos relevantes para a saúde pública brasileira, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) realizou um estudo para acompanhar possíveis mudanças genéticas no vírus da febre amarela em circulação no país;
– Como resultado dessa análise, foram identificadas mutações no vírus. Esses resultados foram publicados em 2017;
– Não há qualquer impacto destas mutações para a eficácia da vacina;
– A própria comunicação realizada originalmente pela Fiocruz em 2017 já indicava textualmente que: “Sobre um possível impacto para a vacina disponível, os pesquisadores explicam que o imunizante adotado atualmente protege contra genótipos diferentes do vírus, incluindo o sul americano e o africano. Além disso, as alterações detectadas no estudo não afetam as proteínas do envelope do vírus, que são centrais para o funcionamento da vacina.”
Plantei uma árvore, escrevi um livro, tenho uma filha. Mãe de uma linda jovem, de pets e de plantas. Jornalista reinventante e equilibrista de pratinhos. Simplificando a vida, só vivendo. Carioca da 'clara', amo praia, roda de samba e torço pelo Vasco. Editora-chefe do @vidaeacao e diretora da @taocomunicacao. Fale comigo: rosayne@vidaeacao.com.br
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