Recentemente, um caso curioso levantou múltiplos debates acerca da saúde das relações hierárquicas nas organizações. Um dos líderes de uma empresa ameaçou demitir funcionários devido a um erro cometido em um dos processos internos, afirmando que não aceitaria correr riscos de prejudicar a empresa.

Não podemos afirmar o que motivou esse comportamento, mas, dentro desse cenário, podemos trazer à tona um debate interessante: o estresse enfrentado por colaboradores de diferentes níveis hierárquicos e como eles influenciam o seu relacionamento com todos os aspectos associados ao trabalho, desde a produtividade até os relacionamentos interpessoais.

Tatiana Pimenta é CEO da plataforma Vittude (Foto: Divulgação)

Todos sofrem com a pressão

Os líderes e os colaboradores de certa forma possuem o mesmo objetivo, certo? Ambos precisam gerar resultados positivos à empresa por meio de suas respectivas funções. No processo para atingi-los, eles são pressionados de distintas formas.

Algumas organizações acreditam que longas horas de trabalho, bem como incentivos nada positivos, equivalem a uma maior produtividade e qualidade na produção.

As equipes são encorajadas a trabalhar incessantemente sem que outros fatores que influenciam o seu trabalho sejam considerados – complexidade das demandas, recursos econômicos e humanos disponíveis, qualidade do ambiente de trabalho, instruções pertinentes, saúde mental, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, entre outros.

Da mesma forma, líderes de setores são pressionados a apresentar relatórios com bons resultados. Não é raro encontrar superiores que não aceitam imprevistos, não estão dispostos a resolver empecilhos para a execução de tarefas e se irritam com erros, descontando a frustração na liderança da empresa.

Líderes que precisam prestar contas a si mesmos, como CEOs, também sofrem com a pressão. Neste caso, ela pode vir de si mesmo, parceiros, investidores, clientes, consumidores, entre outros.

A influência da pressão no trabalho

A pressão vivenciada no ambiente do trabalho pode facilmente aumentar a carga de estresse. Assim, ele passa a interferir não somente na produção diária, mas na tomada de decisão, na resolução de problemas, no controle emocional e na saúde mental e física dos profissionais.

O estresse é um dos principais fatores problemáticos enfrentados pelas empresas hoje. De acordo com a pesquisa da ISMA-BR, representante brasileira da Associação Internacional de Administração do Estresse, 72% dos profissionais brasileiros sofrem de alguma sequela do estresse. O percentual de profissionais com Burnout é de 32%.

Líderes estressados podem tomar decisões incoerentes devido à exaustão mental e física. Estas, por sua vez, podem refletir e promover o possível abuso de poder relacionado à sua função na empresa.

Eles são capazes de determinar deadlines curtos, exagerar a necessidade de atingir determinados objetivos e exigir níveis de qualidade praticamente impossíveis de serem alcançados com os recursos disponíveis, pontuando que as consequências de não cumprimento serão graves.

Consequentemente, essas demandas deixam as equipes estressadas. Todos passam a temer os erros, sacrificar o tempo reservado para o descanso, entrar em conflitos com colegas com mais frequência e forçar seus limites emocionais e físicos para concluir tarefas. Sob essas circunstâncias, a probabilidade de sofrerem burnout é bem maior.

Além disso, colaboradores estressados são infelizes e tendem a encontrar outras oportunidades profissionais para fugir do ambiente desagradável. A empresa, então, pode sofrer impactos negativos do alto nível de turnover.

Como diminuir o estresse no trabalho?

O estresse dá origem a reações em cadeia que dificultam o trabalho e prejudicam a saúde mental dos profissionais. O mau humor e a indisposição transitam pelos departamentos, como se fossem contagiosos, perturbando a harmonia dos ambientes. Ambos os fatores podem até gerar crises financeiras, humanas ou de imagem, como o caso mencionado no início do texto.

Para evitar sofrer com os impactos negativos do estresse, as empresas devem desenvolver um programa voltado para os cuidados com a saúde mental dos profissionais. É essencial que o ambiente de trabalho seja agradável, flexível e cooperativo para que as tarefas sejam executadas com qualidade e o bem-estar dos colaboradores, independentemente da posição hierárquica, esteja garantido.

É crucial trabalhar com a capacitação de líderes para melhorar a sua relação com as equipes e, assim, incentivar a produtividade de maneira saudável e eficiente. Para isso, o melhor é pensar em como agir para, além de alcançar os resultados esperados, evitar impactos negativos no fator emocional dos times.

Líderes e liderados precisam se entender

Antes de tudo, é preciso incentivar a comunicação entre líderes e liderados, bem como entre líderes e seus superiores. Quanto mais eficiente for a comunicação entre os profissionais, melhor é o relacionamento entre eles. O estresse desencadeado por conflitos e a escassez de instruções para concluir tarefas é, então, reduzido.

Para isso, gestores podem incentivar reuniões periódicas entre os departamentos e as equipes, trabalhar a comunicação interna para que os colaboradores conheçam os objetivos da empresa e as últimas notícias por meio de newsletters e mostrar que a comunicação respeitosa não é somente necessária, como também bem-vinda.

Educação é essencial para a saúde mental

Muitas vezes as equipes desconhecem os sinais que revelam que a sua saúde mental não está bem, por isso, ignoram o desconforto psicológico. Em algum momento, contudo, o mal-estar se torna insuportável. Ele pode se manifestar por meio do esgotamento psicológico, depressão e ansiedade e até mesmo de sintomas físicos, como taquicardia e oscilações de pressão.

Dessa maneira, é fundamental que informações sobre saúde mental cheguem aos colaboradores. Investir em palestras com psicólogos, terapia, workshops e atividades internas e materiais impressos sobre educação emocional são algumas iniciativas que podem ser colocadas em prática.

Entretanto, o trabalho não pode ficar apenas por conta deles. A empresa deve proporcionar um ambiente corporativo que possibilite o cuidado com a saúde mental e criar programas que estimulem o autocuidado.

Líderes precisam ser exemplos de boa conduta e eficiência

Os líderes são vistos como espelhos pelo restante dos profissionais – ou, ao menos, deveriam ser. É ideal defini-los assim para os demais. Ao cuidarem da sua saúde mental, os líderes encorajam as equipes a fazerem o mesmo e reforçam a consolidação de uma cultura organizacional positiva.

Do mesmo modo, a liderança cujo emocional está em dia tem menos probabilidade de tomar decisões arriscadas e agir de maneiras que beiram o assédio moral. Pelo contrário, ela desenvolve bons relacionamentos com os liderados e incentiva a comunicação.

Terapia para desenvolver fator emocional das lideranças

A terapia é benéfica tanto para o tratamento da depressão, ansiedade e outras condições de saúde mental quanto para a prevenção e a manutenção do bem-estar emocional no dia a dia. A terapia também é um espaço para falar sobre inseguranças, medos, preocupações, dúvidas, conflitos pessoais e de relacionamento e outras questões que tiram o sono das pessoas.

Como o trabalho costuma ser a principal causa de estresse na vida dos profissionais, faz sentido que as empresas invistam em terapia, certo?

A terapia auxilia os funcionários a descobrirem e desenvolverem os seus valores, entenderem seus colegas, controlarem as suas emoções e alinharem os seus objetivos profissionais com seus objetivos de vida, além de promover a manutenção do bem-estar emocional de todos.

*Tatiana Pimenta é CEO e fundadora da Vittude. Engenheira que se apaixonou pela psicologia, pelo estudo constante do comportamento humano e da felicidade. Possui formações que contemplam ciência da felicidade e aplicações da psicologia positiva para ambientes de trabalho, como o The Science of Happiness, Mindfulness and Resilience to Stress at Work, Empathy and Emotional Intelligence at Work, da Berkeley University.

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