O Palácio de Buckingham, no Reino Unido, informou neste dia 17 que o Rei Charles III, de 75 anos, será submetido a uma cirurgia nos próximos dias em um hospital de Londres, após ser diagnosticado com Hiperplasia Benigna da Próstata (HBP). Também conhecida como aumento da próstata, esta é a condição mais comum na população masculina após os 40 anos e, ao contrário do que muita gente pensa, não aumenta o risco para desenvolvimento de câncer de próstata.

No entanto, os números mostram que HPB está aumentando em um ritmo alarmante. Globalmente, houve 94 milhões de casos de hiperplasia prostática benigna (aumento da próstata) em 2019, em comparação com 51,1 milhões casos registrados no ano 2000. No Brasil, a estimativa é que a condição afete cerca de 1,8 milhão. A prevalência mundial é de 2.480 por 100 mil pessoas.

Embora o número global de casos prevalentes tenha aumentado 70,5% (68,6 para 72,7) entre 2000 e 2019, a prevalência global padronizada por idade permaneceu estável. Os dados são de estudo publicado em 2022 na revista científica The Lancet Healthy Longevity, que avaliou a carga global da HPB em 204 países e territórios de 2000 a 2019.

Segundo os autores, a crescente incidência se dá particularmente em países de baixa e média renda, que estariam em rápida evolução demográfica e mudanças epidemiológicas. À medida que mais pessoas vivem mais tempo em todo o mundo, a carga absoluta das doenças prostáticas benignas aumenta, dentre elas a hiperplasia, o que destaca a importância do monitoramento e planejamento para futuras tensões no sistema de saúde.

O que é a próstata e como ocorre esse aumento

Paulo Egydio, médico PhD em urologia pela USP,  explica que a próstata é uma glândula do tamanho de uma noz localizada logo abaixo da bexiga e na frente do reto, envolvendo a uretra. Quando a próstata aumenta, pode causar estreitamento do canal uretral, conhecido como uretra prostática. 

Isso dificulta o esvaziamento da bexiga, que, sendo um músculo, começa a se hipertrofiar para vencer a resistência aumentada, levando a um espessamento e hipertrofia da parede da bexiga e, possivelmente, à formação de divertículos devido à alta pressão.

De acordo com o Dr. Paulo, os principais sintomas de uma próstata aumentada incluem:

Sintomas obstrutivos – diminuição do jato urinário e retenção urinária, resultando em um resíduo maior de urina após urinar;

  • Sintomas irritativos – caracterizados por uma maior necessidade de urinar frequentemente e com urgência, incluindo acordar mais vezes à noite para urinar, o que pode perturbar o sono.
  • Diferença entre aumento da próstata e câncer de próstata

    O cirurgião oncológico e urologista Gustavo Cardoso Guimarães, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR), explica que a BHP (aumento da próstata) e o câncer de próstata são coisas diferentes.

    “O aumento da próstata acontece com a maioria dos homens à medida que envelhecem e esta condição não aumenta o risco de câncer de próstata“, afirma Guimarães, que é também coordenador dos Departamentos Cirurgicos Oncológicos da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

    Segundo ele, o tamanho da próstata nem sempre determina a gravidade dos sintomas. Algumas pessoas com próstata ligeiramente aumentada podem apresentar sintomas graves. Outros que têm próstatas muito aumentadas podem ter problemas menores. E algumas pessoas com próstata aumentada não apresentam nenhum sintoma.

O especialista relata que a próstata aumentada pode causar sintomas que podem incomodar o paciente, como o bloqueio do fluxo de urina para fora da bexiga. Também pode causar problemas na bexiga, no trato urinário ou nos rins. A redução da pressão ou interrupções do jato urinário causa dificuldade de iniciar a micção e aumento do número de micções noturnas.

Os sinais e sintomas do aumento do tamanho da glândula incluem dificuldade para começar a fazer xixi; jato de urina fraco ou um jato que para e inicia; falha no final da micção w dificuldade de esvaziar completamente a bexiga, além da maior necessidade frequente de urinar durante a noite e da incontinência urinária.

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Homens têm dificuldade em reconhecer sintomas

A hiperplasia prostática benigna é um problema de saúde que se torna mais comum com a idade. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a HBP afeta mais 50% dos homens acima de 50 anos e é ainda mais comum com o avanço da idade, chegando a 80% da população com mais de 90 anos.

Segundo o médico urologista Ruimário Coelho, preceptor da residência médica em urologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná e diretor técnico do Uroville – Urologia Avançada, apesar de ser uma condição bastante comum, muitas pessoas ainda não reconhecem os sintomas.

“Geralmente os sinais surgem aos poucos e vão ficando mais frequentes com o passar do tempo, mas por uma questão cultural alguns pacientes acabam naturalizando essa condição, pois acreditam que é normal e que faz parte do envelhecimento”, explica.

Segundo ele, a BHP se caracteriza pelo aumento da próstata, o que pode causar uma compressão e estreitamento da uretra, dificultando assim o ato de urinar e impactando negativamente a qualidade de vida dos pacientes. Por isso, a qualquer sinal, os homens devem procurar um médico urologista para fazer uma avaliação e iniciar o tratamento mais adequado para o seu caso.

“Mesmo não tendo nenhuma relação com o câncer de próstata, a HBP pode evoluir para quadros mais graves se não for tratada. Entre as complicações mais comuns, estão a infecção urinária, a formação de pedras na bexiga e pode levar à insuficiência renal”, alerta.

Os fatores de risco para o aumento da próstata

O desenvolvimento de uma próstata aumentada está associado a diversos fatores de risco, porém a idade é um elemento crucial, uma vez que o risco aumenta com o envelhecimento. Por isso, Paulo Egydio, médico PhD em urologia pela USP, ressalta a importância de ter uma rotina de exames e cuidados.

“A partir dos 40 a 45 anos, é recomendável realizar avaliações urológicas periódicas. Essas avaliações permitem acompanhar o crescimento da próstata, avaliar o equilíbrio hormonal e adotar medidas para prevenir ou minimizar esse aumento ao longo da vida.”

Além disso, hormônios masculinos, em especial a testosterona, têm impacto no crescimento da próstata. Outros fatores incluem obesidade, sedentarismo e condições médicas como diabetes e doenças cardíacas.

Portanto, medidas preventivas como manutenção de um estilo de vida saudável, acompanhamento médico regular, e atenção à dieta e ao peso podem ajudar a controlar o crescimento da próstata, minimizando os sintomas obstrutivos e irritativos e, consequentemente, reduzindo a necessidade de intervenções cirúrgicas no futuro.

Segundo Guimarães, alguns fatores influenciam no aumento da próstata.

Envelhecimento. Uma próstata aumentada raramente causa sintomas antes dos 40 anos. Depois disso, o risco de ter uma próstata aumentada e sintomas relacionados começa a aumentar.

História de família. Ter um parente de sangue com problemas de próstata aumenta a probabilidade da pessoa ter problemas de próstata.

Diabetes e doenças cardíacas. Estudos mostram que o diabetes pode aumentar o risco de HBP. O mesmo pode acontecer com doenças cardíacas.

Estilo de vida. A obesidade aumenta o risco de HBP. O exercício pode ajudar a diminuir o risco.

Opções para o tratamento da HBP

Segundo os especialistas, o tratamento vai desde o acompanhamento clínico com exames regulares e medicamentos para controlar os sintomas, até procedimentos cirúrgicos, que estão cada vez menos invasivos, graças ao desenvolvimento de novas tecnologias. “A definição do tratamento vai depender dos sintomas, tamanho da próstata e histórico de saúde”, explica Guimarães.

De acordo com Paulo Egydio, o tratamento dos sintomas sem repercussão significativa para a bexiga é geralmente baseado em medicamentos, mudanças na dieta, redução do sobrepeso e atividade física regular. Estas medidas podem auxiliar a evitar um maior aumento da próstata e consequente obstrução.

A decisão sobre a necessidade de tratamento, seja medicamentoso ou cirúrgico, é baseada não só nos sintomas clínicos e nos resultados da ultrassonografia, mas também no impacto do aumento prostático no esvaziamento da bexiga.

“Essa avaliação inclui a confirmação do aumento prostático e se este está causando obstrução à passagem da urina. Além dos sintomas, ultrassonografias podem ser úteis para avaliar as características da parede da bexiga e a quantidade de urina residual após a micção”, complementa Dr Paulo.

Para realizar uma cirurgia de tratamento da próstata aumentada, primeiramente é feita uma avaliação criteriosa pelo urologista. “No caso do monarca, a cirurgia é vista como uma medida para aliviar os sintomas urinários associados à condição e a expectativa é que a intervenção contribua para a saúde contínua do rei, que busca enfrentar esse desafio de saúde de maneira proativa”. afirma o especialista.

Como é decidida a melhor forma de tratamento?

A determinação do tratamento mais apropriado para cada paciente requer uma minuciosa avaliação dos sintomas obstrutivos ou irritativos da bexiga, tais como a redução do fluxo urinário, a frequência de visitas ao banheiro, despertares noturnos e a urgência de urinar. É crucial analisar se a próstata aumentada está impactando a bexiga, forçando-a.

“Nos casos de sintomas obstrutivos e irritativos sem grandes repercussões para a bexiga, os medicamentos podem ser muito eficazes, proporcionando uma boa qualidade de vida ao paciente. Entretanto, nos casos em que há obstruções com repercussão na bexiga, como bexiga de esforço ou divertículos de bexiga devido à pressão exagerada para vencer a obstrução da uretra prostática, pode ser necessária uma desobstrução cirúrgica”, diz.

Esta cirurgia é geralmente realizada pela via uretral e é considerada tranquila, com excelentes resultados na melhoria da qualidade de vida. Porém, o Dr. Paulo reforça que cada paciente deve ser avaliado individualmente para decidir se é necessário o tratamento com medicamentos, e se o tratamento medicamentoso é suficiente para aliviar as dores e sintomas, evitando o tratamento cirúrgico desobstrutivo.

Famosos no Brasil que também passaram por essa cirurgia

Aos 54 anos, o ator e educador físico, Mateus Carrieri, fez uma cirurgia da próstata (Foto: Divulgação)

Desvendar os bastidores da vida de celebridades muitas vezes revela desafios comuns enfrentados por eles. Diversas figuras públicas, incluindo o ex-presidente da República Michel Temer, o ator Mateus Carrieri e o ex apresentador Raul Gil compartilharam publicamente suas experiências com a cirurgia para o tratamento do aumento da próstata.

O ator Mateus Carrieri garantiu que não está com câncer de próstata e afirmou que o procedimento é comum para um homem de sua idade, que na época, tinha 54 anos. Já Temer, tinha 77 anos em 2017, quando precisou passar por essa cirurgia. E, ano passado, aos 85 anos, Raul Gil também foi submetido a tal cirurgia.

O presidente Michel Temer se submeteu a uma cirurgia para desobstrução do canal da uretra (Reprodução de Internet)

Esses casos destacam a universalidade do diagnóstico HPB, afetando homens em diferentes esferas e idades da vida. Ao trazer à tona suas jornadas de tratamento, eles não apenas humanizaram uma questão muitas vezes envolta em tabus, mas também ampliaram a consciência sobre a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado.

“O fato de figuras notáveis enfrentarem abertamente esse desafio ressalta a importância do diálogo e do entendimento em relação à saúde masculina, encorajando outros a procurar cuidados médicos quando necessário”, afirma Dr Paulo Egydio.

Novidade no tratamento da doença

Entre as inovações mais recentes nos procedimentos cirúrgicos está a enucleação endoscópica da próstata com Holmium Laser (HoLEP), que tem se tornado o ‘padrão-ouro’ do tratamento da HBP.

“Com o auxílio de uma microcâmera, o cirurgião consegue retirar com precisão o tecido aumentado com a ajuda do laser, tornando a cirurgia muito mais assertiva e reduzindo o risco de complicações”, explica Ruimário Coelho, um dos principais especialistas nessa técnica no país.

Uma das vantagens da nova tecnologia, segundo ele, é a rápida recuperação no pós-operatório, com o procedimento feito sem a necessidade de internações prolongadas. Assim, os riscos de infecção também diminuem e o paciente consegue retomar suas atividades cotidianas em menos tempo do que nos métodos tradicionais.

“Além da enucleação endoscópica da próstata, no Brasil, as cirurgias minimamente invasivas mais difundidas são o Rezum, o UroLift e iTind”, acrescenta.

Acompanhamento clínico é fundamental na descoberta e no tratamento

De acordo com Dr Paulo, é importante entender que nem todo aumento da próstata necessita de tratamento. O aumento benigno não obstrutivo geralmente requer apenas acompanhamento. Por outro lado, o aumento maligno, que é o câncer de próstata, pode ser tratado, independentemente de estar associado ao aumento benigno ou não.

O aumento maligno geralmente ocorre na periferia da glândula e não costuma causar obstrução ao fluxo urinário, muitas vezes não estando associado a sintomas prostáticos, sejam eles obstrutivos ou irritativos, especialmente em seu início. Por essa razão, é recomendável que homens a partir dos 40, e principalmente após os 45 anos, façam avaliações periódicas da próstata.

Estas avaliações incluem o exame de sangue para medir o PSA (antígeno prostático específico) e o toque retal para verificar a presença de nódulos. Em caso de suspeita, uma ressonância magnética nuclear multiparamétrica pode ser realizada para avaliar a necessidade de uma biópsia da próstata.

“O lado bom é que com o avanço da tecnologia, até mesmo os casos de intervenções cirúrgicas têm sido menos invasivos e com menor comprometimento no dia a dia dos pacientes”, afirma o especialista.

Com Assessorias

 

 

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