Você já ouviu alguém dizer frases como:

“Lamento ter te traído, mas, se você fosse uma esposa melhor, eu não teria procurado carinho em outro lugar”;

“Quando ele me viu chorando durante uma briga, usou isso como uma oportunidade para me atacar ainda mais”;

“Ele disse à minha filha que ela era uma inútil e teria sorte se encontrasse algum idiota para se casar com ela”;

“Meu ex me dizia que eu nunca tinha visto nenhuma mensagem imprópria no telefone dele. Ele, na verdade, dizia que achava que eu estava ficando louca. Comecei a pensar que talvez ele estivesse certo”.

Esses são depoimentos de pessoas vítimas do Gaslighting, abuso psicológico onde uma pessoa utiliza distorções, omissões e mentiras a fim de colocar em xeque a memória, a sanidade mental e as convicções de alguém, para favorecer o abusador e fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade.

O livro O Fenômeno Gaslighting nos coloca diante de situações tidas por muitos como normais ou corriqueiras mas, que praticadas de forma sistemática e durante um longo período, conseguem minar a confiança de qualquer pessoa.

Silencioso e destrutivo, o Gaslighting leva as suas vítimas a ter suas noções de realidade ameaçadas por constantes questionamentos e desmandos por parte de maridos, chefes e amigos que mentem e manipulam a verdade que as rodeiam. O abusador quer de toda a forma ver o sofrimento do outro e consolidar uma relação de dependência.

Lançado no Brasil em abril pela Editora Cultrix, O Fenômeo Gaslighting foi escrito por Stephanie Moulton Sarkis, Ph. D. em Comportamento e Saúde Mental. A obratraz dezenas de casos reais praticados em ambiente familiar, entre amigos, no trabalho e até por figuras públicas em exercício de suas funções e defesa de seus interesses. Com a leitura, também aprendemos a lidar com tais situações e como podemos nos livrar dessa cilada.

A dra. Stephanie Sarkis evidentemente conhece muito bem o assunto sobre o qual escreve. Este livro esclarece as vítimas desse tipo de manipulação, levando-as da escuridão à luz e ajudando-as a se curar”  – New York Journal of Books

Gaslighting presente nos discursos de João de Deus

Esta forma de manipulação é facilmente percebida em relacionamentos abusivos onde o intuito do agressor é gerar uma enorme dependência em sua companheira e em discursos de ódio onde a intenção é desmoralizar a reputação do outro. Tudo pelo domínio psicológico que se quer aplicar.

Um exemplo atual do uso do Gaslighting está presente no discurso da defesa do médium João de Deus:

Temos informações de que ela é prostituta e tem histórico de extorsão” – Alberto Toron, advogado de João de Deus, acusado de abuso sexual por mais de 300 mulheres ao se referir a uma das supostas vítimas.

Quem pode praticar o Gaslighting

A pessoa que o pratica, o Gaslighter, pode ser o namorado controlador que está certo sobre todos os assuntos, o colega de trabalho que quer os créditos de algo que não fez ou o amigo que sempre realizou algo mais importante que você. Tudo passa pela intenção de minar a segurança da vítima para que esta enxergue a realidade de forma distorcida.

Se você desconfia que seu marido, filho, melhor amiga, chefe ou sogra são seus frenemys (mistura das palavras amigo ‘friend’ e inimigo ‘enemy), a leitura desse livro o ajudará a identificar e lidar com esses “vampiros emocionais”.

Fenômeno é mostrado em vários filmes

O termo Gaslighting teve origem no filme “Gaslight”, protagonizado por Ingrid Bergman, na qual parte da manipulação do marido para enlouquecer a esposa consistia em diminuir a intensidade da iluminação a gás da casa onde viviam. Porém, somente a partir de 1960, “a manipulação dos sentidos da realidade” ganhou o nome de Gaslighting.

Esse fenômeno também é pano de fundo de filmes como ‘A Garota do Trem’, ‘O Bebê de Rosemary’, ‘O Sorriso de Monalisa’, ‘Beleza Americana’ e ‘O Desespero de Veronika Voss’, além da série ‘Jessica Jones’, da Netflix, na qual a protagonista é vítima constante de gaslighting pelo vilão Kilgrave.

Sobre a autora

Stephanie Moulton Sarkis é terapeuta especializada em comportamento gaslighting. É também especialista em clínica de saúde mental e em aconselhamento de crianças e adolescentes na Associação Americana dos Conselheiros de Saúde Mental, conselheira nacional certificada e conselheira licenciada em saúde mental, bem como mediadora da família certificada pela Suprema Corte da Flórida (EUA).

É ainda fundadora do Instituto Sarkis, escreve para o blog Psychology Today e o jornal The Huffington Post. Doutora e mestre em Aconselhamento de Saúde Mental pela Universidade da Flórida e especialista em Distúrbios de Hiperatividade e Déficit de Atenção, Dor Crônica e Transtornos de Ansiedade, tem também uma clínica particular em Tampa, na Flórida (EUA).

 

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