Apesar da divulgação massiva, a campanha de vacinação contra a poliomielite e sarampo do Ministério da Saúde chega à sua penúltima semana com procura aquém do ideal: apenas 51% do público-alvo vacinado, de acordo com o último boletim, que já contabiliza o Dia D da iniciativa. O número deixa claro que é necessário buscar novas estratégias. Para discuti-las, as principais autoridades e referências em vacinação do país se reunirão no Rio de Janeiro, de 26 a 29 de setembro, na XX Jornada Nacional de Imunizações.
Entre os tópicos que serão debatidos estão o papel das diferentes esferas governamentais na adesão da população; vacinação escolar; movimentos antivacinação; vacinação do adulto — grupo que, historicamente, não costuma se imunizar —; e experiências exitosas em outros países. Para a presidente da SBIm, Isabella Ballalai, a troca da ideias pode abrir novas perspectivas para o enfrentamento do cenário adverso.
“Mesmo que consigamos alcançar a meta, campanhas nos moldes da atual são para lidar com situações pontuais ou emergenciais. É inviável promover iniciativas semelhantes para as 14 vacinas oferecidas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). As Campanhas de Multivacinação realizadas nos últimos anos tentaram abranger o calendário de forma mais ampla, mas, infelizmente, não geraram a adesão desejada”, analisa.
A fala da médica sobre a necessidade de manter altas as coberturas de todas as vacinas encontra respaldo no recente histórico de expansão de doenças imunopreveníveis que o Brasil vem vivenciando. Além dos mais de 1200 casos de sarampo nos surtos no Amazonas e em Roraima (outros estados também registraram casos isolados) e dos surtos de febre amarela silvestre em 2017 e 2018, a cidade de São Paulo passa desde 2017 por surtos de Hepatite A, que já afetou mais de 1.000 pessoas.
O cenário torna-se mais preocupante se considerarmos a facilidade de locomoção entre grandes distâncias propiciada pelo maior acesso ao transporte, principalmente aéreo. Uma doença que levaria meses para, talvez, atravessar um continente consegue cumprir o mesmo trajeto em poucas horas. “A Europa, por exemplo, que recebe e envia viajantes para o mundo inteiro, passa por surtos de sarampo de grandes proporções há pelo menos dois anos. Já falamos e não nos cansaremos de repetir: o risco de o sarampo voltar a circular de forma endêmica e da pólio reaparecer é real”, alerta.
Isabella destaca, ainda, que a relação entre deslocamento de pessoas e circulação de doenças não é justificativa para hostilidades contra estrangeiros. “O comportamento agressivo que temos testemunhado por esse e outros motivos contra imigrantes venezuelanos demonstra ignorância. Somente 32,54% do público-alvo foi vacinado contra o sarampo na campanha em Roraima até o momento. Se enfermidades imunopreveníveis se instalarem porque não nos vacinamos, a culpa será única e exclusivamente nossa. É preciso lembrar que nós também podemos levar doenças para outros países e que devemos demonstrar solidariedade a qualquer população que enfrente situações sociais adversas”, enfatiza.
XX Jornada Nacional de Imunizações
Além da adesão da população, as principais referências brasileiras e internacionais se reunirão na XX Jornada Nacional de Imunizações para debater condutas diante de situações de alto risco, resultados internacionais, epidemiologia, cenários que merecem atenção, impacto da vacinação de adultos e idosos, entre outros temas. A expectativa é a de que cerca de 1.000 pessoas comparecem ao evento, que marca os 20 anos de fundação da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
XX Jornada Nacional de Imunizações
Data: 26/09/2018 – 29/09/2018
Local: Windsor Oceânico Hotel
Endereço: Rua Martinho de Mesquita, 129, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro — RJ
Programação e inscrições: http://jornadasbim.com.br/2018/