O tema perdeu força diante dos escândalos políticos que dominam os noticiários. Mas a recente polêmica entre os ex- BBBs Emily e Marcos abriu um debate sobre machismo e agressão psicológica. O tema é sensível, mas centenas de mulheres ainda sofrem abusos físicos, psicológicos e emocionais diariamente em muitos lares brasileiros, em todas as classes sociais. Para superar relacionamentos conturbados e situações traumáticas, as vítimas devem se afastar do parceiro manipulador e, se necessário, procurar ajuda psicológica.
“Centenas de mulheres passam por essa situação todos os dias, e precisam buscar ajuda para se desvincular emocionalmente desse relacionamentos tóxicos e superar os traumas deixados por eles, traumas estes que implicam até em restabelecer novos relacionamentos” conta Miriam Farias, psicóloga que é especialista em Hipnose Clínica.
Após o episódio com Emily, famosas e anônimas fizeram seus relatos que ganharam as redes sociais. Poliana Chaves, mulher de Victor Chaves, da dupla Victor & Léo, também denunciou as agressões físicas e psicológicas sofridas por parte do cantor e, até mesmo por familiares de seu companheiro. Outro caso que revoltou a opinião pública e gerou campanhas contra o machismo foi da figurinista Susllem Tonani. Ela acusou o ator José Mayer de assédio, que segundo ela, duraram sete meses, agressões machistas e verbais que abalaram seu emocional, e gerou até a campanha “ Mexeu com uma, Mexeu com todas”.
Estresse pós-traumático
“Os efeitos negativos gerados por esse tipo de relacionamento é classificado como estresse pós-traumático e afeta principalmente a parte psicológica da vitima, em decorrência da violência, agressões e ameaças” conta a psicóloga Miriam Farias. O Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) é um transtorno de ansiedade. Ocorre quando a pessoa passa por alguma situação traumática em que coloque em risco sua integridade física ou perigo a sua própria vida. Tal situação geralmente provoca uma sensação de impotência ou horror”.
Ela explica que a terapia com hipnose é focal e tem até 90% mais eficácia que as terapias convencionais nesses casos como de Emily e na solução de quadros complexos, como traumas de relacionamentos abusivos, agressão física, sexual ou emocional. Crianças e mulheres são as principais vítimas dos traumas decorrentes de situações de abusos, humilhações e até terror psicológico por parte dos agressores. O Transtorno de Estresse Pós-Traumático está acompanhado muitas vezes de outros sintomas tais como a depressão, o pânico, dentre outros transtornos de ansiedade.
O indivíduo submetido ao TEPT desenvolve um quadro de evitação em relação ao ocorrido. Isso se dá porque ele sente como se estivesse experimentando a situação traumática outra vez. Ocorrem flashes com a presença de pensamentos invasivos e lembranças persistentes, muitos sonhos e até pesadelos sobre o fato ocorrido levando o paciente a reviver a experiência traumática. O indivíduo muitas vezes acorda assustado. Na verdade ele fica preso à experiência traumática como se tudo fosse acontecer novamente a qualquer momento. Isso tudo causa muito sofrimento físico, mental e principalmente emocional, podendo gerar sequelas para o resto da vida de uma pessoa que sofreu com relacionamentos abusivos e doentios.
Segundo a psicóloga Miriam Farias, relacionamentos abusivos não se limitam às relação amorosas, elas podem vir de relações familiares, profissionais e ate mesmo de amizades em que você confia. As agressões psicológicas motivadas pelos relacionamentos abusivos e manipuladores pode desencadear estresse pós-traumático, depressão, pânico, e baixa autoestima.
Dicas para entender e superar o sofrimento
Veja algumas dicas desenvolvidas pela especialista que pode ajudar a entender, superar e transformar o sofrimento em uma experiência positiva.
1 – Procure ajuda psicológica, somente um profissional que trata emoções, vai poder te compreender e te apoiar neste momento difícil, sem críticas nem julgamento de valor.
2 – É fundamental saber identificar se está em um relacionamento abusivo ou não, este é o primeiro passo para promover mudanças reais em sua vida.
3 – Nos relacionamos abusivos, há muito estresse, cobranças e sofrimento, são relações intensas, então, a pessoa precisa buscar a autoestima. Procure uma atividade prazerosa que possa aumentar o seu nível de prazer, fazer algo que sempre quis mas por algum motivo não fez, agora é a hora de se permitir, permita-se, faça por você algo que somente você pode fazer, pode ser um curso, dançar, viajar ou aprender uma nova habilidade. Agora é hora de investir em seus projetos, pois as pessoas que vivenciam relacionamentos abusivos, estão sempre investindo no outro e esquecendo de si próprio.
4 – Aprender a expressar emoções, falando naturalmente o que sente e o que pensa sem agredir, com segurança e tranquilidade. Com o apoio psicológico a pessoa terá mais facilidade para este novo comportamento.
5 – Aprenda a dizer não. No relacionamento abusivo é muito comum a pessoa querer agradar o outro e evitar conflitos, para isto muitas vezes, se anula enquanto pessoa e fica oprimida na relação com o outro. E dizer não para o outro é um sofrimento muito grande.
6 – Aprender a dar limites e se colocar na relação com o outro, sendo assertivo, um ponto muito importante nas relações abusivas é fazer ser respeitada(o).
7 – Melhorar e investir na sua autoestima, cuide-se, ame-se, aprecie-se e valorize o que você tem de melhor. Lembre-se que não há no mundo alguém como você, você é singular.
8 – Estar aberta(o) para novas possibilidades de relacionamentos, construindo relações saudáveis, onde tenha troca de afetividade e, sobretudo, respeito mútuo.
9- Tirar uns minutos do dia para praticar auto-hipnose, através desta técnica pode-se resgatar o equilíbrio, a paz e a serenidade.
10 – Procure estar com pessoas que respeitam a sua forma de ser e estar no mundo, que te valorize e joga você pra cima.
Abusos doem no corpo e na alma
A psicóloga Miriam Farias, explica que os abusos não doem somente no corpo, mas também na “alma”. “O pior efeito da violência física ocorre no psicológico, que pode causar mudanças significativas na vida da mulher, tais como: angústia, tristeza profunda, desânimo, situação de impotência e alteração comportamental. É importante ressaltar que a vitima pode desenvolver depressão, estresse pós-traumático com medo de reviver à cena, crise de pânico e ansiedade severa. Além da baixa autoestima, dificultando novos relacionamentos e a convivência em sociedade” explica.
“É preciso um tratamento psicológico para trabalhar as questões que estão implicadas com a dependência dos relacionamentos destrutivos, fazer a mulher acreditar que ela é capaz, que pode superar, que não precisa sentir vergonha. Fazer a vitima acreditar em si é resgatar a sua autoestima, a maioria das agressões que resultam em mortes, são reincidentes, por isso, é preciso apoio emocional. A vitima não pode se sentir julgada e, sim, acolhida”, explica Miriam.
A especialista indica que muitos homens ainda enxergam a figura da mulher de uma forma inferior “ Eles se sentem donos, o machismo ainda impera em nossa sociedade, a mulher é de quem ela quiser, ela não tem dono. É mentora de suas ações e decisões. Esse exemplo precisa ser passado de pai para filho, infelizmente muitos meninos cresceram com essa visão, vendo a mãe e irmãs submissas e agredidas, e acham que ainda podem fazer o mesmo, é um trabalho de conscientização para toda a sociedade” completa.
Sabe-se que na cultura machista, muitas mulheres, também passam e reforçam estes valores, muitas vezes, são as mulheres quem fortalece este modelo de submissão, desvalorização e anulação da figura feminina, que foi bastante presente no século passado, e só causou mal para as relações afetivas e a sociedade em geral. “ Está na hora de mudar este padrão.Hoje vivemos uma outra realidade que a mulher está inserida no mercado de trabalho, tem uma carreira profissional, não depende mais economicamente do homem como antes, mas a dependência emocional continua muito presente nos dias atuais e esta dependência emocional é que tem causado tanto sofrimento para a própria mulher” Exemplifica Miriam Farias.
“É uma dependência destrutiva, a terapia, como hipnose clínica , entra para ajudar essa paciente a se fortalecer emocionalmente, trabalhando à relação dependência de sofrimento, se fortalecendo emocionalmente e buscando relações mais saudáveis. É preciso romper o elo com relacionamentos de sofrimento”, finaliza.
Violência contra a mulher cresce
Segundo dados da Polícia Militar, a cada quatro minutos, uma mulher foi agredida no período do carnaval, no estado do Rio de Janeiro. O caso que recentemente despertou atenção da mídia foi o de Poliana Chaves, mulher de Victor, da dupla Victor & Léo, que após denunciar a agressão do marido, desistiu de continuar o processo pela suposta violência do cantor. Outra vítima foi Eliza Samudio, seu algoz, o goleiro Bruno, mandante do assassinato, ganhou liberdade após somente sete anos preso, e o corpo da vitima até hoje ainda não foi encontrado. Apesar dos esforços, as agressões contra mulheres continuam.
Segundo a ONG Action Aid, a violência doméstica mata cinco mulheres por hora no mundo e, a pesquisa ainda aponta que até 2030, 500 mil mulheres serão vitimas de feminicídio por seus parceiros ou familiares. Em março de 2015 foi sancionada a Lei do Feminicídio, classificando com crime hediondo e com agravantes violência doméstica e familiar. Ou quando evidencia menosprezo ou discriminação à condição de mulher.Anteriormente, em 9 de agosto de 2006, surgiu a Lei Maria da Penha, visando coibir e erradicar a agressão contra o sexo feminino. Segundo o “Mapa da violência” de 2015, o maior índice de homicídio contra as mulheres brancas foi no estado de Rondônia, outro dado alarmante é que o Espírito Santo ficou em primeiro no ranking no homicídio de mulheres negras.
A fonte básica para a análise dos homicídios no país, em todos os Mapas da Violência até hoje elaborados, é o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde (MS). Em 2014, o SIM, publicou que o estado do Acre liderou no atendimento as mulheres agredidas, seguido do Pará e Paraná.
Fonte: Miriam Farias