O Dezembro Vermelho, mês de conscientização e combate ao HIV/Aids, chega neste ano com uma abordagem renovada por parte do Projeto Criança A.M.A.R. (PCA.m.a.r.). Com 34 anos de história, a instituição está chamando a atenção para dois temas cruciais, mas pouco debatidos: a proteção emocional das crianças no processo de revelação do diagnóstico de sorologia e a urgência da testagem e prevenção do HIV em mulheres no período de amamentação.

Em uma mudança que vai além da identidade visual, o antigo nome “Projeto Criança Aids” foi alterado para PCA.m.a.r. (Projeto Criança A.M.A.R.). A decisão visa proteger as crianças e adolescentes atendidos de uma exposição precoce e traumática ao seu diagnóstico.

A mudança para PCA.m.a.r. traduz nosso compromisso com práticas atualizadas de cuidado. Entendemos que proteger é também evitar exposição desnecessária e garantir que a revelação diagnóstica aconteça com suporte médico, psicológico e familiar”, afirma Adriana Galvão, presidente do PCA.m.a.r.

A instituição defende que a descoberta da sorologia deve ser um processo sensível, preparado e com acompanhamento profissional e familiar, e não uma surpresa abrupta ao ler uma placa.

Lacuna na prevenção: o risco no pós-parto

A mudança de nome do projeto coincide com uma importante mobilização no cenário da saúde pública. O PCA.m.a.r. reforça um alerta feito recentemente pelo Ministério da Saúde, que aponta uma lacuna perigosa na prevenção da transmissão vertical (mãe-bebê).

Muitas mulheres, que tiveram o acompanhamento e testagem durante toda a gestação, deixam de realizar o exame após o parto. Se adquirirem o HIV nesse período e estiverem amamentando sem saber, há um risco real de transmissão pelo leite materno, que pode variar de 15% a 45%.

O projeto destaca a necessidade de:

  • Testagem contínua: Mulheres com vida sexual ativa no pós-parto devem manter a testagem regular.

  • Acesso à PrEP: É fundamental que as mães em aleitamento materno conheçam e usem a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), que é segura e eficaz contra o HIV.

“Proteger nossas crianças envolve também reforçar que mulheres com vida sexual ativa, mesmo após o nascimento, precisam continuar testando e se protegendo para evitar risco de transmissão pelo aleitamento”, finaliza Adriana. Esse cuidado é visto como essencial para evitar novos casos de transmissão vertical, que volta a ser uma preocupação sanitária devido à baixa adesão à testagem e proteção após a gestação.

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Mais de três décadas de acolhimento e sucesso

Desde 1991, o Projeto Criança A.M.A.R. atua no apoio psicossocial, educativo e assistencial para famílias vivendo com HIV. A instituição, que não é um abrigo, atende atualmente cerca de 20 famílias, impactando aproximadamente 90 pessoas por mês, entre crianças, adolescentes e seus cuidadores. Estima-se que, ao longo de sua história, mais de 10 mil vidas já tenham sido impactadas, direta ou indiretamente.

Os resultados do trabalho mostram o impacto positivo do cuidado contínuo:

  • Histórias de Sucesso: Muitos jovens que chegaram ao projeto nos anos 90 são hoje adultos vivendo com qualidade de vida, sem ter desenvolvido Aids.

  • Realização Profissional: Há jovens formados, universitários, profissionais da saúde e até uma advogada que tiveram apoio do projeto. Muitos filhos nasceram sem o vírus graças ao acompanhamento adequado.

  • Empoderamento: Responsáveis também ganham renda própria após fazerem cursos profissionalizantes na ONG, como confeitaria e panificação.

“São histórias que mostram que o HIV não impede o futuro, com cuidado, adesão ao tratamento e apoio, é possível estudar, trabalhar, sonhar e prosperar”, conclui a presidente.

O PCA.m.a.r. mantém sua sede em São Paulo (bairro da Saúde), oferecendo atendimentos com psicóloga, assistente social, psicopedagoga, distribuição de itens assistenciais, oficinas e rodas de conversa, reafirmando seu compromisso com a dignidade e a proteção emocional das crianças e suas famílias.

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