Rosayne Macedo, editora do Vida & Ação, abriu o evento, explicando a importância de pensar no ser humano e não só no profissional (Foto: Divulgação ABI)
Rosayne Macedo, editora do Vida & Ação, abriu o evento, explicando a importância de pensar no ser humano e não só no profissional (Foto: Divulgação ABI)

Durante o primeiro SuperAção, roda de conversa sobre saúde, bem-estar e qualidade de vida promovida pelo VIDA & Ação, especialistas advertiram para a necessidade de não silenciar a violência vivida no ambiente de trabalho. O juiz do trabalho André Villela ressaltou que a questão do assédio moral é uma epidemia mundial e em 99% dos casos acontecem com as mulheres. O psiquiatra Jorge Jaber chamou a atenção para o risco de desenvolver dependência química. Ele ainda falou sobre o mercado da comunicação, marcado pelo machismo e abuso de álcool e drogas, lícitas e ilícitas.

“Precisamos de ferramentas para ajudar a nos proteger de uma sociedade cada vez mais perversa. Ninguém quer ser apagado e desqualificado”, disse a jornalista e psicanalista Sandra Teixeira. Desde 21 anos com transtornos de ansiedade, a jornalista Karen Terahata transformou seu sofrimento em produção e conhecimento com o Blog Sem Transtorno e um grupo de apoio que criou. Já o jornalista Ricardo França emocionou o público com sua comovente história de assédio moral dentro da assessoria de imprensa de um órgão público. A pranaterapeuta Marta Cavalcanti deu dicas de como fortalecer o equilíbrio energético e se proteger de ataques psíquicos no trabalho. Saiba como foi o evento.

Confira fotos do evento no Facebook

Cerca de 50 pessoas se reuniram na manhã desta quinta-feira, 30 de novembro, para participar do SuperAção. Nesta edição de lançamento, o tema foi a saúde emocional no ambiente de trabalho, com ênfase especialmente nos jornalistas e profissionais de Comunicação, mas profissionais, estudantes e demais interessados no tema também puderam participar. A programação aconteceu no lounge da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Centro do Rio de Janeiro, com entrada gratuita.

Primeiro SuperAção aconteceu no lounge da ABI, no 11º andar da sede no Centro do Rio, e reuniu mais de 40 pessoas (Foto: Luis Mario Araújo)
Primeiro SuperAção aconteceu no lounge da ABI, no 11º andar da sede no Centro do Rio, e reuniu mais de 40 pessoas (Foto: Luis Mario Araújo)

A iniciativa contou com a parceria da rede Reinventar JornalistasRJ e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio (SPMRJ). Durante a programação, os participantes ainda puderam participar de massagem relaxante, oferecida pela clínica de estética Flor da Pele, e ainda degustar um coffee break especialmente preparado pelo Café & Pauta, da jornalista Graça Duarte. Foram ainda realizados sorteios de brindes da Flor da Pele, da Racional Saúde e da Momentito, da jornalista e reinventante Flávia Fonseca.

Para não silenciar a violência

O  SuperAção tratou de um tema que está na ordem do dia: assédio moral e transtornos mentais, em especial no exercício da profissão de jornalista, dentro e fora das redações, assessorias e demais empresas de comunicação.  Rosayne Macedo, editora do Vida & Ação, abriu o evento, explicando a importância de pensar no ser humano e não só no profissional.

“Tivemos uma série de eventos técnicos ao longo de dois anos aqui na ABI, para ajudar os jornalistas a se reinventarem, Mas como fazer isso sem que possam identificar e tratar o que os bloqueiam? É preciso um olhar para dentro, pensar no profissional de Jornalismo como ser humano. Sem saúde e equilíbrio emocional, de que adianta aprender novas técnicas, ferramentas e tentar empreender e criar novos negócios para sobreviver, se ele está sofrendo por dentro, com problemas de ordem emocional ou psíquica?”, questionou Rosayne. O vice-presidente da ABI, Paulo Jerônimo, destacou a importância do Reinventar para o jornalismo no Rio de Janeiro e de abrir espaço para mais uma iniciativa voltada para a valorização dos profissionais da área.

 

Confira no Facebook Live a primeira parte da transmissão completa do evento

A pranaterapeuta Marta Cavalcanti falou sobre técnicas para ajudar pessoas e empresas a vencerem o problema (Foto: Douglas Rufino)
A pranaterapeuta Marta Cavalcanti falou sobre técnicas para ajudar pessoas e empresas a vencerem o problema (Foto: Douglas Rufino)

Sobre o tema central do evento, todos os especialistas advertiram para a necessidade de não silenciar a violência. O juiz do trabalho André Villela abriu a palestra ressaltando que a questão do assédio é uma epidemia mundial e em 99% dos casos acontece com as mulheres. Ele ainda falou sobre os sintomas do problema e das formas como ele se apresenta. “O assédio escamoteado é o mais difícil de identificar e a vítima sofre muito até a hora de superar a barreira do silêncio. Às vezes é muito difícil distinguir o limite entre uma brincadeira uma perseguição de fato”.

Outro mito, segundo o juiz é que ele pode ocorrer somente entre superiores e subordinados. “A intimidação e a chantagem ocorrem, em inúmeros casos, entre profissionais paritários. Mas não hesitem em levar o celular quando forem falar com o assediador. Precisamos usar as ferramentas que temos”, aconselhou.

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O psiquiatra Jorge Jarber explicou como o assédio moral compromete a saúde mental e a dignidade do trabalhador, até levá-lo a outras patologias, como abuso de substâncias e dependência química. O médico também falou sobre o mercado da comunicação, marcado pelo machismo e abuso de álcool e drogas, lícitas e ilícitas. “A profissão de jornalista está ficando cada vez mais difícil com o impacto das novas tecnologias. A própria história do jornalismo é marcada por estigmas e as redações são um ambiente muito machista e competitivo, que propicia aos comportamentos inadequados e abusivos”.

 

Após anos de silêncio e angústia, o jornalista Ricardo França compartilhou com os colegas  o sofrimento causado por anos de assédio moral que o levou à depressão e algumas internações. Com seu depoimento emocionado, ele alertou a plateia para os assédios silenciosos que excluem e marginalizam e o silêncio dos companheiros de trabalho. “Eu era assessor especial do ex-secretário de Segurança (José Mariano Beltrame), era conteúdista, e meu trabalho foi sendo esvaziado aos poucos até o isolamento total. O silêncio dos colegas foi terrível”.

Para França, que sofre ainda com bipolaridade, fobias e alcoolismo, a questão do assédio moral e sexual nas redações e assessorias de imprensa é blindada pelo silêncio do medo, da submissão, do corporativismo e do poder”, afirmou. Ele ainda comentou sobre os bastidores das internações nas clínicas psiquiátricas por onde passou, onde teve que conviver com viciados e traficantes.

Confira a segunda parte da transmissão do evento pelo Facebook

Alternativas para vencer o problema

Durante o encontro, apresentadores puderam  partilhar suas experiências e técnicas de recuperação. A jornalista e também psicanalista Sandra Teixeira contou um pouco de sua trajetória no jornalismo, também marcada pelo abuso desde que iniciou na profissão e como vem superando suas dificuldades.

“Precisamos de ferramentas para ajudar a nos proteger de uma sociedade cada vez mais perversa. Ninguém quer ser apagado e desqualificado. Se não tivermos a capacidade de nos criar e reinventar não vale a pena viver. A análise foi fundamental para eu continuar porque a estratégia de dominação é perversa”, disse a psicanalista, que pediu demissão de um emprego por ser assediada sexual e moralmente e buscou novos caminhos.

A jornalista e blogueira Karen Terahata  transformou seu sofrimento em produção e conhecimento. Com diagnóstico de transtornos de ansiedade desde 21 anos, ela vem aprendendo a lidar com a doença. Faz a medicação, terapia e atualmente mantém o Blog Sem Transtorno, onde divulga e partilha histórias e informações sobre o transtorno mental, além de um grupo para trocar experiências com outras pessoas que sofrem do problema.

Karen deu várias dicas para uma recuperação saudável. “Nunca tive uma qualidade de vida como tenho hoje. Graças ao tratamento, que é a medicação, terapia e atividade física. É importante o apoio da família e a quebra do preconceito com a doença mental. Psiquiatra não é médico de louco. A pessoa que sofre de transtorno mental é estigmatizada de forma cruel”.

Métodos alternativos para a defesa contra o assédio

Já a pranaterapeuta Marta Cavalcanti apresentou métodos alternativos para ajudar na saúde mental e defesa contra o assédio. Com formação em terapias holísticas, a especialista falou sobre técnicas de relaxamento e  exercícios de respiração para aliviar o estresse e superar as dificuldades. “O assediador, adoecido, cai em cima da vítima, que pode estar mais preparada para lidar com os abusos de forma mais equilibrada possível. A sociedade está doente. Precisamos nos proteger.”

Participantes do evento aprovaram a iniciativa. “A Marta Cavalcanti tem um trabalho incrível com terapia prânica para ajudar na cura destes assuntos todos sobre os quais conversamos nesta manhã. Para nos Reinventar como profissionais precisamos estar bem”, elogiou a jornalista e ‘reinventante’ Monica Ulisses, do blog Comida na Mesa. “Parabéns pelo evento de hoje de manhã , pois enriqueceu os meus conhecimentos”, escreveu Felícia Fiszhaut.

  • Com cobertura jornalística de Claudia Sanches (ABI) e Malu Machado (Sindicato/Reinventar). Fotos de Douglas Rufino e Luis Mario Araújo. Agradecimentos especiais à Graça Duarte (Café & Pauta), Michele Rangel (Flor da Pele) e Flávia Fonseca (Momentito), e também às reinventantes Cristina Santanna, Ana Carolina Almeida e Elen Genúncio.
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