Neste 20 de março, diversos países – inclusive o Brasil – celebram o Dia Mundial Sem Carne, uma iniciativa global que busca conscientizar a população sobre os impactos ambientais e éticos relacionados ao consumo de carne. A data foi criada em 1985 a partir de protestos da ONG norte-americana Farm Animal Rights Movement (FARM) contra a produção pecuária comercial nos Estados Unidos e se espalhou em diferentes partes do mundo, com apoio dos grupos de pessoas veganas.

A data começou a ser celebrada em 2009 no Brasil, por iniciativa da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), também para esclarecer a população sobre o sofrimento dos animais criados comercialmente. O objetivo é defender a substituição da proteína animal pelo vegetal e incentivar as pessoas a ficarem um dia sem consumir alimentos de origem animal, e a refletirem sobre os impactos do consumo de carne na dieta, no planeta e nos animais

No Brasil, o consumo de carne está reduzindo, mas não por consciência ambiental ou pela saúde, mas sim pelo preço. Segundo a pesquisa O Consumidor Brasileiro e o Mercado Plant-Based 2022, realizada pelo The Good Food Institute Brasil (GFI Brasil), dois em cada três consumidores (65%) consomem alguma alternativa vegetal (legumes, grãos, frutas), em substituição aos produtos de origem animal ao menos uma vez por semana. Para se ter uma ideia, no ano de 2020 esse percentual era de 59%.

O principal motivo que levou 45% dos brasileiros a reduzir esse consumo por 12 meses durante o ano de 2022 foi o fator preço. Somado a outros motivos, como religião, influência da família e preocupação com os animais, esse índice sobe para 52% nos últimos 12 meses por escolha própria. A pesquisa também notou que, do total de consumidores que diminuíram a carne na alimentação, 47% pretendiam reduzir ainda mais em 2023.

O levantamento do GFI Brasil indicou que o consumo das carnes bovina, suína, de frango e de peixe caiu 67% entre os brasileiros na sua última pesquisa em relação ao ano anterior. Isso ocorreu diante do impacto dos preços mais altos dos produtos e da busca por hábitos mais saudáveis, que passam por maior adoção das proteínas de origem vegetal.

Aumento de veganos e vegetarianos no Brasil

Esses dados sofrem influência devido ao leque de denominações para os diversos tipos de dietas em consequência da restrição alimentar e escolha por estilos de vida. Veganismo, vegetarianismo, crudivorismo, apivegetarianismo e frugivorismo são algumas dessas dietas que a carne fica totalmente de fora do cardápio.

O Brasil está experimentando uma explosão no número de adeptos ao veganismo e vegetarianismo. Já são 30 milhões de pessoas vegetarianas no Brasil, segundo pesquisa da SVB, conduzida pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), em 2018.

Isso representa 14% da população nacional. Esse número representa um aumento notável de 75% em comparação com os dados de 2012, indicando uma mudança significativa nos hábitos alimentares do país. A pesquisa estimava que esse número chegaria a 40 milhões em 2023, ou 20% da população nacional.

O veganismo é um estilo de vida contrário a exploração de animais, para produção de alimentos, vestuário ou qualquer outra finalidade. A informação pode ser confirmada no livro “The Vegan Society”, lançado em 1944, no Reino Unido. Sendo assim, o grupo não utiliza nenhum produto que use partes de animais na formulação.

Segundo a nutricionista Fernanda Larralde, especializada em Nutrição Esportiva, Saúde da Mulher e Fitoterapia, formada em Coaching Nutricional e palestrante e parceira da Bio Mundo (rede de lojas de produtos naturais e nutrição esportiva), as mudanças de hábitos partem de algo ainda maior.

“O que leva as pessoas a mudarem o estilo de vida, principalmente em relação a alimentação está muitas vezes associada a uma ideologia, seja a preocupação com os animais e o meio ambiente, a influência de familiares, motivos religiosos ou espirituais e, em alguns casos, isso ocorre em decorrência de alguma condição clínica. Porém, cada uma delas tem o seu valor e peso individual”, afirma.

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Aumento nas opções de plant-based no Brasil

Substituir proteínas animais (pelo menos duas vezes por semana) com altos índices de gordura, significa investir em uma alimentação mais saudável e com gorduras solúveis (ácidos graxos como ômega 3 e 6) benéficos ao organismo.

As proteínas vegetais já existem no mercado brasileiro há alguns anos, como por exemplo, nos leites e óleos vegetais, além da proteína de soja. Contudo, nos últimos cinco anos, o setor chamado de Plant-based (cuja tradução literal é, à base de plantas) obteve um crescimento anual de 11,1%.

A oferta de produtos à base de plantas está crescendo cada vez mais no Brasil. O  comércio de produtos lácteos vegetais, que é uma alternativa à proteína animal, deve alcançar 162 bilhões de dólares até 2030, de acordo com dados de 2022 da Bloomberg Intelligence.

Os dados apresentados pela consultoria Euromonitor apontaram ainda, que o faturamento das empresas que fabricam alimentos com proteínas vegetais dobrou, no intervalo de cinco anos, passando de US 48,8 milhões pra US$ 82,8 milhões. A projeção é de que as vendas cresçam ainda mais, em razão da diversidade de novos produtos e alcance US$ 131,8 milhões até 2025.

De olho na maior demanda por alimentação à base de proteínas vegetais, o Senac EAD lançou o bacharelado em Engenharia da Produção e Tecnologia em Gastronomia. A formação permitirá aos alunos terem melhor conhecimento sobre o mercado ou empreenderem no ramo de alimentos plant-based. Em pós-graduação, existem várias opções de especialização lato sensu na área de nutrição para quem deseja atuar no segmento de consultoria em serviços de alimentação, com ingredientes de origem vegetal.

Cresce o consumo de ultraprocessados veganos

Dados da Horus, marca da Neogrid, revelam um aumento significativo no consumo de proteínas veganas ou vegetarianas no Brasil. A análise referente ao ano de 2023 mostra que a incidência dessa categoria de produtos nas notas fiscais aumentou 7,4% em relação a 2022 e o tíquete médio girou em torno de R$ 26,18, com uma média de 1,5 item por compra.

Os dados da Horus/Neogrid apontam que a linguiça e os defumados veganos apresentaram os tíquetes médios mais altos no ano passado, com R$ 33,07 e R$ 32,34, respectivamente.

“Esse cenário sugere que os consumidores estão dispostos a pagar um preço mais elevado por esses itens específicos devido à qualidade percebida, ao sabor diferenciado ou valor agregado”, afirma Anna Carolina Fercher, head de Customer Success e Insights da Horus.

Segmentos como empanados vegetarianos congelados, quibe vegano congelado e hambúrguer vegetariano ou vegano também registraram um aumento notável na incidência em 2023, com um crescimento médio de 9,5% na comparação com o ano anterior.

Maior consumo de pães, enlatados e conservas

Ao longo do ano passado, de acordo com a Horus/Neogrid, outros itens também acabaram impulsionados pelo crescimento do consumo de proteínas de origem vegetal. São eles: pães, enlatados e conservas, verduras, além de goma de tapioca, grão de bico e gergelim. O ovo – uma proteína animal mais barata que a carne – também figura na lista dos produtos procurados.

“Por meio de um mapa de cruzamento de categorias, observamos que o consumo de proteína vegetal fomenta o de outras não tão frequentes para o consumidor médio, como gergelim, grão de bico e leites vegetais.  Os dados da Horus/Neogrid não apenas indicam uma mudança no comportamento do consumidor, como também sinalizam oportunidades para empresas e marcas em um segmento em franca ascensão no mercado de alimentos e bebidas do país”, conclui a executiva.

Com Assessorias

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