Em junho, celebramos o Mês Mundial da Conscientização do Lipedema, uma doença crônica progressiva, causada pelo acúmulo de gordura doente em regiões específicas como braços, pernas e quadris. Estima-se que o lipedema atinja cerca de 10 milhões de mulheres no Brasil e 10% em todo o mundo, na maioria, mulheres. Ainda pouco se fala sobre essa condição, que muitas vezes confundida com obesidade ou apenas como uma alteração estética.

Por ser é erroneamente subestimada e subdiagnosticada. Por ser uma condição frequentemente confundida com outras doenças, as pessoas enfrentam diversos desafios tanto no diagnóstico quanto no tratamento. Essa doença progressiva pode evoluir se não for tratada corretamente.

lipedema é uma condição médica crônica que vem ganhando destaque nas discussões de saúde. Caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura nas extremidades do corpo, como pernas, coxas e braços, o lipedema não apenas causa desconforto físico, mas também impacta profundamente a qualidade de vida das pessoas.

Muitas vezes, o lipedema é mal compreendido e confundido com uma simples preocupação estética, quando, na verdade, é uma condição médica legítima que requer tratamento adequado. As mulheres, que são as mais afetadas pela doença, enfrentam dores crônicas, sensibilidade e inflamação nas áreas afetadas, além dos desafios emocionais devido à aparência corporal alterada e à dificuldade no diagnóstico.

O lipedema é caracterizado por um padrão desproporcional de distribuição de gordura, que cria uma aparência de “pêra” ou “colchão” nas áreas afetadas, geralmente as pernas, mas pode ocorrer nos braços também. Ao contrário da obesidade comum, a doença não é resultado do excesso de calorias ingeridas ou da falta de exercício, mas sim de uma condição genética que afeta o sistema linfático e a microvasculatura.

Doença negligenciada

Apesar de o primeiro relato da doença ter ocorrido há mais de 80 anos, de acordo com David Castro Stacciarini, advogado especializado em saúde, o lipedema passou a ser reconhecido pela OMS desde janeiro de 2022, com o CID EF 02.2. Essa demora trouxe impactos significativos, tanto para os pacientes, que acabam não reconhecendo os sintomas em si mesmos, quanto para o tratamento.

Juliana Tenório, cirurgiã plástica especialista em lipedema e associada da Associação Brasileira de Cirurgia Plástica (BAPS), destaca a negligência histórica em relação à condição.

O lipedema é uma doença que existe há décadas; o primeiro relato científico sobre o tema é de 1940, mas sua importância foi subestimada, especialmente no Brasil. Muitas vezes, a desproporção corporal causada pelo lipedema foi interpretada como uma questão estética, ignorando os sérios problemas de saúde que acompanham a condição”, comenta a médica.

Segundo ela, o reconhecimento e a conscientização sobre o lipedema são fundamentais para garantir que as mulheres afetadas recebam o tratamento adequado. “Para muitas mulheres, o diagnóstico de lipedema traz alívio, pois finalmente entendem que não estão sozinhas em sua luta”, diz Dra. Tenório.

No entanto, é crucial que a comunidade médica esteja bem informada sobre o lipedema para evitar diagnósticos incorretos e garantir que as pacientes recebam o cuidado e a atenção necessários”, destaca a médica.

Leia mais

É lipedema, gordura localizada ou retenção de líquido?
Lipedema não é ‘doença da moda’: entenda a síndrome da gordura dolorosa
Lipedema, a doença que pode ser confundida com obesidade

Aparência de pera

O médico cirurgião plástico Ícaro Samuel, que é membro fundador da BAPS e titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica (ASPS) explica que o lipedema frequentemente é confundido com a obesidade por causa da aparência que provoca nas áreas afetadas, muito semelhante. Mas, apesar disso, existem algumas diferenças entre as duas condições.

No lipedema, o acúmulo de gordura é resistente à dieta e ao exercício, enquanto na obesidade, os padrões de ganho de peso podem ser mais generalizados. Além disso, o lipedema, muitas vezes, leva a outros sintomas, como dor, sensibilidade, facilidade de hematomas e inchaço, que não são tão predominantes na obesidade”, explica.

Os sintomas do lipedema incluem acúmulo de gordura nas pernas e/ou braços que não diminuem com a perda de peso, além de dor ou sensibilidade ao toque nas áreas afetadas, hematomas e inchaço.

Formas de tratamento

Ainda de acordo com o especialista, o tratamento do lipedema pode envolver uma combinação de abordagens, como a terapia descongestionante, que inclui drenagem linfática manual e o uso de meias de compressão.

“Mudanças na dieta, exercícios de baixo impacto e perda de peso gradual também podem ser úteis e, em casos mais graves e persistentes, a cirurgia de lipoaspiração é considerada como uma forma de remover esse excesso de gordura”, finaliza doutor Ícaro.

Dra Juliana afirma que o tratamento do lipedema é multifacetado e multidisciplinar e vai além da intervenção cirúrgica, pois existem diversos fatores que interferem nos efeitos da doença no corpo.

Avaliamos caso a caso e tratamos da melhor forma o sono, a saúde emocional, a dieta e o metabolismo da paciente. Incentivamos a prática de exercícios e o uso de terapias dermo-linfáticas, drenagens linfáticas, escovação a seco, terapia compressiva com meia compressiva e um creme para aliviar as pernas”.

Leia ainda

Lipedema: como tratar a gordura em excesso nas pernas e braços?
Lipedema: a doença que impacta a qualidade de vida da mulher
Lipedema causa dor, hematomas e ainda afeta autoestima

Planos de saúde não cobrem lipoaspiração para tratar lipedema

A cirurgia é frequentemente recomendada como parte do tratamento para o lipedema. Consiste na lipoaspiração tumescente, um procedimento comum usado para remover o excesso de gordura e aliviar os sintomas da doença. No entanto, apesar da clara necessidade médica, muitas pacientes enfrentam obstáculos para obter cobertura dos planos de saúde.

Muitos planos de saúde normalmente não cobrem o procedimento de lipoaspiração para o tratamento de lipedema, muitas vezes devido à falta de profissionais credenciados e aos custos cirúrgicos”, explica o advogado David Castro Stacciarini.

Segundo ele, para garantir a cobertura do procedimento pelo plano de saúde, o paciente deve ter em mãos um diagnóstico claro, preferencialmente feito por um profissional credenciado pelo plano; um relatório sobre o tratamento e sua eficiência para o paciente, juntamente com a recomendação cirúrgica; solicitar a liberação da cirurgia com o plano de saúde e anexar todo o material e os exames.

David recomenda que, nessas situações, é prudente que o paciente tenha tentado outros tipos de tratamento antes de buscar a intervenção cirúrgica. Caso haja negativa do plano de saúde, restam duas alternativas: informar a ANS sobre a negativa e buscar a liberação por eles ou procurar um advogado que atue com liminares em saúde, podendo ser também a defensoria pública e, em alguns casos raros, até o Ministério Público.

Agenda Positiva

Cartilha esclarece sobre o lipedema

Para ampliar o conhecimento sobre essa condição, a Associação Brasileira de Cirurgia Plástica (BAPS) lança uma cartilha de conscientização voltada especialmente para as mulheres. O lançamento ocorre durante a segunda edição do BAPS Lipedema Day no dia 8 de junho, simultaneamente, em 10 cidades brasileiras: Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Maceió (AL), Curitiba (PR), Dourados (MS), Vitória (ES), Sorocaba (SP), Aracaju (SE), Goiânia (GO) e Natal (RN).

A cartilha tem como intuito oferecer recursos para que a população saiba como reconhecer a doença, como é feito o diagnóstico e como conseguir o tratamento adequado, reforçando e destacando a importância do cirurgião plástico neste processo”, comenta Daniel Botelho, presidente da BAPS.

Cada local contará com um cirurgião plástico associado da BAPS e especialista no assunto como embaixador para mediar as atividades do dia, que incluirão bate-papo, roda de conversa, atividades físicas, como aula de bike indoor ou treinamento funcional e orientação à população afetada pelo lipedema sobre como proceder para obter cobertura de tratamento pelos planos de saúde, que atualmente, na maioria dos casos, não incluem essa condição.

“Queremos mostrar para as mulheres, que são o principal público afetado pela doença, que ter um estilo de vida saudável traz diversos benefícios físicos e mentais”, diz Juliana Tenorio, que organiza o evento no Rio de Janeiro. “A ideia surgiu da necessidade de divulgar o lipedema e levar a informação de uma forma prática e dinâmica para a população”, comenta.

O BAPS Lipedema Day é uma oportunidade valiosa para difundir informações, derrubar mitos e mostrar que, com o tratamento correto, é possível melhorar significativamente a qualidade de vida das pessoas afetadas”, diz Juliana.

O evento tem como objetivo educar a população sobre o lipedema, o seu tratamento que consiste em dois pilares: o metabólico e o cirúrgico. Também visa evidenciar o papel do cirurgião plástico no tratamento da doença, desde o diagnóstico preciso até o acompanhamento pós-cirúrgico.

“Esse profissional não só realiza a cirurgia, mas também maneja a condição de forma abrangente, contribuindo significativamente para a melhora dos sintomas, estética e qualidade de vida dos pacientes”.

Com informações de assessorias

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!
Shares:

Related Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *