De acordo com um recente estudo publicado pela revista científica The Lancet, a cada ano, mais de 7 milhões de pessoas morrem por infecções relacionadas a resistência antimicrobiana. A mesma revista, em 2022, também publicou uma pesquisa na qual há a previsão de que até 2050 os óbitos relacionados a bactérias resistentes ultrapassem os causados pelo câncer, se tornando a principal causa de morte no mundo.
A resistência antimicrobiana (RAM) é um problema de saúde global crescente e ocorre quando os microorganismos – ou seja, bactérias e fungos causadores de diversas doenças – se tornam resistentes aos medicamentos que normalmente agem no seu combate, os antibióticos. Dessa forma, criam-se superbactérias relacionadas a infecções da corrente sanguínea, do trato urinário, pneumonia e outas, causando um grave problema de saúde pública.
No Brasil, desde a pandemia de 2019, os casos de infecções por RAM têm crescido, tanto devido à sobrecarga hospitalar e ao aumento do uso indiscriminado de medicamentos antibióticos – ou seja, uma das principais causas da resistência antimicrobiana. Crianças estão ainda mais suscetíveis a RAM. Dados da OMS estimam que 30% de recém-nascidos com infecção no sangue falecem devido à resistência de antibióticos de primeira linha.
Portanto a conscientização e o debate sobre o tema entre mães, pais, responsáveis, cuidadores e educadores é fundamental. De 18 a 24 de novembro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) promove a Semana Mundial de Conscientização sobre o Uso de Antimicrobianos. O objetivo dessa campanha é chamar atenção para o uso correto desses medicamentos e a importância de frear a resistência microbiana, que ameaça tornar ineficazes medicamentos fundamentais, como antibióticos e antifúngicos.
A resistência microbiana é, hoje, uma das dez maiores ameaças à saúde pública global, afetando milhões de pessoas, elevando o tempo de internação e aumentando custos de saúde. A Semana é um chamado para refletirmos sobre a importância desses medicamentos e como o uso responsável pode ajudar a preservar sua eficácia”, diz Michelle Zicker, infectologista do São Cristóvão Saúde.
Segundo ela, a resistência aos antimicrobianos compromete o tratamento e pode ser fatal em muitos casos, uma vez que limita as opções terapêuticas. “É uma situação que gera impacto em todo o sistema de saúde, tornando infecções que eram facilmente tratáveis em verdadeiros desafios, por aumentar a mortalidade e o tempo de internação”, explica.
Ela destaca a gravidade da resistência microbiana, uma ameaça que requer um esforço global. “Cada um de nós tem um papel crucial neste combate. Ao nos conscientizarmos e adotarmos práticas responsáveis, estamos ajudando a garantir que esses medicamentos continuem eficazes para as próximas gerações”, reforça.
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Mas, afinal, o que são os antimicrobianos e como surgiram?
Os antimicrobianos englobam medicamentos como os antibióticos, que combatem infecções bacterianas, e os antifúngicos, usados contra infecções causadas por fungos. A descoberta dos antibióticos revolucionou a medicina. Em 1928, Alexander Fleming descobriu a penicilina, que salvou milhões de vidas, tornando-se um marco no combate a doenças que antes eram fatais, como pneumonia e tuberculose.
Com o tempo, surgiram outros grupos de antibióticos, cada qual com ação específica contra diferentes infecções. Porém, o uso indiscriminado desses medicamentos ao longo dos anos gerou consequências graves: hoje, muitos microrganismos se tornaram resistentes aos tratamentos, dificultando o combate a infecções.
A resistência aos antimicrobianos ocorre quando um microrganismo – como uma bactéria ou fungo – adapta-se ao medicamento, tornando-se imune a ele. Isso significa que tratamentos que antes eram eficazes deixam de funcionar, fazendo com que os pacientes precisem de terapias alternativas, geralmente mais caras e com mais efeitos colaterais.
De acordo com a OMS, infecções por bactérias resistentes aumentam em 50% o risco de morte em comparação com infecções tratáveis. Na América Latina e no Caribe, um estudo de 2024 estimou cerca de 80 mil mortes associadas a bactérias resistentes em 2021, evidenciando que a resistência antimicrobiana é uma crise real e urgente.
O que causa a resistência aos antimicrobianos?
A resistência microbiana é um fenômeno natural, mas que tem sido acelerado pelo uso incorreto desses medicamentos. Entre os principais fatores estão o uso inadequado de antibióticos – como o consumo para tratar gripes e resfriados, que são infecções virais e não respondem a antibióticos – e o uso de antimicrobianos em animais saudáveis para promover crescimento, prática comum na agropecuária. Esses usos inadequados promovem a seleção de microrganismos resistentes, que podem ser transmitidos para humanos e animais, agravando o problema.
A Dra. Michelle enfatiza que o combate à resistência depende de ações coletivas, que vão desde o uso consciente de medicamentos pela população até práticas mais rigorosas entre profissionais de saúde. A médica alerta que o uso de antibióticos e antifúngicos deve sempre ser feito com cautela e orientação médica, evitando que as bactérias e fungos desenvolvam resistência.
A população pode fazer a sua parte ao usar medicamentos antimicrobianos com responsabilidade, sempre com orientação de um médico ou dentista, e seguir corretamente as instruções de uso”, afirma.
Algumas dicas para o uso adequado incluem:
- Jamais usar antimicrobianos sem prescrição médica;
- Seguir corretamente a dose e a duração do tratamento, sem interrompê-lo antes do tempo prescrito;
- Evitar armazenar sobras desses medicamentos e nunca compartilhar com outras pessoas.
Os profissionais de saúde também têm uma responsabilidade fundamental para minimizar a resistência. Entre as práticas recomendadas estão a prescrição de antimicrobianos apenas quando realmente necessário, evitando o uso para infecções virais e guiando-se por exames sempre que possível.
Gibi educativo esclarece sobre a RAM
A farmacêutica Sandoz, que produz medicamento genéricos, antibióticos e biossimilares, produziu uma revista infantil sobre resistência antimicrobiana em parceria com o Projeto Leiturinha, o maior programa de assinaturas de livros infantis do Brasil.
O gibi conta a história de super-heróis de uma cidade fictícia que protegem a população da ameaça das superbactérias ao mesmo tempo que se empenham em informar as crianças e familiares sobre os perigos do uso inadequado de medicamentos, especialmente antibióticos.
Os exemplares da revista serão distribuídos em junho entre os representantes da Força de Vendas em todo o Brasil – que serão responsáveis pela entrega em consultórios de médicos pediatras e endocrinologistas pediatras também. No total serão 25 mil revistas impressas além da versão online que será disponibilizada no site da Sandoz para visualização e download ao público.
Para ver a revista completa acesse: https://prod.cms.sandoz.com.