O inverno começou oficialmente no Hemisfério Sul na última sexta-feira (21). De acordo com o Climatempo, a estação mais fria e seca do ano deverá apresentar temperatura acima da média. O clima mais quente, no entanto, não reduz o contágio das doenças respiratórias.  Por isso, este período, que vai até 23 de setembro, traz consigo a necessidade de cuidados com a saúde respiratória, principalmente devido ao frio, ar seco e ventos fortes.

Embora a previsão indique um inverno menos rigoroso, esse fato não impede o contágio pelos vírus e pelas doenças respiratórias comuns ao período. Muitos deixam de se vacinar contra Influenza ou a Covid, por exemplo, por conta do clima mais quente. Independentemente da estação, os casos de gripes ocorrem o ano todo e podem aumentar em determinadas épocas. ”, comenta a infectologista Lígia Raquel Malheiro de Brito, professora da Universidade Santo Amaro (Unisa). 

Todos os anos, as estações de outono e inverno concentram o maior número de casos de infecções virais que afetam a capacidade de respirar bem.  A gripe (vírus influenza) e os resfriados comuns (rinovirus, vírus sincicial respiratório, etc) são as principais doenças virais do período. A covid-19, fruto do vírus Sars-CoV-2, também pode manter alta incidência na estação. O boletim Infogripe, da Fiocruz, sinalizou nas últimas semanas o aumento da incidência de casos de doenças respiratórias em boa parte do território brasileiro.

As temperaturas mais frias favorecem a inflamação dos brônquios e as chances de gripes, resfriados, crises asmáticas, rinite e até mesmo exacerbação de DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) ou pneumonia, especialmente com mudanças bruscas de temperatura, que estão cada vez mais comuns devido às ondas de calor fora de época e a amplitude térmica. Além disso, as pessoas tendem a passar mais tempo em ambientes fechados, facilitando a propagação de gripes e resfriados”, explica Tiago Grangeia, pneumologista do Hospital São Luiz Campinas, da Rede D’Or.

Nariz, ouvidos e a garganta

A queda de temperatura e o tempo seco, características dessa temporada, favorecem a propagação de vírus com maior intensidade, levando a doenças que comprometem, principalmente, as vias aéreas superiores, ou seja, o nariz, ouvidos e a garganta.

A transmissão ocorre com maior facilidade nesse período devido a necessidade de convívio em ambientes menos ventilados para se manter aquecido. Além disso, a baixa umidade relativa do ar, quanto mais extrema, aumenta a concentração de poluentes, dificultando ainda mais o funcionamento correto do sistema respiratório,” explica o presidente da Academia Brasileira de Rinologia (ABR) e membro da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), Otávio Piltcher.

Em situações de mudança brusca de temperatura, a função nasal pode ser prejudicada, diminuindo o sistema imune, responsável pelas defesas do organismo, o que deixa a saúde mais fragilizada, se tornando uma porta de entrada para enfermidades. O resultado dessa combinação de fatores é o aumento na busca por atendimento médico e das internações hospitalares.

Em muitos casos, há agravantes. Essas doenças podem levar a outras complicações, pelos próprios vírus ou por bactérias, como as otites médias agudas  (inflamação do ouvido), rinossinusites agudas, que é chamada popularmente de sinusite, bronquites, pneumonias, entre outras,” complementou.

Nas estações frias também são recorrentes os casos de faringoamigdalite, que é a infecção da faringe e das amígdalas, responsável por dor de garganta, febre e inchaço dos linfonodos do pescoço, chamado popularmente de íngua, além de aumento de crises de rinite alérgica e rinossinusite.

Assim como a otite, a adenoidite também é uma doença sequencial que surge como complicação às viroses. Há inchaço da adenoide, também chamada popularmente como “carne esponjosa” da criança, podendo ser acompanhado de febre, formação de catarro amarelo-esverdeado e obstrução nasal”, informa o médico.

Crianças e idosos são os que mais sofrem

Crianças e idosos são os mais afetados por problemas respiratórios, que podem se agravar se não forem bem cuidados.  O presidente da Academia Brasileira de Otorrino Pediátrica (ABOPe), Rodrigo Pereira, destaca que as crianças são as que mais sofrem nesse período, também conhecido como estação viral pelos médicos.

O sistema imunológico das crianças continua em desenvolvimento, ou seja, ele tem menos experiência em lidar com infecções virais do que o dos adultos. Além disso, elas frequentam berçários, creches e escolas, onde o contato próximo com outras crianças e a troca de brinquedos é comum, o que facilita a disseminação de vírus, especialmente aqueles que se espalham pelo ar ou por contato direto”, esclarece.

As viroses respiratórias, que causam congestão nasal, dificuldade de respirar, tosse, dor de cabeça, febre e mal-estar como principais sintomas, também podem evoluir para outros problemas. Grande parte das crianças que têm quadro de gripe ou resfriado desenvolve infecções de ouvido, a otite, que gera dor na região. O problema é tão comum nesse público que especialistas estimam que cerca de 70% das crianças terão um episódio do tipo antes de completarem cinco anos, segundo estudos médicos.

A falta de cuidado com a higienização das mãos pode favorecer a proliferação dos adenovírus, responsáveis por causar resfriados comuns, conjuntivite (infecção nos olhos), bronquite e até mesmo levar para um quadro de pneumonia. Segundo Lígia Brito, a contaminação por secreção e pelas mãos é mais comum em crianças.

Os menores de cinco anos concentram os casos mais severos por ainda não estarem totalmente imunizados. Os idosos também são mais vulneráveis e podem evoluir de um resfriado comum para uma lesão pulmonar e demais complicações de saúde, que desencadeiam os quadros mais graves. A manutenção dos cuidados de higiene e a regularidade com o calendário vacinal são ações fundamentais”, alerta.

Manter as vacinas em dia é necessário

Tiago Grangeia, pneumologista do Hospital São Luiz Campinas, da Rede D’Or, também reforça que é crucial manter as vacinas em dia.  “A imunização contra influenza, pneumonia, covid-19, vírus sincicial respiratório e coqueluche ajuda a prevenir problemas respiratórios graves”.

Para crianças ou adultos, uma das medidas mais eficazes de prevenção é a imunização contra a influenza, bem como manter em dia a cobertura vacinal conforme a faixa etária, que envolve a proteção de outras doenças. A infectologista Lígia Raquel Malheiro de Brito, que atua no setor da saúde em hospitais públicos e privados, já observa um aumento nos casos de Influenza, assim como nos de Covid, que ainda requer controle no contágio.

A imunização da população é necessária para evitar a transmissão do vírus da gripe, bem como para reduzir os quadros de complicações e demais doenças respiratórias, como a pneumonia. A vacina contra Influenza ajuda na produção de anticorpos contra o vírus da Influenza e deve ser atualizada todo ano”, pontua a médica.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a vacinação deva ser atualizada todo ano, uma vez que os imunizantes são comprovadamente eficazes e protegem contra novas cepas do vírus. Como forma de prevenir a população, desde abril o Ministério da Saúde recomenda a vacinação contra a Influenza para todas as pessoas com mais de seis meses.

No caso das crianças que vão receber a vacina pela primeira vez, ela deve tomar duas doses do imunizante no intervalo de 30 dias. “Infelizmente é comum as pessoas não manterem a regularidade anual das vacinas ou deixarem de tomar a vacina por não apresentar sintomas”, comenta a infectologista.

Cuidados com a hidratação e alimentação podem ajudar na prevenção

Além da vacinação, o pneumologista Tiago Grangeia explica que para evitar esses problemas, alguns hábitos são essenciais, como manter-se hidratado, vestido adequadamente com roupas quentes, manter ambientes arejados e umidificados, e evitar exercícios físicos quando a umidade do ar estiver abaixo de 30%.

São itens simples, e muitas vezes subestimados, porém eficazes para prevenção de quadros respiratórios, que tem como principais sintomas a congestão nasal, fragilidade na garganta e secreção nos pulmões”, ressalta.

O especialista lembra ainda que vírus como o H1N1 e o coronavírus tendem a retornar no inverno. Por isso, medidas de distanciamento social e higiene são essenciais. “Se estiver com sintomas respiratórios, evite locais fechados e lotados, use máscara e lave as mãos com frequência”, orienta Grangeia.

Consultas médicas regulares e, em casos graves, atendimento de urgência são importantes, especialmente para pessoas mais vulneráveis. Cada infecção tem um tratamento específico, por isso, é importante ter orientações personalizadas e evitar a automedicação. Manter uma alimentação saudável e rica em vitaminas é crucial para fortalecimento do organismo.

Nosso corpo precisa de mais nutrientes no frio. Uma dieta com pelo menos três frutas, incluindo uma de casca vermelha, rica em vitaminas A e C, é fundamental. Vegetais e leguminosas também ajudam, pois contêm flavonoides que melhoram a circulação nasal e são anti-inflamatórios. Evitar alimentos industrializados e gordurosos é outro passo importante para evitar doenças”, recomenda o médico.

Tratamento: atenção a antibióticos e corticoides

Na presença de qualquer um desses sinais e sintomas, inicialmente é indicado manejo com analgésicos e antitérmicos comuns, contudo, conforme a intensidade e duração das queixas,  o especialista indica a procura de atendimento médico para o correto diagnóstico e diferenciação entre quadros virais, com manutenção da conduta, ou complicações bacterianas, onde os antibióticos podem ser indicados.

O presidente da Academia Brasileira de Rinologia (ABR) enfatiza que a opção pela prescrição de antibióticos pelo profissional de saúde deve ficar restrita a condições específicas vinculadas a quadros bacterianos. “Esses medicamentos não têm nenhum papel para tratamento de infecções virais e tampouco previnem complicações. Seu uso indiscriminado é mais associado a efeitos adversos do que vantajosos”.

Além disso, o especialista alerta que o uso de corticoides orais, utilizado de forma assustadoramente frequente em pacientes com sintomas das vias aéreas, também é contraindicado na maioria desses casos.  “Além de não haver evidências de benefício, o seu uso frequente está associado a consequências na saúde tanto para crianças quanto para adultos”, orienta Piltcher.

Ele também recomenda hidratação frequente, alimentação saudável e higiene de mãos, bem como o uso de máscaras por profissionais e pacientes que apresentarem quaisquer sinais e sintomas como febre, dor de garganta, coriza, tosse, obstrução nasal, rouquidão.

Com Assessorias

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