O nível de poluição em alguns pontos do Rio de Janeiro (capital e estado) chega a ser três vezes superior ao limite sugerido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A constatação é de um estudo desenvolvido pelo Departamento de Química do Centro Técnico Científico da PUC-Rio (CTC/PUC-Rio), publicado recentemente na revista científica Air Quality Atmosphere & Health. O estudo mostra altas concentrações médias anuais do nível do PM2.5 (material particulado fino ou, em inglês, fine particulate matter), um dos grandes vilões da poluição do ar e responsável por danos ao clima e à saúde humana.
“Chegamos ao resultado de que as concentrações médias anuais em muitos locais do estado chegam a ser três vezes maiores que o limite sugerido pela OMS, que é de 10 µgm-3, como no bairro de Jacarepaguá”, aponta a professora Adriana Gioda, especialista em Química, que coordenou o trabalho de doutorado da aluna do CTC/PUC-Rio Luciana Ventura. Segundo ela, em todo o Brasil, faltam análises sobre a poluição atmosférica e, principalmente, sobre o PM2.5. Por isso, os pesquisadores se aprofundaram nessa carência e realizaram este completo e inédito estudo para avaliar os níveis e composição química desse material no ar, em parceria com o Inea (Instituto Estadual do Ambiente), que em 2011 implementou sua rede de monitoramento de PM2.5,
Segundo Adriana, a poluição atmosférica é um dos problemas ambientais crônicos das grandes metrópoles, sendo sua composição química um grande desafio para muitos pesquisadores que buscam identificar quais são os riscos desses poluentes lançados na natureza todos os dias. O estudo avaliou e concluiu que um fato grave é que o PM2.5 não é legislado no Brasil, e a falta de pesquisas dificulta a definição de padrões, embora seja reconhecidamente tóxico. “As partículas finas, como a do PM2.5, são um dos principais poluentes do ar. A composição química desse elemento impacta negativamente tanto a saúde quanto o clima, sendo este um dos maiores causadores de doenças respiratórias”, ressalta a professora.
Os dados foram coletados em áreas urbanas e rurais do Estado do Rio de Janeiro, incluindo a capital. Notou-se que, nas regiões urbanas, as concentrações do material particulado eram mais altas, provavelmente pelo número maior de veículos circulantes, que são uma das fontes de emissão desses poluentes na atmosfera. O estudo foi publicado recentemente na revista científica Air Quality Atmosphere & Health. Em entrevista exclusiva ao ViDA & Ação, Adriana fala mais sobre o assunto.
– Há dados sobre os tipos de doenças que esse poluente pode causar?
O tamanho das partículas está diretamente ligado ao seu potencial para causar problemas de saúde. Quanto menor o tamanho da partícula, mais profundamente ela pode penetrar no trato respiratório e, em seguida, na corrente sanguinea, causando uma série de problemas cardiorespiratórios. Numerosos estudos científicos associaram a exposição à poluição de partículas finas (PM2.5) a uma variedade de problemas, tais como: morte prematura em pessoas com doença cardíaca ou pulmonar, ataques cardíacos não fatais, arritmia cardíaca, agravamento da asma, diminuição da função pulmonar, irritação das vias aéreas, tosse ou dificuldade em respirar, etc. Idosos e crianças são os grupos mais afetados. Além dos efeitos à saúde, o material particulado também causa sérios danos ao meio ambiente e tem influência no clima.
– O que pode explicar esses altos índices nesses bairros/localidades, especificamente? a presença de indústrias? poluição causada pelos veículos?
Existem partículas suspensas no ar de diferentes tamanhos que podem ser geradas por fontes naturais ou antropogênicas. As partículas de PM2.5 são, em sua maioria, geradas por fontes antropogênicas. Os processos de queima tanto de biomassa quanto de combustíveis fósseis são as principais fontes. Nas grandes cidades, os veículos são os maiores emissores de PM2.5.
– Qual a próxima etapa desse estudo?
Para este ano vamos dar início ao estudo para avaliar as mudanças na composição dos combustíveis e como isso impacta a qualidade do ar.
– O estudo prevê medidas para reduzir esses índices? O que pode ser feito?
Somos todos responsáveis pela emissão de poluentes. Há várias formas de reduzir as emissões de partículas, tais como:
– substituir os veículos antigos por veículos mais modernos, com motores mais eficientes e menos poluentes;
– caminhar, usar bibileta, ou transporte público ou compartilhar o veículo sempre que possível;
– fazer a manutenção frequente do veículo;
– economizar energia, e sempre que possível usar energia energias renováveis;
– evitar todo o tipo de queima
Além disso, a implementação de um padrão de qualidade para este tamanho de partícula.
Veja abaixo a relação das médias anuais de PM2.5 em cada região:
Bairro/Cidade | Concentração de PM2.5 (média) |
Jacarepaguá (RJ) | 32 |
Duque de Caxias | 21 |
Belford Roxo | 20 |
Centro (RJ) | 17 |
Ramos (RJ) | 17 |
Maracanã (RJ) | 16 |
São João de Meriti | 16 |
Resende | 13 |
Recreio dos Bandeirantes (RJ) | 12 |
Copacabana (RJ) | 11 |
Seropédica | 11 |