Quer parar de fumar, mas não sabe por onde começar nem tem dinheiro para investir em um tratamento antitabagismo? Pois saiba que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece um serviço gratuito de atendimento a pessoas que desejam deixar o hábito, que mesmo que as pessoas sempre neguem, evolui para um vício, uma dependência.  Na rede pública de saúde, diversas unidas básicas oferecem um trabalho de conscientização e apoio na luta contra o vício de forma gratuita.

“Eu não fumei durante a maior parte da minha vida, mas por influência de companhias, comecei a fumar consciente de todos os males. No fim das contas, acabei procurando o grupo para sair do vício. Era essa a força que eu precisava”, relata Santuza de Castro Silva, de 71 anos, que foi tabagista durante 10 anos.
Ela conta que a equipe do programa proporcionava palestras e testemunhos dos colegas, que a ajudaram a parar de fumar, uma decisão sacramentada em 14 de julho de 2022. Menos de um ano depois, ela já sente a diferença:
“Minha vida mudou completamente. Hoje eu tenho mais saúde, disposição e vontade de contribuir para que todos parem de fumar. Posso dizer que sou outra pessoa, mais liberta e feliz. Agradeço aos colegas do grupo, a toda a equipe e ao SUS por esse apoio e continuo firme no propósito”, conta ela.

SUS oferece grupo de apoio ao tabagismo para fumantes e ex-fumantes

Santuza é uma das cerca de 150 pacientes que receberam assistência a partir do grupo de apoio ao tabagismo da UBS Jardim Capela (SP), gerenciada pelo Cejam – Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim, em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo. A unidade realiza encontros semanais com fumantes e ex-fumantes.

“A ação é uma maneira de alcançar um maior número de pessoas de uma única vez. Ao mesmo tempo em que, proporciona uma abordagem mais intensiva, o que não é viável em atendimentos individuais durante consultas médicas ou de enfermagem. Além disso, a definição de dias e horários fixos cria uma rotina para o paciente, o que contribui de maneira disciplinar para uma maior efetividade na cessação do tabagismo”, afirma Rodrigo Silva Cunha, coordenador médico do Grupo de Tabagismo da UBS Jardim Capela.

O grupo de apoio é composto por enfermeiros, farmacêuticos e médicos, que realizam sessões com o objetivo de informar e auxiliar o paciente na redução gradual do tabagismo até o fim da dependência completa.

Durante as reuniões, são realizadas ações de conscientização e informação sobre os riscos do vício e do uso de qualquer dispositivo ou produto contendo tabaco e/ou nicotina. Inclusive, são apresentados aos participantes os inúmeros benefícios que a interrupção do uso do tabaco proporciona para a saúde.

“As informações são transmitidas por meio de palestras ministradas pelos profissionais da unidade, bem como por meio do compartilhamento de experiências dos pacientes, que relatam tanto os benefícios de fazer parte de uma rede de apoio, quanto as dificuldades enfrentadas em suas rotinas durante o processo de parar de fumar”, complementa o médico.

Atendimento com adesivos e auriculoterapia

Quando necessário, também é utilizada a abordagem farmacológica, como a terapia de reposição de nicotina por intermédio de adesivos transdérmicos e medicamentos administrados oralmente.

Para dar o melhor suporte a esses pacientes, a UBS também oferece uma equipe multidisciplinar que realiza auriculoterapia, uma especialidade semelhante à acupuntura, utilizando pontos nas orelhas para tratar diversas patologias. Além disso, há apoio nutricional e sessões em grupo com psicólogos e psiquiatras.

Os encontros ocorrem durante todo o ano e são divulgados em consultas médicas e de enfermagem, visitas domiciliares dos Agentes Comunitários de Saúde quando identificam algum tabagista na casa e durante o acolhimento na Unidade Básica de Saúde.

Até 50% deixam de fumar logo no primeiro mês de tratamento

A Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-Rio) informa que entre os fumantes que buscam o tratamento nas unidades básicas de saúde, 40% a 50% param de fumar no primeiro mês. A maioria tem mais de 40 anos, começou a fumar cedo, antes dos 19 anos de idade, e alguns já possuem alguma doença relacionada ao fumo.

Embora as pessoas saibam de todos os malefícios do uso da substância, abandonar o vício do cigarro e de produtos à base de tabaco é uma tarefa extremamente desafiadora, o que torna o processo de parar de fumar ainda mais complexo.

“O cigarro provoca três tipos de dependências: física, comportamental e emocional. Não adianta só falar para fumante que faz mal. Na primeira entrevista do programa, tentamos perceber qual a ligação dele com o cigarro e fazê-lo se reconhecer nessas dependências para saber lidar com elas. A interrupção não é mágica”, explica a responsável pelo Programa de Controle do Tabagismo da SMS-Rio, a psicóloga Ana Helena Rissin.

Segundo Rissin, a pessoa escolhe a data em que pretende parar de fumar e, nesse período, aprende estratégias para tal. Os profissionais de saúde buscam motivar o paciente, mostrando as vantagens de abandonar a prática, inclusive os ganhos financeiros.

“No final do tratamento, há até casos de pessoas que reformaram a casa com o dinheiro que usavam para comprar os maços de cigarros. Sem falar nos benefícios para a saúde. Vale lembrar que tanto o cigarro tradicional quanto o eletrônico liberam inúmeras substâncias tóxicas e cancerígenas tanto para quem fuma quanto para os que estão ao seu redor”, ressalta.

Como participar

Há tratamento disponível nas unidades de Atenção Primária da cidade (centros municipais de saúde e clínicas da família) para quem quer largar o vício de fumar. Aos interessados, mais informações e direcionamentos sobre esse tipo de atendimento podem ser adquiridos na Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua residência.

Para ingressar no programa, a pessoa deve procurar a unidade de saúde mais próxima da sua casa. O tratamento pode ser em grupo ou individual, e começa com um acompanhamento semanal durante um mês. Depois a periodicidade das consultas passa a ser quinzenal e, por fim, mensal, por um período de até um ano, a fim de se evitar recaídas.

É proibido fumar

A SMS-Rio alerta ainda sobre a proibição do consumo de qualquer produto fumígeno, derivado ou não do tabaco, em ambientes de uso coletivo, públicos ou privados, total ou parcialmente fechados, conforme a Lei Federal 9294/96 e a Lei Estadual 5517/09. Isso inclui o cigarro eletrônico, vape, pod, e-cig e narguilé, entre outros. Para conscientizar comerciantes e consumidores, o Instituto Municipal de Vigilância Sanitária (Ivisa) realiza atividades educativas a respeito da legislação e malefícios do consumo desses produtos.

Palavra de Especialista

Pare de fumar e ganhe mais qualidade de vida 

Por Ricardo Siufi*

Fechando o mês de maio, no dia 31, temos o Dia Mundial Sem Tabaco, uma campanha global que busca conscientizar as pessoas a respeito dos males do tabagismo e apoiar as políticas públicas de restrição ao uso de cigarro. Infelizmente, embora tenha sido criado em 1987, um dia como esse não é capaz de mudar a cabeça de tantas pessoas que ainda fumam, mas é um esforço que vale a pena ser mantido. 

O tabagismo é um problema de saúde pública global. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), trata-se da principal causa evitável de morte em todo o planeta, responsável por cerca de 8 milhões de óbitos todos os anos. Estima-se que quase 1,3 bilhão de pessoas são adeptas ao tabagismo no mundo, o que representa cerca de 20% da população adulta global; e o consumo de tabaco é mais prevalente em países de baixa e média renda, onde as políticas de controle do tabagismo são menos abrangentes e eficazes.

Mesmo sendo parte desse grupo de países, o Brasil possui bons resultados no controle do tabagismo. Segundo dados do Ministério da Saúde, o percentual total de fumantes com 18 anos ou mais no Brasil é de 9,1% (quase 20 milhões de pessoas), com maior concentração no público masculino.

Embora os dados do tabagismo no Brasil indiquem uma tendência de redução no número de fumantes nas últimas décadas, ainda há desafios a serem enfrentados, como a alta prevalência de fumantes entre pessoas de baixa renda e a exposição ao tabagismo passivo em ambientes públicos e privados, bem como o advento dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs).  

O tabagismo é responsável por uma série de problemas de saúde, incluindo doenças cardiovasculares, câncer, doenças respiratórias e problemas de saúde mental. Além disso, o tabagismo também afeta a economia global, causando perdas significativas em termos de produtividade e custos de saúde. 

Sobre os DEFs – cigarros eletrônicos e vapes – vale lembrar que a importação, venda, propaganda e publicidade são proibidas em território nacional desde 2009. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a decisão foi tomada com base em estudos que indicavam que esses dispositivos representavam riscos à saúde pública e que não havia evidências suficientes para comprovar sua segurança e eficácia. A ANVISA tem reforçado a proibição dos cigarros eletrônicos e, portanto, sujeitos às mesmas restrições legais que os cigarros convencionais. 

Parar de fumar é difícil, pois trata-se de uma dependência. Ela ocorre principalmente em razão da nicotina, um alcaloide que age no sistema nervoso central e é responsável pela sensação de prazer e relaxamento que muitos fumantes relatam sentir ao fumar. Quando a nicotina é inalada através da fumaça do cigarro, ela é rapidamente absorvida pelos pulmões e levada para o sistema nervoso central.

Lá, a nicotina se liga a receptores específicos nas células nervosas e desencadeia a liberação de neurotransmissores, como a dopamina, que produzem sensação de prazer e bem-estar. O problema é que, com o tempo, o cérebro se adapta à presença constante da nicotina e os receptores de nicotina se multiplicam. Isso pode levar a uma maior dependência do alcaloide e a uma necessidade cada vez maior de fumar para manter a sensação de prazer e evitar os sintomas de abstinência.

Além da nicotina, o cigarro também contém outras substâncias químicas que podem causar dependência, como a acetaldeído e a acroleína. Por isso, o cigarro é considerado uma das drogas mais viciantes e prejudiciais à saúde. 

Porém, por mais desafiador que seja, parar é possível. Demanda esforço e determinação, além de uma mudança na rotina, pois muito do vício no cigarro se relaciona com os hábitos do fumante. Vale lembrar que, atualmente, existem diversas alternativas terapêuticas para a cessação tabágica, que vão desde a psicoterapia até terapias farmacológicas, com evidências robustas na literatura. 

Portanto, se você é tabagista e já pensou ou tentou cessar o tabagismo e não conseguiu, procure um profissional de saúde. Caso ainda não tenha considerado parar de fumar, considere.  

* Ricardo Siufi é pneumologista e professor do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa. 

Com Assessorias

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