O ator, empresário e modelo Luciano Szafir, de 52 anos, é um dos milhares de brasileiros que sofrem com as consequências da Covid-19. Após 32 dias de internação, intubação e duas cirurgias para se recuperar da doença, ele precisou utilizar uma bolsa coletora para a região do intestino, chamada bolsa de estomia, também conhecida popularmente por bolsa de colostomia.

Na semana dedicada ao Dia Nacional da Pessoa com Estomia (16/11), Szafir surpreendeu a todos ao desfilar na coleção do estilista Walério Araújo na 52ª edição da São Paulo Fashion Week (SPFW), mostrando seu novo ‘acessório’. Seu propósito é chamar atenção para a causa de quem tem a mesma condição: a estimativa é que 120 mil brasileiros convivam com a bolsa de estomia e cerca de 15 mil passam pelo procedimento todos os anos.

“Depois de tantos anos, este desfile tinha tudo para ser muito especial para mim. Além da minha volta às passarelas, vi que era a oportunidade perfeita para defender uma causa nobre e muito importante para a nossa sociedade. Quero quebrar o preconceito, normalizar e fazer entender que um estomizado não precisa sofrer privações. Vida normal. E, tomara, que esta ação mude a visão que muitos ainda têm sobre quem usa uma bolsa de estomia”, disse ele, após o desfile, na noite desta quinta-feira (18/11).

Para isso, Szafir pediu ao estilista uma roupa personalizada para deixar a bolsa visível, como forma de combate ao preconceito contra quem tem um estoma e mostrar que isso não é motivo de aversão, tristeza, vergonha ou reclusão. Pelo contrário! “Quero que as pessoas possam ver que isso pode acontecer com qualquer um. Essa cirurgia salvou a minha vida e eu não tenho motivo para ter vergonha de usar uma bolsa de estomia”,

Apelo por banheiros públicos adequados

Como muitos brasileiros, Szafir renasceu ao ter a oportunidade de corrigir um problema no seu intestino decorrente de uma sequela da Covid-19, doença que o atingiu pela segunda vez em meados deste ano. Na ocasião, ele passou a usar a bolsa e, desde então, agradece diariamente pela chance que teve de continuar vivo, algo que seria impossível sem ela.

O ator conta que, até fazer a cirurgia, não tinha noção deste universo de quem usa uma bolsa de estomia. Por isso, se sente responsável em quebrar qualquer tabu referente ao tema e mostrar que é possível ter uma vida livre como qualquer pessoa.

“Quem não conhece, julga e, mesmo sem querer, tem atitudes preconceituosas. Seja na hora de contratar um funcionário, se relacionar afetivamente, entre outras coisas”, complementou.

Ele ainda alerta para que o atendimento e o respeito a quem usa bolsa seja uma ação permanente na sociedade: “Banheiros públicos para quem usa bolsa é algo urgente. Eles têm que ser projetados de modo que o esvaziamento seja feito de forma higiênica e confortável. Por que é tão difícil isso virar lei em todo o Brasil?”.

O ator, empresário e modelo Luciano Szafir desfilou na São Paulo Fashion Week com bolsa de estomia à mostra (Foto: Cauê Moreno)

Logo após a cirurgia, a empresa dinamarquesa Coloplast ofereceu ao ator sua nova bolsa de estomia, a SenSura Mio. O ator confirma que o modelo lhe trouxe praticidade, segurança, melhor qualidade de vida e simplicidade na hora de usar ou trocar a bolsa.

“No início, tive medo e um pouco de dificuldade, algo normal diante do novo. Mas tudo é uma questão de adaptação e logo isso virou rotina”. E acrescenta: “Não deixei de fazer nada por causa da bolsa. Voltei à vida normal e a proposta é justamente mostrar que a bolsa não define ninguém”, revela o modelo.

Condição pode ser temporária ou definitiva

As causas são inúmeras, desde motivadas pelas consequências da Covid-19 até outras doenças como câncer de cólon, acidentes com perfurações abdominais, lesões no reto e doença de Crohn. A vida com a bolsa de ostomia pede alguns cuidados, como as etapas de troca e higiene da bolsa, assim como os cuidados emocionais envolvidos na etapa de adaptação à nova rotina. 

Ainda é um tabu falar sobre esse procedimento, que garante a comunicação entre órgãos internos e o meio externo no processo de expelir fezes, urina e secreções. No caso de Luciano Szafir, a condição é temporária, mas para muitos a ostomia é irreversível. Uma das grandes dificuldades de quem passa pelo procedimento é a limpeza da bolsa e o temor relacionado a odores em eventuais vazamentos, o que pode trazer ao ostomizado uma reação de reclusão social.

No propósito de ser mais uma voz a favor de quem usa uma bolsa, o ator tornou-se embaixador da Coloplast, para gerar empatia, acolhimento de toda a sociedade, além de conscientização e conhecimento a quem tem esta condição de vida.

“Junto ao ator e empresário Luciano Szafir, nós queremos levar o tema a um patamar maior de conhecimento e ajuda à sociedade, quebrando um tabu, explicando que todos nós podemos um dia ter um estoma e que isso significa uma história de vida e superação, uma vitória, e não algo para ser olhado com preconceito”, ressalta Luiz Tavares, diretor geral da Coloplast.

Bancária convive com bolsa desde que nasceu

Bancária Viviani Oliveira usa a bolsa coletora (Foto: Divulgação)

A bancária Viviani Oliveira, de 35 anos, nasceu sem o intestino grosso, o reto e com o ânus imperfurado. Precisou usar fraldas até os 22 anos devido a uma incontinência urinária e depois, com a ostomia, passou a utilizar somente a bolsa coletora. Hoje ela faz um importante trabalho na internet para acolher, empoderar e ajudar outros ostomizados a conquistarem autonomia na rotina por meio do @ostomiasemtabuoficial.

Recentemente, Viviani esteve com Luciano Szafir nas redes sociais falando sobre o assunto em uma live. “Eu conheço bem essa jornada. Vivi algumas situações constrangedoras em função da bolsa de ostomia, tanto pelo odor quanto pelos incidentes de vazamentos. Cansei de me sujar e foi desesperador. No início, ainda criança, eu tive a ajuda da minha família, mas precisei me tornar independente e aprender a fazer tudo sozinha”, conta Viviani. 

Para auxiliar em sua rotina diária, ela conta com o Gelificador, produto da Vuelo Pharma que solidifica as fezes armazenadas na bolsa de ostomia, facilitando a limpeza e evitando vazamentos, além de ter essência de lavanda, o que evita o mau cheiro. O produto é fácil de usar, basta colocar as cápsulas no interior da bolsa coletora e substituir a cada troca.

“O Gelificador é como uma injeção de autoestima e de segurança. Ele facilita os cuidados com a bolsa e a essência de lavanda contribui muito para o nosso bem-estar”, detalha Viviani, que há anos utiliza o produto, um dos poucos com tecnologia 100% nacional para facilitar a vida de quem convive com a bolsa coletora.

Cuidado às Pessoas Adultas com Estomia de Eliminação

Com rigor científico e aval dos mais importantes especialistas do país, a Associação Brasileira de Estomaterapia (Sobest) lançou no dia 16 de novembro, Dia Nacional da Pessoa com Estomia,1º Consenso Brasileiro de Cuidado às Pessoas Adultas com Estomia de Eliminação. 

Ele traz todo o detalhamento a ser seguido nas assistências pré-operatória, intraoperatória e pós-operatória a quem faz uma cirurgia de estomia, se tornando fundamental para profissionais de saúde em busca do melhor aperfeiçoamento e atualização profissional por meio da prática clínica baseada em evidência científica. O lançamento virtual ocorreu no site http://mail.coloplast.com/ConsensoBrasileiro.

  • A proposta do Consenso é melhorar o padrão de cuidado das pessoas com estomia e trazer evidências científicas que ajudem a criar processos de reabilitação, autocuidado e acompanhamento, garantindo qualidade de vida, socialização, segurança e minimizando riscos e complicações.
  • “É um momento histórico: este é o primeiro consenso nacional que tem o objetivo principal de subsidiar profissionais e instituições de saúde para uma assistência de excelência na área de estomaterapia e espera-se também que seja um documento fundamental para subsidiar as políticas públicas destinadas às pessoas com estomia de todo Brasil”, revela Sônia Dantas, presidente da Sobest na gestão 2021-2023. 

Consenso com base em evidências científicas

A elaboração do consenso foi dividida em quatro fases: revisão sistemática da literatura, construção das declarações de consenso, validação das declarações de consenso e revisão técnica. Para a revisão sistemática, foram formuladas questões clínicas pertinentes, utilizando a estrutura PICOS (população, intervenção, comparação, objetivo clínico e desenho do estudo), gerando a elaboração de 17 perguntas estruturadas, de acordo com os períodos pré-operatório, intraoperatório e pós-operatório (imediato, mediato e tardio).

Após as perguntas, uma empresa especializada na prestação de serviços de conhecimento científico aplicados à saúde foi associada à equipe para a busca e organização da base de publicações científicas necessárias para a elaboração das declarações.

A busca sistemática foi realizada nas bases de dados eletrônicas PubMed/Medline, Scopus, Lilacs e Cinahl, assim como uma busca manual das diretrizes e documentos mais recentes das principais associações de estomaterapia do mundo.

Foi realizada também uma busca adicional nas três principais revistas especializadas no assunto: Brazilian Journal Enterostomal Therapy – Revista Estima, Journal of WoundOstomy, and Continence Nurses Society (JWOCN) e Jornal of World Council of Enterostomal Therapists (JWCET).

A avaliação e síntese qualitativa dos estudos incluídos com base no nível de evidência (NE) e grau de recomendação (GR) foi realizada de acordo com a Oxford Centre Evidence-Based Medicine. Das 39.124 publicações encontradas, 233 atenderam às perguntas estabelecidas no estudo.

Leia mais

‘Minha estomia não me define’: campanha derruba preconceito contra bolsa
‘As pessoas culpam a ostomia, mas ela não é o problema; é a solução’
Colostomia de Bolsonaro é realidade para 80 mil brasileiros

 

Com Assessorias (matéria atualizada em 18/11/21, às 22h50)

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