O câncer é a segunda principal causa de morte no Brasil, com mais de 700 mil novos casos por ano, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Globalmente, a estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que o câncer seja responsável por cerca de 10 milhões de mortes anuais.
Uma pesquisa recente realizada por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), publicada na revista científica Lancet Regional Health – Americas, aponta que no Brasil o câncer já é a maior causa de morte em algumas cidades, superando até mesmo as doenças cardiovasculares, que historicamente lideram esse ranking.
Para o cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), hábitos saudáveis, diagnóstico precoce e tratamento adequado podem ajudar a reverter os números.
Esse cenário alerta para a necessidade urgente de maior atenção à prevenção, diagnóstico precoce e tratamento eficaz do câncer. A crescente taxa de incidência e mortalidade exige que tanto a população quanto as entidades públicas se engajem de forma mais robusta em ações de conscientização, políticas de saúde pública e investimentos em infraestrutura médica”, analisa.
HOMENS | MULHERES | ||||
Localização primária | Casos | % | Localização primária | Casos | % |
Próstata | 71.730 | 30,0% | Mama feminina | 73.610 | 30,1% |
Cólon e Reto | 21.970 | 9,2% | Cólon e Reto | 23.600 | 9,7% |
Pulmão | 18.020 | 7,5% | Colo do útero | 17.010 | 7,0% |
Estômago | 13.340 | 5,6% | Pulmão | 14.540 | 6,0% |
Cavidade Oral | 10.900 | 4,6% | Glândula Tireoide | 14.160 | 5,8% |
Esôfago | 8.200 | 3,4% | Estômago | 8.140 | 3,3% |
Bexiga | 7.870 | 3,3% | Corpo do útero | 7.840 | 3,2% |
Laringe | 6.570 | 2,7% | Ovário | 7.310 | 3,0% |
Linfoma não Hodgkin | 6.420 | 2,7% | Pâncreas | 5.690 | 2,3% |
Fígado | 6.390 | 2,7% | Linfoma não Hodgkin | 5.620 | 2,3% |
Fonte: Inca
Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes estimados para 2023 por sexo, exceto pele não melanoma*
Prevenção primária, secundária e terciária – entenda
Na visão do presidente da SBCO, o combate ao câncer é um esforço coletivo e cada profissional desempenha um papel crucial nesse processo. “A união entre diferentes especialidades é fundamental para oferecer um cuidado integral ao paciente, aumentando as chances de sucesso no tratamento e promovendo uma melhor qualidade de vida”, afirma.
No Brasil, cerca de 30% dos casos de câncer poderiam ser evitados com a mudança desses comportamentos, de acordo com o Inca. “Entre as principais medidas preventivas estão a adoção de uma alimentação adequada, a prática regular de exercícios físicos e a abstenção do tabagismo”, explica o presidente da SBCO.
A prevenção primária é o primeiro passo que deveria ser adotado pela população, pois envolve a adoção de hábitos saudáveis para evitar fatores de risco que favorecem o desenvolvimento do câncer. Já a prevenção secundária se refere à detecção precoce, por meio de exames regulares que possibilitem identificar a doença em estágios iniciais, quando as chances de cura são significativamente maiores.
As consultas regulares aos especialistas e exames de rastreamento, podem ser cruciais para realização de diagnósticos precoces. Isso contribui para tomadas de decisões rápidas, tratamentos menos complexos e mais chances de cura”, diz Rodrigo.
Por fim, a prevenção terciária visa o tratamento imediato e preciso, que visa o melhor prognóstico, com maiores taxas de cura e ênfase na reabilitação do paciente. “A equipe multidisciplinar é essencial nesse momento, oferecendo suporte completo nas áreas de fisioterapia, fonoaudiologia, nutrição e apoio psicológico, para garantir a recuperação e melhorar a qualidade de vida durante e após o tratamento. A integração de todos esses profissionais, trabalhando de maneira colaborativa, fortalece a chance de reabilitação e a reintegração social dos pacientes oncológicos”.
O papel da cirurgia oncológica nesse contexto
A cirurgia, junto com a radioterapia e tratamento sistêmico medicamentoso, é um dos pilares do tratamento de pacientes com câncer. Conforme explica Rodrigo Nascimento Pinheiro, embora os demais sejam importantes, o mais efetivo na maioria dos casos é a cirurgia oncológica. A cirurgia oncológica isoladamente, acrescenta Pinheiro, corresponde ao tratamento de 60% dos tumores sólidos. “Além disso, cerca de 8 em cada 10 pacientes receberá a indicação de cirurgia em algum momento de seu plano terapêutico”, ressalta Pinheiro.
Segundo o especialista, a remoção do tumor, quando possível, pode oferecer uma chance significativa de cura, reduzindo ou eliminando as células cancerígenas da região afetada. “Além disso, a cirurgia também é essencial para aliviar sintomas, como obstruções e dor, quando o câncer está mais avançado”, acrescenta.
O procedimento pode, ainda, ser combinado com outras abordagens, como quimioterapia e radioterapia, para aumentar as chances de sucesso no tratamento e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. “É importante ressaltar que cada caso deve ter uma avaliação detalhada e um planejamento minucioso por uma equipe multidisciplinar. O papel do cirurgião oncológico é crucial na definição do melhor tipo de abordagem cirúrgica, seja ela curativa ou paliativa, sempre com o objetivo de alcançar os melhores resultados para o paciente”, finaliza.
Fonte: SBCO