Estou com um problema de saúde e tendo pedido ajuda, mas eles (os médicos) me ignoram. Tenho me sentido muito mal. Tudo que eu como não digere, meu corpo exala cheiro ruim. Estou a cada dia me sentindo pior, sem ajuda médica e sem tratamento”, relata C.A.R., de Campinas (SP), leitora do portal ViDA & Ação.
Ela diz que vem tentando enfrentar o problema, mas ainda não conseguiu fechar um diagnóstico. Após ‘consultar’ o “Doutor Google”, C. diz acreditar que está com uma doença rara chamada trimetilaminúria ou TMAU, uma doença genética rara que pode levar ao cheiro característico que lembra o peixe podre, lixo, chorume ou até mesmo ovos podres.
Eu descobri sozinha e preciso de um exame que só quem entende de doenças raras pode fazer. No SUS falam que não conhecem essa doença. Estou desesperada porque é uma doença rara que eu pesquisei”, apela C.
Como nunca publicamos nada a respeito nesses 7 anos de existência do Portal Vida e Ação. fomos pesquisar para entender o drama da nossa leitora e tentar ajudá-la. Afinal, essa doença existe? Como pode ser diagnosticada? Tem tratamento? Encontramos alguns dados consistentes sobre o tema, que apresentamos abaixo:
Essa doença realmente existe?
Sim, a trimetilaminúria ou TMAU realmente existe e pode causar grande constrangimento e sofrimento emocional para os pacientes, que enfrentam dificuldades em diagnosticar e tratar a doença, como explica Caio Bruzaca, médico geneticista, em seu site. Esses odores desagradáveis levam a um problema social muito grande a vida: o afastamento das pessoas.
A síndrome do odor de peixe podre ou trimetilaminúria caracteriza-se pela presença de um cheiro típico a peixe podre nas secreções corporais, devido a uma perturbação metabólica pouco frequente, provavelmente subdiagnosticada e da qual podem decorrer perturbações psicossociais graves.
A presença de odor de peixe podre pode sugerir as pessoas que um condição de má higiene, e não é isto que está ocorrendo. Vida social, profissional e relacionamentos podem ser afetados diretamente ao excesso de trimetilamina”, ressalta.
Por que isso acontece?
O odor corporal característico a peixe podre pode estar relacionado à síndrome do odor de peixe, também conhecida como trimetilaminúria (TMAU). Esta condição metabólica causa a acumulação de trimetilamina no corpo, que é responsável pelo odor desagradável. A anosmia seletiva e a alergia ao marisco podem ser consequências da TMAU, afetando a percepção olfativa e a tolerância a alimentos ricos em trimetilamina.
Segundo o especialista, esta condição está relacionada a mutações no gene FMO3, que causam esta deficiência na atividade de uma enzima, do grupo das Flavinas Monooxigenases, catalisadora da conversão da trimetilamina em trimetilamina N-óxido, chamada de trimetilamina primária. deve ao nosso corpo que não consegue decompor uma substância chamada trimetilamina.
O acúmulo ou excesso de trimetilamina no nosso corpo leva a um cheiro muito forte, quase insuportável no suor, urina e até no hálito. A força e a presença do odor variam muito com o tempo”, explica o especialista.
Quais alimentos têm trimetilamina?
A trimetilamina é produzido por bactérias intestinais durante a digestão da proteína de ovo, fígado, leguminosas, peixes e outros alimentos. Com a falta da enzima relacionada ao gene FMO3, ocorre o acúmulo de trimetilamina, e consequentemente, mudança nos odores naturais do corpo.
O especialista informa ainda que a dieta da pessoa tem relação direta com o aumento da trimetilamina no organismo, assim como a presença de bactérias no trato gastrointestinal pode levar a trimetilaminúria. Assim, é recomendado que os pacientes evitem alimentos que contenham trimetilamina ou seus precursores (ovos, fígado , rim , ervilha, feijão, amendoim, produtos de soja, couve, brócolis, repolho, couve-flor, frutos do mar e leite de vacas alimentadas com trigo).
É imprescindível a avaliação com médico geneticista para realização do aconselhamento genético, bem como definição do melhor manejo, estimativa de risco e poder oferecer possibilidades de tratamento aos pacientes”, recomenda.
Os sintomas da trimetilaminúria são controlados com adequações na dieta, como evitar peixes e outros alimentos ricos em N-óxido de trimetilamina. Às vezes são prescritos antibióticos para tentar corrigir a microbiota (ou as bactérias) do estômago.
A suspeita diagnóstica é clínica e a confirmação é feita com base em estudo genético ou na excreção urinária de óxido de trimetilamina e trimetilamina. As principais medidas terapêuticas visam controlar o odor de forma a prevenir as complicações, que são determinantes no prognóstico.
Mau hálito: a relação entre trimetilaminúria e halitose
A halitose ou mau hálito pode criar situações sociais constrangedoras para algumas pessoas. O mau hálito geralmente tem origem na cavidade bucal, mas em casos raros, pode ser um problema sistêmico. Uma dessas causas é uma doença genética chamada trimetilaminúria, que é um distúrbio metabólico do trato gastrointestinal, de acordo com a revista International Journal of Oral Science.
Embora não haja nenhum efeito negativo conhecido ou documentado da trimetilaminúria nos dentes ou na gengiva, o distúrbio é uma causa potencial de mau hálito. A língua é a área com maior probabilidade de abrigar bactérias que causam mau hálito, portanto, uma escova dental com limpador de língua pode ajudar a eliminá-las. No entanto, não se esqueça de que esse é um problema médico que requer a intervenção do médico e do dentista.
Quem tem esse distúrbio apresenta uma deficiência enzimática hereditária. As bactérias do estômago produzem trimetilamina a partir dos precursores de N-óxido de trimetilamina e colina. A trimetilamina tem um odor de peixe, mas normalmente é reconvertida em N-óxido de trimetilamina no fígado pela ação de uma enzima, e esse subproduto é tipicamente inodoro”, explica o artigo.
Se a pessoa apresentar deficiência dessa enzima, ocorre um acúmulo de trimetilamina, que é excretada na urina. Embora grande parte da trimetilamina seja eliminada na urina, ela também pode estar presente no suor e no hálito, causando um odor característico de peixe. A combinação do mau hálito com o odor corporal pode diminuir sua autoestima.
Como diagnosticar e tratar o problema?
A fim de estabelecer o diagnóstico, o médico deve descartar outros distúrbios que possam estar causando os odores corporais incontroláveis. Em caso de suspeita de trimetilaminúria, uma amostra de urina é analisada para determinar os níveis de trimetilamina e N-óxido de trimetilamina.
Os sintomas da trimetilaminúria são controlados com adequações na dieta, como evitar peixes e outros alimentos ricos em N-óxido de trimetilamina. Às vezes são prescritos antibióticos para tentar corrigir a microbiota (ou as bactérias) do estômago. O carvão ativado também pode ser usado para tentar se ligar à trimetilamina no estômago.
Outras causas para o mau cheiro corporal
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O que fazer para evitar o cheiro de suor?
- Não comer cebola, alho e comida muito condimentada ou picante, pois podem aumentar a intensidade do odor corporal;
- Utilizar roupas de algodão e trocá-las diariamente;
- Depilar as axilas ou manter os pelos curtos;
- Usar desodorante antitranspirante diariamente.