Muito além da ressaca causada pelo excesso de bebidas e comidas e bebidas, o início do ano é marcado pela ressaca financeira. Mas é bom ligar o sinal de alerta. Os gastos em excesso durante as festas de final de ano e o acúmulo de dívidas no início do ano podem causar episódios de irritabilidade, tensão excessiva e angústia, alertam psiquiatras do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE).
O estresse causado pelo desequilíbrio financeiro pode ainda aumentar as chances para diagnósticos de transtorno de ansiedade, depressão e insônia.Isso porque a preocupação com as contas aciona mecanismos cerebrais de sobrevivência, como aumento do nível de tensão e vigilância, deixando o corpo e a mente em alerta.
É possível dimensionar o impacto da inadimplência na saúde mental quando se considera, por exemplo, pesquisas como a realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) em novembro do ano passado que mostrou que 78,9% das famílias brasileiras estavam endividadas.
O psiquiatra Michel Haddad, do HSPE, explica que o endividamento, além de contribuir para o sofrimento mental, pode também causar atritos nas relações familiares e afetivas. “Se as contas estão no vermelho, algo não vai bem”, acrescenta o médico. Com o aumento das dívidas, a procura por ajuda médica e psicológica deve ser priorizada.
“Falar de dinheiro é um tabu porque geralmente desperta sentimentos negativos. Então, é necessário conversar e normalizar essa relação com as finanças. Durante o final do ano as pessoas se permitem gastar mais do que podem para presentear e agradar. Porém, ultrapassar os próprios limites financeiros e começar o ano no vermelho pode gerar um estresse intenso”, explica o psiquiatra.
Para evitar o problema, a educação financeira é uma ferramenta essencial para o bem-estar físico e emocional dos cidadãos. Os riscos de desencadear crises no início do ano podem ser mais intensos, pois coincidem com o período de maiores despesas escolares e pagamentos das taxas obrigatórias como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).
O endividamento também pode ser um indício de crises relacionadas a doenças mentais. Pacientes portadores de transtornos mentais crônicos, como transtorno bipolar, depressão e esquizofrenia, tendem a ter mais dificuldade na organização de sua vida financeira, podendo fazer gastos desnecessários e excessivos.
Também estão mais suscetíveis às adversidades financeiras pessoas com problemas no controle dos impulsos, como aqueles com transtornos de ansiedade ou que usam substâncias psicoativas.