O Rio de Janeiro tem bons motivos para comemorar o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais, nesta sexta-feira (28/7). Com os avanços do Sistema Único de Saúde (SUS), o número de notificações de casos no município reduziu nos últimos nove anos. Só os casos de hepatite C despencaram 85% e os de hepatite A e B caíram 75% e 70%, respectivamente.
Os dados foram divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) nesta sexta para marcar a data, ponto alto da campanha Julho Amarelo, de conscientização sobre a inflamação no fígado causada por vírus que pode levar a consequências graves, como cirrose ou câncer de fígado. No Brasil, as mais comuns são as do tipo A, B e C. E cada hepatite tem suas particularidades.
A hepatite B, por exemplo, é transmitida principalmente por via sexual, transmissão vertical de mãe para filho, uso de drogas inaláveis ou injetáveis com o compartilhamento de canudos, seringas e agulhas e através do contato sanguíneo através de materiais cortantes não esterilizados.
Farmacêutica convive com vírus da hepatite B desde bebê
A farmacêutica Tatiana Siqueira de Carvalho, de 47 anos, pegou o vírus da hepatite B quando era recém-nascida, por transfusão sanguínea, mas só descobriu a doença aos 18. Sem se preocupar com tabus, ela sempre falou abertamente com amigos e namorados sobre a doença. E, seguindo os cuidados para evitar a transmissão vertical, conseguiu realizar o sonho da maternidade.
“Eu nasci na década de 70. Naquela época, pouco se sabia sobre doação de sangue. Eu fiquei muito doente logo que nasci e nenhum medicamento melhorou o meu quadro. Por último, os médicos tentaram a transfusão. Quando completei maioridade quis doar sangue e fui até o Hemorio. Foi quando descobri que tinha hepatite B”, afirma.
Atuando na Coordenação de Doenças Transmissíveis da SMS, Tatiana é ativa nas campanhas de divulgação de prevenção e tratamento das hepatites virais da Prefeitura do Rio de Janeiro, compartilhando sua experiência. Hoje, ela é mãe de um menino de 12 anos.
“Sempre quis ter filhos. Eu tenho carga viral negativa e meu marido é vacinado contra a hepatite B. Nós dois sempre conversamos sobre tudo, não podemos ficar com medo ou vergonha. Então, seguindo todos os cuidados médicos indicados, para não ter transmissão vertical, quando o vírus passa de mãe para filho, realizei meu sonho”, conta Tatiana.
Hepatite pode evoluir para cirrose ou câncer de fígado
A hepatologista Mauren Machado, do Centro Especializado em Infectologia Valda do Borel (CEI), que fica na Policlínica Hélio Pellegrino, Praça da Bandeira, zona norte do Rio, esclarece que a hepatite pode apresentar os sintomas já citados ou ser totalmente assintomática e infelizmente pode evoluir para cirrose e para câncer de fígado quando não tratada.
“Nem sempre a hepatite apresenta sintomas, mas quando aparecem, se manifestam na forma de cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras”, explica.
O tratamento pode ser feito pelo SUS, que oferece gratuitamente a retirada de medicação. A melhor forma de prevenção é a vacina, associada ao uso de preservativos.
“A pessoa que está com sintomas, ou suspeita de algo, pode ir até uma unidade de saúde e fazer o teste rápido. Em trinta minutos ela terá o resultado. Toda a medicação pode ser retirada pela rede municipal. O serviço do SUS contribuiu muito para os índices de diagnóstico e tratamento das hepatites, principalmente com a oferta de medicamentos”, ressalta a hepatologista.
Conheça outros tipos de hepatite
As hepatites são um grave problema de saúde pública, por isso é importante estar atento aos fatores socioambientais que provocam a infecção, como a ingestão de água ou alimentos contaminados, em decorrência da ausência de saneamento básico, contato sexual sem proteção e outras formas de contato com sangue ou fluidos corporais infectados.
As hepatites mais comuns no Brasil são as do tipo A, B e C. O vírus da hepatite D é mais comum na região Norte e o da hepatite E, o menos encontrado. Dados do Ministério da Saúde indicaram mais de 700 mil casos de diagnósticos positivos da doença de 2000 a 2021. Só por hepatite C, foram mais de 62 mil óbitos no período.
A hepatite A, que tem o maior número de casos, é de transmissão fecal-oral através da ingestão de água e alimentos contaminados com fezes do paciente doente ou também pode ser sexualmente transmitida, embora com menos frequência. Está diretamente relacionada às condições ruins de saneamento básico e de higiene.
Ela pode ser prevenida lavando bem as mãos e alimentos, consumindo água filtrada e fervida. O tratamento é feito apenas com o uso de remédios para febre, náusea, dor de cabeça, e também pode ser prevenida com a vacina disponível no SUS. Crianças entre 1 e 2 anos, pacientes com doença hepática crônica, imunodeprimidos e outros casos específicos podem se imunizar.
A hepatite C tem como principal forma de transmissão o contato com sangue, através da transfusão de sangue ou hemoderivados contaminados, drogas injetáveis ou inaláveis e compartilhamento de material cortante não esterilizado, e também pode ser sexualmente transmitida.
É a principal causa de cirrose, câncer de fígado e transplante hepático no Brasil. A doença se torna crônica em 80% dos casos, na maioria dos casos é assintomática. Com a introdução das chamadas drogas de ação direta (DAA), o tratamento para este tipo da doença evoluiu. A duração do tratamento era de 48 semanas, com 60% de chance de cura, agora são 12 semanas com mais de 95% de chance de cura.
Queda nos números de hepatites no Rio
Os avanços do tratamento e diagnóstico no SUS foram essenciais para a redução de casos notificados. O diagnóstico das hepatites é feito por teste rápido ou por teste sorológico (exame de sangue), disponíveis nas Unidades Básicas de Saúde.
Além disso, o acesso foi descentralizado para a medicação, principalmente contra a hepatite C, e agora está disponível em várias unidades distribuídas em toda a cidade do Rio de Janeiro.
A redução de casos notificados é observada na série histórica da doença. Em 2013, foram 1.040 notificações só de hepatite C, enquanto neste ano, até o momento, foram 149. De hepatite B, enquanto há 10 anos eram 374 casos, neste ano são 79. Já os de hepatite A, foram 480 casos em 2013 e 36 em 2023.
Neste Julho Amarelo, a SMS-Rio levou a vacina da hepatite B para diversos pontos da cidade e já aplicou mais de mil doses para atualização dos esquemas vacinais de quem precisasse em postos de vacinação espalhadas pelo Centro e nas zonas Norte, Sul e Oeste.
No dia 20 de julho, a Gerência de Hepatites Virais da SMS realizou um evento na Fiocruz onde, além de disponibilizar a vacina da hepatite B, houve rodas de conversa, oferta de teste rápido contra as hepatites e distribuição de material informativo.
“Este evento foi muito importante para todos. Precisamos sensibilizar a população em geral quanto à importância da imunização para a hepatite B, assim como o aumento da cobertura vacinal, que foi viabilizado pela disponibilidade de um número maior de pontos de vacinação”, disse a gerente de hepatites virais da SMS, Girleide de Oliveira.
Com informações da SMS-Rio
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