Os filhos crescem e saem de casa em busca de outros objetivos e da própria independência. O desafio de se adaptar à casa vazia e a buscar novos objetivos leva alguns pais e, principalmente, as mães, a passarem por um período de sofrimento profundo, a chamada Síndrome do Ninho Vazio. Apesar de não ser um diagnóstico oficial, é um termo utilizado para descrever o sofrimento intenso vivido pelos pais após a saída dos filhos de casa.

Esta é uma realidade comum para muitos pais quando seus filhos decidem seguir seus próprios caminhos, principalmente ao ingressarem em uma universidade ou iniciar um intercâmbio fora do país. Apesar de ser um processo natural e esperado na vida de todas as famílias, essa fase pode gerar sentimentos de tristeza, solidão e até mesmo culpa para ambas as partes, caso não lidem com ela de forma saudável.

É importante entender que se caracteriza como síndrome porque se trata de um conjunto de sentimentos e sensações um pouco mais exacerbada do que a simples falta dos filhos e da rotina anterior. Mais do que saudade, é um período de reflexão existencial”, explica a psicóloga Maria Eugênia Glustak, especialista em clínica da pessoa e da família na Holiste Psiquiatria.

Patricia Poeta revela como lida com a situação

Com a mudança dos filhos, a função materna e paterna muda de dinâmica. Por isso, é preciso se enxergar novamente como sujeito e aprender a lidar com outras demandas, procurar outras atividades e objetivos. Esse momento pode ser bastante delicado e alguns sinais indicam a hora de pedir ajuda”, complementa Maria Eugênia.

Patrícia Poeta, apresentadora da TV Globo, conta como lidou com a falta do filho que saiu de casa para estudar em outro país. Filho de seu casamento com Amaury Soares, diretor dos Estúdios Globo, Felipe Poeta, de 22 anos, se mudou para Los Angeles (EUA) em 2021 para estudar e depois foi para Londres para cursar a faculdade. Entretanto, como mãe, ver o filho saindo de casa não foi uma tarefa fácil para a jornalista.

Fui me preparando psicologicamente dois anos antes. Ainda tenho uma certa dificuldade com essa coisa de desapegar. Esses dois anos que antecederam foram difíceis. Tive um tempo para me acostumar e me preparar e, mesmo assim, foi sofrido”, contou ela à Revista Máxima. 

Ao mesmo tempo que os pais sentem orgulho de ver os filhos partindo em busca dos seus sonhos, eles podem se sentir perdidos, sem saber quais são os seus novos papeis como cuidadores/responsáveis. “Além disso, muitos jovens também não estão preparados para sair de casa e a saudade chega ao ponto de interferir em suas vidas cotidianas longe de casa”, complementa a psicóloga.

Hoje eu lido super-bem, já aprendi que a gente cria o filho para o mundo”, contou Patrícia Poeta. Mas a jornalista confessou que buscava sempre encontrar com as mães da escola do filho para dividir as mesmas dificuldades. “É tudo igual, só muda o endereço”, finaliza.

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Quando é preciso buscar ajuda profissional

Apesar de comum, muitos pais que estão passando pela Síndrome do Ninho Vazio desconhecem o diagnóstico, que ainda é um tabu para muitas pessoas. É preciso compreender os principais sintomas e sinais de alerta, além de ouvir relatos e dúvidas de pais e filhos que possam estar passando.

Mas nem todos lidam bem com este momento. Diferente de uma tristeza comum, o sentimento de melancolia e desamparo desencadeado nesses pacientes pode exigir acompanhamento profissional para ser tratado.

Filipe Colombini, psicólogo, orientador parental e CEO da Equipe AT, diz que nem sempre é fácil os pais adaptarem seu cotidiano, já que essa é uma situação que pode envolver sentimentos difíceis de lidar, afetando, às vezes, a relação entre o casal, podendo até contribuir com transtornos psiquiátricos.

Obviamente, existe uma espécie de período de luto, diante do crescimento dos filhos, que os pais precisam lidar dia a dia. Porém, caso a situação traga sentimentos de isolamento ou de extrema tristeza, é fundamental procurar ajuda de um profissional da saúde mental, como um psicólogo ou psiquiatra”, afirma o especialista.

Como os pais devem adaptar seu cotidiano

Um misto de orgulho e medo faz parte dos sentimentos que caracterizam o “ninho vazio”, mas os sintomas já podem aparecer durante a pré-adolescência do filho, quando os pais costumam perceber os primeiros sinais de independência da criança. Por isso, segundo ele, é importante que os adultos se planejem desde cedo para o crescimento dos filhos.

O dia a dia dos pais é normalmente baseado nas necessidades que os filhos têm, por isso, quando eles partem, a mudança de rotina e a quebra do contato próximo traz problemas de readaptação, que, muitas vezes, não são fáceis de lidar”, explica Colombini.

Segundo Colombini, é importante que os adultos procurem descobrir o que mais pode trazer prazer para eles próprios, além da criação do filho. Ao investir em relações e atividades que não tenham a ver apenas com a parentalidade, à medida que a criança se desenvolve, os pais preenchem as próprias vidas também com outras prioridades e a quebra de rotina vai passar a não ser tão drástica, quando chegar o momento”, conclui o orientador parental.

Segundo ele, abrir espaço para outras atividades além da parentalidade não significa diminuir a atenção ou o carinho que se tem por um filho. “O processo passa por identificar a função que se tem no mundo, após cumprir com sucesso a missão de pai ou de mãe”, explica Colombini.

Com Assessorias

 

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