Nos dois últimos anos, os números relacionados ao tratamento oncológico foram impactados pela pandemia de Covid-19. Com quedas expressivas nos procedimentos diagnósticos e cirurgias, os casos graves de câncer tendem a aumentar afetando as taxas de mortalidade no país. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que o Brasil deve registrar 704 mil novos casos de câncer por ano de 2023 a 2025, com destaque para as regiões Sul e Sudeste, que concentram cerca de 70% da incidência.
Dia 27 de novembro é lembrado o Dia Nacional de Combate ao Câncer, data criada pela portaria do Ministério da Saúde, que tem objetivo ampliar o conhecimento da população brasileira sobre o câncer, principalmente sobre a sua prevenção. Para conscientizar a população sobre a importância do cuidado com a saúde, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) promove a campanha “Não dá para esperar. Cuide-se. O câncer não ficou de quarentena” em diferentes cidades do país no domingo (27), Dia Nacional de Combate ao Câncer.
No Rio de Janeiro, a ação ocorre com o apoio da Socicam e da Rodoviária do Rio. Na manhã do dia 27, médicos membros da SBCO e acadêmicos das ligas de Oncologia local estarão em um estande no setor de embarque superior do terminal, o segundo maior da América Latina em movimento de passageiros, no período das 9 às 13 horas.
Haverá distribuição de panfletos informativos e oferta de orientações sobre exames de rastreamento de câncer como mamografia, colonoscopia, papanicolau, toque prostático e dosagem de PSA e distribuição de materiais educativos sobre prevenção e diagnóstico precoce dos tipos mais incidentes de câncer.
Ginecologista alerta para o câncer de ovário
Nas mulheres, o câncer de mama é mais incidente, seguido pelo câncer colorretal, do colo do útero, o conjunto traqueia, brônquios e pulmão, câncer de tireoide, estômago, corpo do útero e ovário.Um dos tumores silenciosos na vida das mulheres é o câncer de ovário. No Brasil, segundo o Inca, foram detectados 6.650 casos novos de câncer em 2020, com uma mortalidade de 4.123.
A ginecologista Sophie Derchain, membro da Comissão Especializada em Ginecologia Oncológica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), explica que o câncer de ovário é uma neoplasia invasiva (maligna) das gônadas femininas, ou seja, uma replicação desordenada de células malignas que invadem primeiro o ovário e depois podem se espalhar para os órgãos da pelve e o abdome superior, assim como vísceras como fígado, ou pulmão.
A médica esclarece que é fundamental entender que a grande maioria das mulheres que apresenta um tumor ou cisto no ovário não tem câncer de ovário, mas sim uma lesão funcional ou benigna.
“Não tem programa de rastreamento de câncer de ovário para mulheres da população geral, justamente porque tem muitos tumores ovarianos benignos, e ao fazer exames de imagem ou de sangue em mulheres sem sintomas, acaba se indicando muitas cirurgias desnecessárias e que apresentam complicações. E como os cânceres de ovário muitas vezes aparecem muito rápido, raramente são detectados em estádios iniciais, e fazer exames periódicos não diminui a mortalidade das mulheres rastreadas” destaca Sophie.
De maneira geral, entretanto, as mulheres fazem exames periódicos. A descoberta ocasional de massas anexiais é de cerca de 10% a 15% das mulheres que fazem ultrassom de rotina. Apenas uma em cada 10 têm indicação de cirurgia e entre essas que forem operadas 13% a 17% terão câncer. O ovário pode dar origem a diferentes tipos de alterações com várias origens histológicas, mas muitos dos cistos detectados nos exames de rotina são funcionais como cisto folicular, do corpo lúteo, luteoma da gravidez e outros que não precisam de cirurgia para o diagnóstico já que irão desaparecer naturalmente.
Vale ressaltar que existem também muitos tumores de ovário que são totalmente benignos, mesmo que neoplásicos. Tem várias origens histológicas e podem ser de células germinativas sendo os mais frequentes cisto dermóide, teratoma sólido maduro; de células do estroma como tecoma, fibroma; e finalmente, de células epiteliais como cistoadenomas serosos e mucinosos.
Os cânceres de ovário também têm origem em vários tipos de células: podem ser de células germinativas, como por exemplo disgerminomas, tumores do saco vitelino; do estroma ovariano como tumor de células da granulosa ou tumores de células de Sertoli-Leydig. Mas os principais tumores de ovário são os carcinomas (como os serosos, mucinosos, de células claras, endometrióide, indiferenciados), que vem do epitélio, e que são classificados em dois tipos. O tipo I, que apresenta um crescimento mais lento e tem uma boa evolução e os do tipo II, que tem um crescimento muito agressivo, sendo raramente detectados em estádios iniciais.
Sintomas
Sobre os sintomas, a Dra. Sophie expõe que são muito vagos e pouco específicos e estão relacionados essencialmente com o crescimento do tumor no ovário ou da presença de líquido na cavidade abdominal. Entre os sintomas presentes se destacam o aumento do volume abdominal, náuseas, vômitos, perda de peso e dor pélvica.
As mulheres também podem apresentar sangramento uterino anormal, sintomas de virilização, problemas urinários. Alguns cânceres de ovário podem ter uma progressão muito rápida, e com isso um curto intervalo entre os sintomas, o diagnóstico e o tratamento é muito importante.
Prevenção
“Não é possível prevenir todos os tipos de cânceres de ovário, mas, gravidezes, lactação, menopausa precoce, uso de contraceptivo hormonal são associados a diminuição do risco. A origem dos carcinomas de ovário está relacionada a células que chegam ao ovário pela tuba uterina. Assim, ao indicar uma laqueadura como método contraceptivo, pode ser oferecida a salpingectomia (retirada da tuba)”, esclarece.
Da mesma forma, explica a especialista, hoje se preconiza retirar a tuba quando a mulher tem uma indicação de histerectomia por doença benigna. “Algumas mulheres com câncer de ovário apresentam alterações genéticas e assim, em toda mulher com carcinoma de ovário é solicitado um painel genético que identifica essas mutações”, destaca a ginecologista.
Fonte: Rodoviária do Rio e Sophie Derchain