O combate ao mosquito Aedes aegypti, um importante vetor de vírus causadores de dengue, febre amarela, chikungunya e zika, é uma tarefa diária que envolve o poder público e a população, até em razão de que mais de dois terços dos criadouros estão do portão da casa para dentro. Dentre as medidas simples como a de evitar acúmulo de água para não se transformar em criadouro, pesquisa desenvolvida no curso de Farmácia da Unoeste avaliou quatro produtos químicos domésticos em relação à inibição e desenvolvimento de larvas desse mosquito. Detergente e água sanitária foram os que apresentaram eficiência.

O estudo foi motivado pela busca de medida simples, com produtos de fácil acesso e baixo custo, voltada para ajudar no combate à dengue, que é uma doença viral presente em mais de 30 países, tornando-se um dos principais problemas de saúde pública no mundo. Aproximadamente 50 milhões de pessoas por ano contraem a doença e cerca de 20 mil morrem.

Os resultados demonstraram que a pasta de dente e a borra de café foram ineficazes em evitar a eclosão das larvas, permitindo o desenvolvimento completo do ciclo ovo-larva-pupa-mosquito. O detergente e a água sanitária apresentaram resultados satisfatórios, uma vez que inibiram a evolução dos estágios de larvas para mosquitos adultos”, afirma a professora doutora Lizziane Kretli Winkelstroter Eller, que leciona no curso da Farmácia e é pesquisadora vinculada ao mestrado em Ciências da Saúde.

Segundo a orientadora, a pesquisa foi realizada com a instalação de armadilhas para a coleta dos ovos de mosquitos na cidade de Presidente Prudente (SP). Após a coleta, os ovos foram levados ao laboratório entomológico da Vigilância Epidemiológica para o tratamento por 16 dias com os produtos: detergente lava-louças 0,6% (volume por volume), borra de café 2,6% (peso por volume), água sanitária 0,4% (v/v) e pasta dental 0,3% (p/v).

Lizziane chama atenção para o fato de o estudo em questão, a exemplo de tantos outros de natureza científica, não ser necessariamente conclusivo. “Apesar dos resultados animadores, visto que produtos de fácil acesso e de baixo custo influenciaram o ciclo de desenvolvimento do mosquito transmissor da dengue, ainda são necessários estudos mais aprofundados com diferentes dosagens e tempos de incubação para que os produtos possam ser disseminados para a população como potencias métodos alternativos de combate ao mosquito da dengue”, explica.

Colaborações – O trabalho de iniciação científica foi desenvolvido pelo aluno Thiago José da Silveira e teve como objetivo avaliar a influência de produtos químicos domésticos na inibição e desenvolvimento de larvas dos mosquitos transmissores da dengue. Houve a colaboração da enfermeira Elaine Aparecida Maldonado Bertacco, supervisora da Vigilância Epidemiológica Municipal (VEM) de Presidente Prudente, e de André Ximenes, biólogo responsável pelo mesmo departamento da Secretaria Municipal de Saúde.

Pesquisas realizadas na Unoeste deverão ainda ser complementadas (Foto: Divulgação)

Estudo da USP sobre uso de água sanitária

Estudo conduzido pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), da Universidade de São Paulo (USP), revelou que o uso de água sanitária (hipoclorito de sódio a 2,5%) é 100% eficaz na eliminação de larvas do mosquito Aedes aegypt, transmissor da dengue. Ao diluir 10 ml de água sanitária em um litro de água corrente e passar no chão e em superfícies que atraem moscas e mosquitos é possível acabar com todas as larvas depositadas em 24 horas, evitando sua propagação.

Na opinião de João César de Freitas, diretor da Katrium Indústrias Químicas, o uso da água sanitária tem de ser ampliado e amplamente divulgado, principalmente em comunidades com alta densidade populacional – em que um único mosquito pode fazer várias vítimas.

Essa solução de uma tampinha de água sanitária para um litro de água pode ter seu uso estendido para a limpeza de cozinhas e banheiros, para regar plantas (já que nessa proporção é inofensiva a elas), para limpar bancadas, mesas de bar etc”, comenta.

Freitas afirma que a Katrium, indústria com mais de 60 anos de atividade e que viu crescer toda uma comunidade em torno da fábrica de Honório Gurgel, no Rio de Janeiro, faz um trabalho de conscientização sobre a prevenção da dengue com as populações vizinhas, doando mensalmente hipoclorito de sódio para que possam sanitizar suas casas.

Mas também não podemos nos esquecer de inspecionar tudo o que pode acumular água nesta época de chuvas intensas, como pneus velhos, pratos, copos e garrafas largados em terrenos baldios ou nos quintais das casas, superfícies desniveladas… Enfim, é preciso disposição para eliminar os mosquitos oportunistas e impedir a progressão da doença”, destaca.

Novas pesquisas da Embrapa

 Outra pesquisa realizada pela Universidade Federal de Goiás, Embrapa Meio Ambiente e USDA, Estados Unidos, revela que formulações granulares contendo vermiculita têm potencial para uso contra Aedes aegypti. A substância é considerada o principal carreador e microescleródios – estruturas de resistência produzidas por alguns fungos que garantem a sua sobrevivência em condições ambientais adversas – do fungo entomopatogênico Metarhizium humberi como ingrediente ativo.

De acordo com os pesquisadores, a maioria dos mosquitos foi morta dentro de 6 dias após exposição aos grânulos/pellets esporulados, independentemente do tempo de exposição, que foi de 1 minuto a 24 horas e em ambiente com umidade relativa de 75 ou >98%. 

Essa abordagem de controle biológico usando uma estrutura de resistência do fungo em grânulos ou pellets em locais de postura de fêmeas do mosquito A. aegypti é inédita e foi desenvolvida pelo grupo liderado pelo professor da UFG, Christian Luz. O próximo passo contemplará testes em campo usando recipientes atrativos para oviposição do mosquito tratados com essas formulações. 

Microescleródios são estruturas de resistência do fungo produzidas pelo método da fermentação líquida submersa, a qual se dá em apenas 4 dias. Celulose microcristalina e terra diatomácea ou uma combinação de vermiculita, terra diatomácea e dióxido de silício foram testados como veículos em formulações granulares contendo microescleródios. 

O analista da Embrapa Meio Ambiente, Gabriel Mascarin, explica que uma faixa de 93 a 96,5% de umidade relativa foi crítica para a germinação miceliogênica e esporulação pelos microescleródios, e pelo menos 96,5-98,5% de umidade foi necessária para alta produção de conídios em pellets ou grânulos. Além disso, a produção de conídios foi maior em pellets e grânulos preparados com vermiculita do que naqueles preparados com celulose microcristalina como veículo inerte principal.

O estudo completo está disponível neste link.

Com Assessorias

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