Entre os diversos impactos das mudanças climáticas, que vão desde alterações extremas no clima até consequências sociais e econômicas, estão também os efeitos sobre a saúde. Em clima de COP30, as sociedades médicas têm se mobilizado para alertar sobre o impacto da crise climática na saúde humana. O tema ganha relevância em meio às discussões da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), realizada em Belém, no Pará.
A Associação Médica Brasileira (AMB) alerta que as ondas de calor extremo aumentam as internações por desidratação, doenças cardiovasculares e respiratórias. As alterações no regime de chuvas e temperatura favorecem a proliferação de vetores de doenças como dengue, zika e malária, e a fumaça das queimadas agrava quadros pulmonares e de saúde mental.
A pele, maior órgão do corpo, é uma das primeiras a refletir essas transformações, ficando vulnerável a doenças e agressões ambientais, como alerta a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), que chama atenção para a crescente correlação entre as mudanças no meio ambiente e o surgimento ou agravamento de doenças dermatológicas.
Conheça as doenças de pele agravadas por eventos climáticos
De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), eventos climáticos extremos, como ondas de calor, chuvas intensas, incêndios e enchentes podem agravar enfermidades associadas a doença de Chagas, celulite e erisipela, infecções fúngicas, dermatites irritativas e alérgicas, dermatites infecciosas, Infecção por Pseudomonas aeruginosa, conhecida como “dermatite da piscina ou da enchente”, entre outras.
É fundamental reconhecer que as alterações ambientais não afetam apenas o planeta, mas também a biologia. A pele, por ser o maior órgão do corpo e a primeira barreira de contato com o meio externo, é uma das mais vulneráveis”, reforça o presidente da SBD, Carlos Barcaui.
Dr. Carlos Barcaui reforça que fatores como radiação ultravioleta, variações de temperatura e umidade, e exposição a alérgenos ambientais também causam impacto direto na saúde da pele.
Esses agentes estão associados ao aumento de doenças inflamatórias e alérgicas, como dermatites atópica e de contato, psoríase, acne; envelhecimento cutâneo e câncer de pele”, afirma o médico dermatologista.
Artigo publicado nos Anais Brasileiros de Dermatologia, revista cientifica centenária da entidade, comprova que padrões de prevalência das dermatoses podem refletir mudanças ambientais. Acesse o conteúdo na íntegra aqui.
Radiação solar responde por 90% do envelhecimento da pele
As mudanças climáticas também trazem impactos diretos sobre o envelhecimento da pele, principalmente por meio de fatores extrínsecos. De acordo com a coordenadora do Departamento de Geriatria da SBD, Marcelle Nogueira, de todos os fatores externos responsáveis pelo envelhecimento cutâneo, a radiação solar é o principal, respondendo por cerca de 90% do envelhecimento da cutâneo.
Com o aumento dos índices de radiação ultravioleta devido às alterações na camada de ozônio, esse efeito tende a se intensificar. Além disso, o aumento da temperatura global acelera o envelhecimento biológico da pele. A cada 7 °C de elevação na temperatura da pele, dobramos a perda de água transepidérmica, o que causa desidratação, prejuízo à barreira cutânea e, consequentemente, alteração na função imunológica da pele”, afirma a especialista.
Ela destaca ainda que o calor eleva a produção de metaloproteinases, enzimas que degradam o colágeno, e favorece o estresse oxidativo, reduzindo a ação das enzimas antioxidantes e promovendo senescência celular precoce.
A médica ressalta também o papel da poluição atmosférica, cujas partículas agravam o estresse oxidativo e contribuem para o envelhecimento cutâneo, reforçando a importância do uso de filtros solares, barreiras físicas, cremes hidratantes e produtos antipoluição no cuidado diário.
Entre as recomendações da SBD estão proteger a pele da radiação solar, manter a hidratação adequada, evitar exposição prolongada a ambientes poluídos e buscar avaliação médica diante de alterações persistentes na pele.
Em um momento em que o mundo discute as mudanças climáticas na COP 30, a conscientização ambiental se torna ainda mais urgente e, hoje, representa uma forma eficaz de prevenção em saúde dermatológica”, conclui o Dr. Carlos Barcaui.
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Associação Médica Brasileira alerta que COP30 representa “uma oportunidade histórica”
Também na semana em que começou a COP30 a Associação Médica Brasileira (AMB) divulgou nota chamando a atenção para um tema que precisa ocupar espaço nas discussões globais: os impactos da crise climática sobre a saúde humana. Pela primeira vez, o Brasil sedia o encontro da ONU em um território que simboliza, ao mesmo tempo, a riqueza e a vulnerabilidade ambiental do planeta — a Amazônia.
Para o presidente da AMB, César Eduardo Fernandes, o evento representa “uma oportunidade histórica de reafirmar que não há saúde humana possível em um planeta doente”.
Os médicos têm testemunhado nos consultórios e hospitais os efeitos diretos das mudanças climáticas. As ondas de calor extremo aumentam as internações por desidratação, doenças cardiovasculares e respiratórias. As alterações no regime de chuvas e temperatura favorecem a proliferação de vetores de doenças como dengue, zika e malária. E a fumaça das queimadas agrava quadros pulmonares e de saúde mental”, alerta o presidente da AMB.
De acordo com Fernandes, os desafios impostos pelas mudanças ambientais já são uma realidade cotidiana para o Sistema Único de Saúde (SUS) e para os profissionais da Medicina em todo o país.
Não se trata de um problema futuro — é um problema do presente. A crise climática já é uma crise de saúde. Por isso, a COP 30 deve ser compreendida também como uma conferência sobre saúde pública”, afirma.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que milhões de vidas podem ser salvas até 2050 se os países adotarem políticas de mitigação e adaptação climática guiadas por princípios de saúde. O Plano de Ação de Belém, que integra a pauta da conferência, reforça a necessidade de respostas com foco em equidade e justiça social, reconhecendo a vulnerabilidade de populações indígenas, ribeirinhas e periféricas diante da degradação ambiental.
Impacto do clima na saúde deve ser estudado na faculdade de Medicina
Nesse contexto, a AMB defende que o tema “Saúde e Clima” seja incorporado à formação médica e à educação continuada.
A Medicina, por essência, é ciência de prevenção e cuidado. Precisamos preparar nossos médicos para reconhecer e enfrentar os novos padrões de doenças relacionados ao ambiente, desenvolver protocolos de atendimento em desastres climáticos e atuar na prevenção de riscos ambientais”, destaca o presidente.
Práticas sustentáveis nos hospitais
Além da formação médica, o dirigente ressalta que o próprio setor da Saúde precisa adotar práticas sustentáveis, com gestão eficiente de energia, água e resíduos.
Hospitais e unidades de saúde são grandes consumidores de recursos. Reduzir emissões, implantar práticas de baixo carbono e promover resiliência institucional é um compromisso ético de quem trabalha pela vida”, reforça Fernandes.
Com a COP 30, o Brasil tem a oportunidade de se posicionar como líder global na integração entre agenda climática e agenda da saúde, aproveitando a força de sua biodiversidade e de seu sistema público de saúde.
O planeta também precisa de cuidado médico. Cuidar do clima é cuidar das pessoas. Que a COP 30 marque o momento em que o mundo compreendeu, de forma definitiva, que saúde e meio ambiente são inseparáveis”, conclui o presidente da AMB.
Com Assessorias





