A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o uso do medicamento Mounjaro, da farmacêutica Eli Lilly, para o tratamento da obesidade no Brasil. A decisão, publicada no Diário Oficial da União, amplia a indicação do remédio, que até então era aprovado apenas para pacientes com diabete tipo 2. Agora, o Mounjaro poderá ser utilizado por adultos com índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 30, ou a partir de 27 quando acompanhados de comorbidades como hipertensão ou colesterol alto.

 Apesar do avanço regulatório, o acesso ao medicamento ainda enfrenta barreiras, especialmente no sistema privado. Segundo a advogada especialista em direito da Saúde Daniela Fernanda Auricchio, os planos de saúde dificilmente serão obrigados a custear o Mounjaro, pois o remédio é de uso domiciliar. Conforme o entendimento atual do Superior Tribunal de Justiça (STJ), medicamentos administrados em casa não estão incluídos na cobertura obrigatória dos planos, salvo em situações excepcionais.
Ela explica que, mesmo quando decisões favoráveis são concedidas em instâncias inferiores, muitas vezes essas liminares são revistas pelo STJ, dificultando o acesso pelo setor privado. Por outro lado, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a situação pode ser diferente. A expectativa é que, com a aprovação da Anvisa, pacientes em situação de vulnerabilidade econômica e com indicação clínica comprovada obtenham o remédio pelo SUS por meio de ações judiciais.
No SUS, o caminho jurídico é diferente: é possível judicializar a questão com boas chances de êxito, desde que o paciente comprove que sofre de obesidade grave, que não pode recorrer a outros tratamentos, como a cirurgia bariátrica, e que não tem condições financeiras de arcar com o custo do medicamento. Esses requisitos são avaliados cumulativamente”, afirma Daniela.

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Acessibilidade: o grande desafio no emagrecimento

Medicamentos inovadores podem contribuir no combate à obesidade, como os medicamentos agonistas do receptor GLP-1, que têm mostrado eficácia na indução de saciedade e perda de até 15% do peso corporal. De acordo com dados da IQVIA, o volume de vendas de medicamentos à base de liraglutida e semaglutida (Ozempic, Saxenda, Wegovy,, entre outros) cresceu 663% no Brasil, entre 2018 e janeiro de 2024. E pode crescer ainda mais.
Mounjaro é um medicamento injetável semanalmente que atua em dois hormônios responsáveis pelo controle do apetite e da glicemia, sendo o primeiro no Brasil com esse duplo mecanismo de ação para obesidade.  Inicialmente, o medicamento será comercializado nas dosagens de 2,5 mg e 5 mg, em canetas autoinjetoras de dose única. Cada embalagem contém quatro unidades, correspondendo a um mês de tratamento. Os preços variam conforme o ponto de venda e a adesão ao programa de suporte ao paciente da Lilly, com valores entre R$ 1.406,75 e R$ 2.384,34 .

Além do lançamento do Mounjaro, o mercado vem se empenhando em novas opções de medicamentos para incrementar o leque de opções disponíveis para os brasileiros. Por exemplo, a queda da patente da semaglutida está prevista para ocorrer em 2026 e existem laboratórios já trabalhando em versões genéricas do Ozempic. Há também anúncios sobre a produção de opções a base de liraglutida, princípio ativo do Saxenda, com foco em obesidade e diabetes.

A endocrinologista Alessandra Rascovski aponta que ainda há um longo caminho de expansão do uso desses fármacos no Brasil. “O valor elevado ainda é um fator dificultador de democratização do acesso desses medicamentos para a população em geral, além deles não estarem disponíveis na rede pública de saúde. É preciso apostar em políticas públicas, com a adoção de tratamentos mais modernos no SUS, para que a maioria dos cidadãos tenha condições de utilizá-los tanto para o controle da diabetes quanto para a perda de peso”.

Um a cada três brasileiros vive com obesidade

Dados do Atlas Mundial da Obesidade 2025, da Federação Mundial da Obesidade (World Obesity Federation – WOF), publicados em março de 2025, que apontam que aproximadamente um a cada três brasileiros (31% da população) vive com obesidade, e essa porcentagem tende a crescer nos próximos cinco anos. No país, cerca da metade da população adulta, entre 40% e 50%, não pratica atividade física na frequência e intensidade recomendadas.

Ainda segundo o Atlas Mundial da Obesidade 2025, atualmente, mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo vivem com obesidade. Projeções indicam que esse número pode ultrapassar 1,5 bilhão até 2030, caso medidas efetivas não sejam implementadas.

O médico e diretor da clínica Vie Saine, Rodrigo Brito, lembra que a obesidade é uma doença crônica, que pode ser causada por fatores genéticos e hormonaise pode levar a inúmeras doenças, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, infarto, problemas articulares, apneia do sono, entre outras.

 A obesidade é uma doença e precisa ser enfrentada como tal. Muitas vezes o paciente utiliza o medicamento, perde peso, mas recupera em meses, ou semanas, após parar com a medicação. O enfrentamento da obesidade deve ser feito com uma equipe multidisciplinar, que busque a causa do problema e guie o indivíduo para seguir o tratamento necessário para redução do peso e recuperação da saúde”, completa.

O médico lembra que o uso de medicamentos, bem como procedimentos mais invasivos, como a cirurgia bariátrica, por exemplo, deve ser realizado com prescrição e acompanhamento médico. É preciso procurar um médico que tenha uma abordagem integrada, que avalie a saúde mental e física, a rotina pessoal de cada indivíduo, e quais ações combinam mais com seu estilo de vida. Ao integrar essas estratégias, é possível enfrentar a obesidade de maneira eficaz, promovendo saúde e bem-estar”, explica o médico.

Como enfrentar a doença com uma abordagem integrada e compatível com o dia a dia de cada indivíduo

Alessandra reforça a importância do uso desses medicamentos para pacientes que não conseguem emagrecer somente com controle de alimentação e mudança de estilo de vida. “Vale lembrar que a obesidade, assim como a diabetes, é uma doença crônica recidivante, que muitas vezes não pode ser tratada somente com mudança de hábitos. Ainda precisamos evoluir muito nesse olhar, tirando a culpa do colo do paciente e entendendo que há outros fatores envolvidos, sendo a medicação uma importante aliada para ajudar na perda de peso”, conclui.

Segundo uma abordagem integrada é essencial para o sucesso no emagrecimento. “A obesidade é uma doença multifatorial que requer um tratamento personalizado. Combinar tecnologias avançadas com mudanças no estilo de vida é fundamental para alcançar resultados sustentáveis”, afirma. O médico elenca alguns fatores que, juntos, são essenciais para o enfrentamento da obesidade:

  • Alimentação Balanceada: adote uma dieta rica em nutrientes, priorizando alimentos naturais e evitando ultraprocessados.

  • Atividade Física Regular: incorpore exercícios físicos na rotina, combinando atividades aeróbicas e de resistência.

  • Saúde Mental: gerencie o estresse e busque apoio psicológico quando necessário, reconhecendo a influência da mente no processo de emagrecimento.

  • Avaliação Hormonal: verifique possíveis desequilíbrios hormonais que possam impactar o peso e o metabolismo.

  • Uso de Medicamentos: considere, sob orientação médica, o uso de medicamentos aprovados para auxiliar na perda de peso.

Com Assessorias

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