A Fundação Oswaldo Cruz emitiu um alerta nesta segunda-feira (1/7) para a transmissão de meningite por meio de caramujos (meningite eosinofílica). A preocupação surgiu depois da morte de um paciente em abril, no município de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Análises laboratoriais na Fiocruz identificam a presença do verme causador da doença em um caramujo na região onde o caso foi registrado.

A meningite é uma doença caracterizada pela inflamação das meninges, membranas que revestem o encéfalo e a medula espinhal e pode levar à morte. O sintoma mais comum da meningite eosinofílica é dor de cabeça. A rigidez da nuca e a febre – comuns em outras formas da doença – são mais raras na meningite transmitida por caramujos. Alguns pacientes apresentam distúrbios visuais, enjoo, vômito e parestesia persistente (sensação de formigamento ou dormência).

Para Silvana Thiengo, chefe do Laboratório de Malacologia do do Laboratório de Malacologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz),  o cenário reforça a necessidade de atenção dos serviços de saúde para diagnosticar a doença.

Desde 2006, temos casos de meningite eosinofílica no Brasil. Porém, muitos profissionais de saúde ainda desconhecem a doença. Os médicos precisam lembrar essa possibilidade para fazer o diagnóstico e oferecer o tratamento adequado”, disse.

Na maioria dos casos, a pessoa se cura espontaneamente. Mesmo assim, o acompanhamento médico é importante porque alguns indivíduos desenvolvem quadros graves, que podem levar à morte. O tratamento busca reduzir a inflamação no sistema nervoso central e aliviar a dor, além de evitar complicações.

Paciente teria ingerido caramujo cru

A meningite eosinofílica é transmitida pelo verme Angiostrongylus cantonensis, em seu ciclo de vida, é um parasita que busca hospedeiros como roedores, como ratos, que servem para desenvolvimento do parasita adulto.

Os vermes se reproduzem e geram larvas que são eliminadas pelas fezes dos mamíferos. As larvas acabam ingeridas por caramujos. Dentro dos moluscos, elas adquirem a forma capaz de infectar animais vertebrados, ou seja, é um ciclo que se repete.

A infecção humana ocorre quando as pessoas ingerem um caramujo infectado ou o muco liberado por ele, contendo as larvas do verme. De acordo com a Vigilância Ambiental em Saúde (Suvam) de Nova Iguaçu, há relatos de que o paciente se infectou ao ingerir um caramujo de água doce cru.

A chefe do Laboratório de Malacologia aponta três formas principais de evitar o contágio pelo caramujo – incluindo caracóis terrestres, lesmas e caramujos aquáticos:

  1. tomar cuidados ao manuseá-lo,
  2. higienizar verduras e
  3. não ingerir esses animais crus ou malcozidos.

É preciso lavar bem frutas e verduras, deixando de molho por 30 minutos em mistura com um litro de água e uma colher de sopa de água sanitária, enxaguando bem em água corrente antes do consumo.

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Verme encontrado em Nova Iguaçu está presente em 14 estados

A Malacologia é o ramo da biologia que estuda os moluscos. Após a Fiocruz ser notificada do caso, agentes da Suvam de Nova Iguaçu e do Laboratório de Malacologia do IOC realizaram a coleta de caramujos em diferentes pontos do bairro Ipiranga, onde o paciente contraiu a doença.

De um total de 22 moluscos analisados, o verme causador da doença, Angiostrongylus cantonensis, foi encontrado em um caramujo da espécie Pomacea maculata, conhecido popularmente como lolô ou aruá.

Estudos do Serviço de Referência para Esquistossomose-Malacologia da Fiocruz feitos entre 2008 e 2021 detectaram a presença desse verme em 14 unidades da federação.

Os pesquisadores do IOC coletaram também animais como ratos, preás e gambás na região onde houve o caso para confirmar a infecção desses mamíferos. As análises estão em andamento.

Rio de Janeiro (RJ) 01/07/2024 -Etapa da análise parasitológica, realizada no Laboratório de Malacologia do IOC, para investigação da infecção em moluscos.Foto: Josué Damacena/Fiocruz/Divulgação
Análise parasitológica, no Laboratório de Malacologia do IOC, para investigação da infecção em moluscos (Foto: Josué Damacena/Fiocruz/Divulgação)

Como exterminar caramujos, caracois e outros moluscos

Em algumas regiões, é comum a presença de caramujos perto de casas e locais de presença humana. Os mais comuns são os Achatina fulica, conhecidos como caracol gigante africano. A recomendação das autoridades de saúde para a exterminação desses moluscos é por meio da coleta manual, porém, sempre usando luvas ou sacos plásticos para proteger a mãos.

Rio de Janeiro (RJ) 01/07/2024 -Fiocruz alerta para meningite transmitida por caramujo.Profissionais do IOC Fiocruz e da Suvam Nova Iguaçu em atividade de campo para coleta de caramujos no bairro Ipiranga. Foto: Fiocruz/Divulgação
Profissionais do IOC Fiocruz e da Suvam Nova Iguaçu em atividade de campo para coleta de caramujos no bairro Ipiranga (Foto: Fiocruz/Divulgação)

Em seguida, é preciso colocá-los em recipiente com água fervente por cinco minutos. Depois, quebrar as conchas e enterrá-las ou jogá-las no lixo. Esse cuidado de quebrar a proteção é para que não se tornem criadouros de Aedes aegypti, transmissor de doenças como dengue, zika e chikungunya.

Caso não seja feita a exposição à água fervente, os moluscos recolhidos devem ser colocados em um recipiente, como balde ou bacia, e submersos em solução preparada com uma parte de hipoclorito de sódio (água sanitária) para três de água. Após 24 horas de imersão, a solução pode ser dispensada, e as conchas descartadas.

Vigilância sanitária nos municípios é fundamental

Além das orientações à população, a Fiocruz reforça a importância de agentes de vigilância municipais mapearem os riscos de infecção, por meio de coleta periódica de moluscos e envio para análise parasitológica realizada pelo Serviço de Referência do IOC/Fiocruz.

São poucos os municípios que enviam espécimes para análise parasitológica regularmente. Os serviços de vigilância de vetores frequentemente precisam concentrar suas equipes no combate a doenças epidêmicas, como a dengue, e a vigilância dos caramujos fica desguarnecida”, constata a coordenadora do Laboratório de Referência, Elizangela Feitosa.

Segundo ela, Nova Iguaçu é uma das cidades onde o monitoramento é realizado regularmente, como explica o responsável pela vigilância malacológica no município, José de Arimatea Brandão Lourenço.

Geralmente, a população faz o apelo por causa do incômodo causado pelo caracol africano. Mas, sabendo que temos uma doença emergente, nós coletamos amostra para a vigilância parasitológica e mostramos aos moradores como catar os caramujos de forma segura, para tentar reduzir ou eliminar esse vetor”.

Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro informou que ainda não tinha sido notificada pela Secretaria Municipal de Saúde de Nova Iguaçu e que mobilizou uma equipe técnica, nesta segunda-feira (1°), para apuração do caso.

Da Agência Brasil

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