• A cada 2 minutos, uma mulher morre no planeta durante a gravidez ou no parto, de acordo com as últimas estimativas divulgadas pela Organização das Nações Unidas (ONU).
  • Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 830 mulheres morrem todos os dias no mundo por causas relacionadas à gravidez e ao parto.
  • A Organização Panamericana de Saúde (Opas), órgão ligado à OMS na América Latina e no Caribe, alerta que quase 8.400 mulheres morrem a cada ano devido a complicações durante a gravidez, parto e puerpério.
  • O Painel de Monitoramento da Mortalidade Materna aponta que o Brasil teve uma média de 107 mortes a cada 100 mil nascimentos, número superior ao preconizado pela ONU, que não deveria ultrapassar a marca de 70.
  • A média na Europa é de 13 mortes a cada 100 mil nascimentos, segundo Relatório da Saúde Europeia. Para efeitos de comparação, no Japão, por exemplo, a proporção é de seis óbitos de mulheres por 100 mil nascidos vivos.

Diante desses números alarmantes, que envergonham e entristecem o país no final deste mês das mães, o Portal ViDA & Ação traz reflexões de instituições, especiais e autoridades em saúde pública na semana em que lembramos o Dia Nacional de Luta pela Redução da Mortalidade Materna e o Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher (28 de maio).

A data chama atenção para o grave problema de saúde pública e formas de reduzir esses índices. De acordo com especialistas, em média, 40% a 50% das causas podem ser consideradas evitáveis.

Nove em cada 10 mortes maternas são evitáveis ​​se as medidas e recomendações comprovadamente eficazes forem aplicadas: assistência materna de qualidade, acesso universal a métodos contraceptivos e combate às desigualdades no acesso à saúde”, destaca a Opas/OMS.

Mortalidade materna volta aos níveis de 25 anos atrás

Dados do Ministério da Saúde mostram que de 1990 a 2015 houve uma queda de 58% nos óbitos maternos, passando de 143 para 60 a cada 100 mil nascidos vivos. Já em 2021, segundo o Painel de Monitoramento da Mortalidade Materna, o país alcançou o maior patamar em 25 anos: 110 mortes de mulheres a cada 100 mil nascidos vivos – a mesma taxa que em 1998.

O número é muito superior ao preconizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que recomenda que os países não devem ultrapassar a marca de 70. Ao todo, 2.857 mulheres grávidas e puérperas brasileiras perderam suas vidas, o que equivale a uma média de 8 óbitos por dia.

O crescimento foi de mais de 45% em comparação com o ano anterior (2020), estando relacionado à pandemia da Covid-19, já que teve como causa de mortes síndromes respiratórias agudas essencialmente.

Já os dados preliminares do Ministério da Saúde analisados pelo Observatório Obstétrico Brasileiro (OOBr) apontam que os óbitos de gestantes em 2021 quase dobraram em relação a 2019. Segundo o Boletim Epidemiológico emitido pelo Ministério da Saúde, em 2019, foram notificados 1.655 óbitos maternos ao Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM).

“Em 2021, a razão de mortalidade materna no Brasil voltou aos níveis inaceitáveis de 25 anos atrás”, destacou a coordenadora do OOBr, Agatha Rodrigues. Devido a pandemia da covid, era esperado um aumento da mortalidade em 2021, mas não nesse patamar.

No Brasil, os índices estão entre os mais altos do mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos para serem alcançados até 2030 é a redução da taxa global de mortalidade materna para menos de 70 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos. O Brasil estabeleceu reduzir a mortalidade materna para 30 óbitos por 100 mil nascidos vivos até 2030 a fim de contribuir para esse objetivo.

Principais causas da mortalidade materna

De acordo com o documento, 65,7% das mortes maternas foram decorrentes de causas obstétricas diretas (relacionadas a complicações obstétricas ou a uma cadeia de eventos resultantes de morbidades diretamente ligadas à gravidez, parto ou puerpério), 30,4% de causas obstétricas indiretas (resultante de doenças que existiam antes da gestação ou que se desenvolveram durante esse período) e 3,9% de causas obstétricas inespecíficas.

Entre as causas obstétricas diretas, predominam a hipertensão (20%) – que leva à pré-eclâmpsia ou à eclâmpsia, a hemorragia antes e durante o parto (12,4%), a infecção puerperal (4,4%) e o aborto (2,7%).

Entre as causas obstétricas indiretas, prevalecem as doenças do aparelho circulatório (8,3%), doenças do aparelho respiratório (4,1%) e doenças infecciosas e parasitárias maternas (2,9%), com destaque para a Aids (0,8%).

Redes sociais do Portal ViDA & Ação abraçam a campanha no Dia Nacional pela Redução da Mortalidade Materna (Arte: Maria Clara Macedo)

Estados do Norte e Nordeste lideram triste ranking de mortes maternas

Caracterizada pela morte de uma mulher durante a gravidez ou dentro de um período de 42 dias após o término da gestação, a mortalidade materna é considerada um importante indicador da qualidade de vida de determinada população. Esse fator evidencia que as condições socioeconômicas e acesso à saúde estão diretamente ligados aos indicadores.

Assim, o índice de mortalidade materna pode variar conforme a região do país. ‘De acordo com o Ministério da Saúde, em 2019, as maiores taxas de mortalidade materna foram observadas no Piauí (98,1), Pará (96,1), Roraima (91,9), Amazonas (84,8) e Maranhão (80,6). As menores foram observadas no Distrito Federal (21,2) e em Santa Catarina (30,6).

De acordo com a Opas/OMS, o atraso no reconhecimento de condições modificáveis, na chegada ao serviço de saúde e no tratamento adequado, está entre as principais causas das altas taxas de mortalidade materna ainda presentes na maior parte dos estados brasileiros.

  • Palavra de Especialista

    Cuidados pré-concepcionais salvam vidas

    Por Elton Carlos Ferreira*

    A mortalidade materna é definida como o óbito durante a gravidez ou até 42 dias de pós-parto (o período conhecido como puerpério) devido a qualquer causa relacionada ou agravada pela gestação e/ou por medidas tomadas em relação a ela. Porém, não está associada a causas acidentais ou incidentais, sendo um importante marcador da qualidade de vida da população.

    De acordo com boletim divulgado pela ONU (Organização das Nações Unidas), em 2020, cerca de 830 mulheres morrem todos os dias no mundo por complicações dessa natureza. Isso representaria uma fatalidade a cada dois minutos, número ainda pior nos últimos anos, durante a pandemia, ainda não contabilizado pelo levantamento.

    No Brasil, as altas taxas se configuram em grave problema de saúde pública, atingindo desigualmente nossas Regiões, com maior prevalência entre mulheres das classes sociais com menor ingresso e acesso aos bens sociais.

    Havia uma meta firmada, em 1990, para que o Brasil reduzisse para 35 o número de mortes maternas por ano a cada 100.000 nascidos vivos até 2015. Houve uma melhora significativa, passando de 143 para 60, mas ainda muito aquém do alvo estabelecido.

    A partir de 2015, a ONU estabeleceu os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que devem ser atingidos por todos os países até 2030 e, dentro da meta número 3, está contemplada a redução da mortalidade materna. Especificamente para nosso país, será preciso reduzir para 30.

    Quando analisamos dados nacionais mais atuais, verificamos que, em 2019, antes da Covid-19, a razão de mortalidade materna foi de 57, subindo para 67 em 2020 e saltando para 107 em 2021, ano mais intenso da pandemia. Por si só, esses números são extremamente alarmantes, e ficam ainda mais assustadores quando pontuamos que a maioria dessas mortes é evitável.

    Significa dizer que podemos reduzir em muito tais óbitos por meio de medidas como organização do sistema de saúde, estruturação e hierarquização da rede de assistência, capacitação dos profissionais de saúde, conscientização da população sobre a importância do planejamento familiar e da realização de pré-natal regular, além da oferta e disponibilização de métodos de planejamento reprodutivo para todas as mulheres que desejarem.

    As principais causas no Brasil são hemorragia (principalmente após o parto), hipertensão arterial (pré-eclâmpsia e suas complicações) e infecções, originadas na gestação, no pós-parto e a partir de procedimentos inseguros de aborto.

    Para essas causas, uma assistência pré-natal adequada, com o diagnóstico precoce de situações de risco e encaminhamento para centros de referência em gestações de alto risco, assim como a pronta identificação e tratamento da hemorragia pós-parto, das infecções e da pré-eclâmpsia com critérios de gravidade, podem impactar de forma bastante significativa e positiva nos desfechos da gestação.

    Se você é gestante, procure por informações sobre situações agravantes da gestação e esclareça com seu obstetra suas dúvidas e questionamentos. Agora, se pretende engravidar, é de fundamental importância que seja feita uma consulta antes, pré-concepcional, para receber diversas orientações e também sanar dúvidas. Vamos, juntos, lutar por uma melhor assistência à saúde para todas as mulheres e, dessa forma, reduzir as mortes maternas no nosso país!

    *Elton Carlos Ferreira, médico ginecologista e obstetra e professor, com atuação em gestação de alto risco no Vera Cruz Hospital

  • Com Assessorias

 

 

Shares:

Posts Relacionados

1 Comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *