O hospital explicou que o rim de porco usado no xenotransplante em Rick sofreu 69 edições genômicas. O órgão foi fornecido pela eGenesis de Cambridge, em Massachusetts, de um porco geneticamente editado, usando uma tecnologia para remover genes suínos prejudiciais e adicionar genes humanos para melhorar a sua compatibilidade com humanos.
Os cientistas também inativaram retrovírus presentes no doador suíno para eliminar qualquer risco de infecção em humanos. Nos últimos cinco anos, o MGH e a eGenesis conduziram extensas pesquisas na área de xenotransplante, tendo suas descobertas publicadas na revista científica Nature em 2023.
Histórico de xenotransplantes no mundo
Os primeiros estudos na área foram realizados em primatas não humanos, que receberam órgãos suínos geneticamente modificados. “No entanto, esses estudos se extinguiram, não tem como avançar mais neles, então foi preciso começar os experimentos com pessoas”, contextualiza David Neto.
Diante disso, foram realizados dois transplantes de coração de porco em pessoas vivas: um homem de 57 anos e outro de 58 anos, ambos com uma doença cardíaca em estágio terminal e considerados inelegíveis para um transplante tradicional (com rim humano). Os estudos foram realizados em 2022 e 2023 por médicos da Escola de Medicina da Universidade de Maryland.
Em 2021, uma equipe médica de Nova York havia realizado um transplante semelhante, mas apenas como pesquisa – o paciente tinha tido morte cerebral, com sinais de disfunção renal. Por três dias, o novo rim foi ligado às suas veias e artérias sanguíneas e mantido do lado de fora de seu corpo, o que garantiu acesso aos pesquisadores.
No Brasil, 3 mil pacientes morrem na fila sem receber órgão
Depois do transplante de rim, outros órgãos mais demandados no Brasil – tanto por adultos, quanto por crianças – são fígado, coração e pulmão. No ano passado, a lista de espera por um novo órgão recebeu 42 mil pessoas e em torno de três mil pessoas vieram a morrer, sem receber a doação. Uma realidade que poderia mudar com mais transplantes de órgãos.
De cada 1.000 pessoas que morreram no país, no máximo 14,5% poderiam ser doadoras em morte encefálica, mas somente 2,6% tornaram-se doadoras. A principal barreira existente no Brasil para a doação é a recusa familiar. Em 2023, 42% das famílias recusaram a doação do órgão do ente falecido. A taxa de doadores é maior no Sul (36,5%), seguido do Sudeste (22,2%), Centro-Oeste (14,1%), Nordeste (13%) e Norte (7%).