Mas que calooooor! Como os blocos se adaptam às mudanças climáticas?

Movimento ‘As Águas Vão Rolar’ defende medidas para contornar as mudanças climáticas e garantir o bem-estar dos foliões

Carnaval de Rua do Rio (Foto Sabrina Mesquita / Riotur)
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Enfrentar a maratona da folia em meio ao calor extremo na maior parte do Brasil é para os fortes. Por isso, para este Carnaval de 2024, organizadores de blocos de rua da cidade de São Paulo se uniram por meio de um apelo aos órgãos públicos da cidade para que providenciem medidas de segurança e ações que possam minimizar eventos climáticos, que possam ocorrer durante a folia.

movimento, chamado de “As Águas Vão Rolar”, também faz referência a medidas práticas para contornar as mudanças climáticas e garantir o bem-estar dos foliões, citando o recente decreto do Ministério da Justiça que obriga a distribuição gratuita de água em eventos feitos em dias de calor.

A carta pede, ainda, que a prefeitura seja flexível em relação ao horário de saída dos blocos em dias de calor excessivo. Caso as temperaturas estejam acima de 37°C ou estejam ocorrendo chuvas intensas com ocorrências de alagamentos e enchentes, o bloco deve poder decidir atrasar a concentração ou a saída do desfile em algumas horas, com possibilidade de postergar para o período noturno, alterando a norma de proibição do som a partir das 18h, segundo o documento.

Adaptação às mudanças climáticas

As medidas do movimento ‘As águas vão rolar’ reverberaram também na área ambiental. Para Luisa Santiago, diretora executiva para a América Latina da Fundação Ellen MacArthur, os pedidos dos organizadores de blocos por medidas que garantam o bem-estar dos foliões são um exemplo de adaptação às consequências das mudanças climáticas.

“Diante do calor exacerbado, é preciso encontrar alternativas imediatas para evitar os danos à população. Nós devemos ver cada vez mais ações de adaptação às novas condições. Mas, serão as ações de mitigação que poderão evitar que a situação se agrave e reverter as consequências”, destaca.

Para isso, precisaremos ir além da transição a fontes de energia renováveis e repensar também a forma como os produtos são feitos e comercializados e como os alimentos são cultivados e consumidos. A economia circular tem o potencial de reduzir as emissões de GEE de alguns materiais principais (cimento, aço, plástico e alumínio) em 40% ou 3,7 bilhões de toneladas até 2050. Na produção de alimentos, esse potencial de redução sobe para 50%.

Tá com sede? Como a reutilização pode reduzir o impacto dos resíduos sólidos

O movimento “As Águas Vão Rolar” também reivindica a diminuição do impacto dos resíduos, com oferta da estrutura necessária para destinação adequada dos resíduos gerados pelos participantes.

Em Ubatuba, por exemplo, no carnaval de 2022 foram coletadas 892 toneladas de resíduos em apenas 5 dias, o que segundo a prefeitura da cidade corresponde a mais de 40% do volume coletado em um mês normal.

Já na capital paulista, no pré-carnaval deste ano, já foram coletadas mais de 240 toneladas de resíduos, em um único final de semana. Com isso, a tendência é esse volume aumentar nos dias oficiais da folia.

Para Luisa Santiago, eventos que atraem um grande número de pessoas mostram como a nossa economia, hoje, desperdiça e polui em grandes quantidades. Ela defende que a economia circular oferece estratégias para reverter essa situação, como manter os produtos utilizados em circulação através da reutilização.

“Empresas já estão aproveitando essa oportunidade, como a Meu Copo Eco, que oferece um serviço de aluguel e higienização de copos reutilizáveis para eventos. Os organizadores de eventos podem contribuir com a escalabilidade desse modelo incorporando o valor da reutilização às suas estratégias de marketing. Assim. os copos e outros itens poderiam reutilizados não apenas em um só evento, mas em vários”, comenta.

Segundo ela, modelos de reúso, como esse, são fundamentais para combater a poluição por plásticos, pois estratégias de reciclagem e limpeza não suficientes para dar conta da quantidade de plástico que entra no mercado. Ou seja, precisamos de alternativas que reduzam a produção de plásticos e que mantenham os plásticos existentes e necessários circulando na economia.

O mais recente estudo da Fundação Ellen MacArthur também mostrou que, no cenário mais ambicioso, as embalagens plásticas retornáveis poderiam reduzir as emissões de gases de efeito estufa e o uso de água de 35% a 70% em comparação com os plásticos descartáveis.

Leia mais sobre o tema no artigo  “Desbloqueando uma revolução no reúso: ampliando o impacto das embalagens reutilizáveis”

Com que roupa eu vou? E se o Carnaval estimulasse a moda circular

Assim como roupas para festas de gala, as fantasias de carnaval são itens usados poucas vezes ao ano, em sua maioria apenas durante o período festivo. Essa característica pode facilitar a implementação da moda circular para essas peças, evitando os resíduos e reduzindo o impacto climático da produção e descarte desenfreadas.

“O período carnavalesco pode levar a uma produção excessiva de peças que serão descartadas com maior facilidade do que as roupas comuns em função do breve período de uso e dos materiais empregados nas fantasias, que têm uma baixa durabilidade. A combinação de design e modelos de negócio circulares para fantasias e adereços poderia revolucionar o Carnaval, evitando os resíduos e gerando novos fluxos de receita”, diz Victoria Almeida, gerente da Rede de Empresas da Fundação Ellen MacArthur na América Latina.

Segundo Victoria, para serem circulares, as peças precisam ser feitas com materiais duráveis, para resistir a muitos ciclos de uso, de maneira que possam ser desmontadas para criar novas peças, e com materiais seguros.

“Algumas fantasias, em si, já têm caráter atemporal, o que facilita os modelos de aluguel. Mas, outros modelos também poderiam incentivar a circulação das fantasias, como a revenda, a restauração e a remanufatura. A moda também oferece oportunidades que vão além do produto físico: hoje já é possível criar e vestir as pessoas com peças de roupas digitais que podem ser aplicadas, por exemplo, para a criação de publicidade e compartilhamento nas redes sociais”, reflete.

Segundo o estudo “Modelos de negócios circulares: redefinindo o crescimento para um setor de moda próspero”, desenvolvido pela Fundação Ellen MacArthur em 2021, nas últimas décadas, a produção da indústria da moda cresceu, ao mesmo tempo em que as margens de lucro diminuíram e o impacto no meio ambiente aumentou.

A moda circular é uma oportunidade de manter a vitalidade do negócio com menor impacto possível ao planeta. Estima-se que até 2030, os negócios de moda alinhados aos princípios da economia circular alcance a marca de USD 700 bilhões, representando 23% do mercado global de moda.

Saiba mais sobre como colocar uma verdadeira moda circular nas ruas no artigo: “Modelos de negócios circulares: redefinindo o crescimento para um setor de moda próspero”.

Com informações da Fundação Ellen MacArthur

 

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