Quem se lembra da ivermectina levanta a mão. Isso mesmo, o conhecido remédio usado para matar piolho se tornou muito popular durante a pandemia de Covid-19, por causa de fake news disseminadas nas redes sociais, inclusive por médicos negacionistas da vacina e adeptos do bolsonarismo. Agora com o surto de dengue em todo o Brasil, o antiparasitário voltou a ganhar os holofotes e também vem sendo falsamente divulgado como um remédio para combater a doença causada pelo mosquito Aedes aegypti.

A disseminação de informações não comprovadas sobre o uso da ivermectina contra a dengue tem sido observada, inclusive em perfis de redes sociais de alguns profissionais de saúde. Mentira das grossas. Tanto que o Ministério da Saúde veio a público alertar sobre a ineficácia desse medicamento no tratamento da dengue. O governo federal esclarece que não há dados ou fontes confiáveis que respaldem essa afirmação. E enfatiza que a ivermectina também não é eficaz em reduzir a carga viral da dengue. Portanto, não reconhece qualquer protocolo que inclua o medicamento no tratamento dessa doença.

Desde que passaram a circular em diversas redes sociais indicações do uso de Ivermectina para o tratamento da dengue, a plataforma Consulta Remédios (CR), segundo maior marketplace de produtos farmacêuticos do Brasil, observou um aumento nas buscas pelo medicamento.

Segundo a CR, na primeira quinzena de dezembro, as buscas chegaram a cerca de 30 mil. Já nos 15 primeiros dias de fevereiro, esse dado já ultrapassa 46 mil visualizações no produto, ou seja, um aumento de 44%. Se comparado os meses cheios, as buscas em dezembro na plataforma chegaram a cerca de 67 mil, enquanto em janeiro, ultrapassam a casa das 90 mil visualizações.

Farmacêutica alerta para riscos da automedicação

“Não quer dizer exatamente que todas as pessoas estão comprando a medicação, porém notamos um aumento de 58% nas vendas em janeiro, se comparado à média mensal do último trimestre de 2023″, diz Rafaela Sitiniki, farmacêutica responsável pela CR.

Segundo ela, o aumento na busca indica que as pessoas estão acreditando naquilo que está sendo divulgado. E adverte: “Além de não ser uma prática segura, a automedicação pode mascarar sintomas importantes e comprometer a eficácia do tratamento, especialmente em doenças graves como a dengue”.

“É falso que esse medicamento combata a doença. É um antiparasitário, enquanto a dengue é um vírus. A questão da automedicação é muito complicada, sobretudo quando se fala de dengue. Não existe hoje qualquer protocolo de tratamento da enfermidade com a Ivermectina, mas a gente nota que houve sim um aumento expressivo nas buscas dentro da plataforma, o que é preocupante”, alerta

A propagação de fake news, especialmente em um contexto epidemiológico que requer atenção, representa um risco significativo à saúde pública. A ivermectina ganhou destaque durante a pandemia de Covid-19, quando foi promovida como parte de um tratamento precoce contra o vírus, apesar da falta de evidências científicas que comprovassem sua eficácia. Estudos realizados na época mostraram que o medicamento não possuía benefícios significativos no combate ao coronavírus.

Aspirina e ibuprofeno podem oferecer riscos aos pacientes

Além da Ivermectina, medicamentos como analgésicos e anti-inflamatórios, como é o caso do popular ácido acetilsalicílico, presente na Aspirina, e o ibuprofeno, podem oferecer riscos aos pacientes. “O ácido acetilsalicílico, em particular, possui propriedades anticoagulantes, reduzindo os fatores de coagulação sanguínea. Esse efeito anticoagulante pode facilitar sangramentos e complicar o processo de cicatrização, tornando-se um fator de risco adicional”, esclarece a profissional.

“Outros medicamentos anti-inflamatórios denominados hormonais ou corticoesteroides como dexametasona, prednisona, prednisolona e hidrocortisona também devem ser evitados, pois podem facilitar a tendência de hemorragias”, diz Rafaela.

Entre outros problemas ocasionados pela automedicação, estão ainda um possível atraso ou até mesmo falso diagnóstico causado pelo mascaramento de sintomas, e reações adversas que uma possível interação medicamentosa possa causar. Por isso, é importante que ao aparecerem os primeiros sintomas, as pessoas devem procurar imediatamente atendimento médico nas Unidades de Saúde da Atenção Primária do Sistema Único de Saúde (SUS).

Os sintomas da dengue geralmente incluem febre alta, dores de cabeça, musculares, nas juntas e no fundo dos olhos, fraqueza e manchas na pele, que muitas vezes podem ser confundidos com os de outras doenças, como gripe ou resfriado. “Essa confusão diagnóstica é que leva à automedicação. Mas em época de surto de dengue, é preciso que as pessoas tenham mais responsabilidade”, diz a farmacêutica.

Receita na mão e vacina como esperança

O Brasil vive hoje um surto da doença, que é perigosa e pode levar à morte. Estimativas divulgadas pelo Ministério da Saúde revelam que os casos já chegam a quase 400 mil somente em 2024. O anúncio da distribuição da vacina Dengvaxia pelo Ministério da Saúde trouxe um novo horizonte para a prevenção da doença.

Com aplicação em duas doses, a expectativa é atender inicialmente grandes centros e combater os sorotipos 1, 2, 3 e 4 do vírus da dengue. Mas enquanto a distribuição ainda não é massiva, a farmacêutica ressalta a importância do uso de repelentes para evitar o ataque do mosquito e do atendimento médico em caso de sintomas.

“Para se medicar é preciso ter uma receita. Por mais que os medicamentos utilizados contra a dengue sejam corriqueiros na vida dos pacientes, é a receita que resguarda o tratamento. Como uma das principais recomendações é o repouso, hoje mecanismos como a Receita Digital podem dar comodidade e facilitar a vida das pessoas, assim como a compra do medicamento de forma online”, finaliza.

Tratamento da dengue: protocolo oficial e recomendações

Segundo as diretrizes do Ministério da Saúde, o tratamento da dengue se baseia na identificação dos sintomas pelo médico por meio de uma consulta detalhada com o paciente. Posteriormente, exames laboratoriais podem ser solicitados, a depender da gravidade do caso.

Para os casos leves de dengue, a orientação é repouso durante o período de febre, ingestão adequada de líquidos para garantir a hidratação e uso de analgésicos como paracetamol ou dipirona para alívio da dor e da febre. É fundamental destacar que o ácido acetilsalicílico não deve ser utilizado, pois aumenta o risco de sangramento.

É crucial que o paciente esteja atento aos sinais de alarme da doença, como dor abdominal intensa e persistente, náuseas, vômitos persistentes e sangramento de mucosas. Nestes casos, a internação para um manejo clínico adequado é recomendada de acordo com o protocolo estabelecido.

Os medicamentos prescritos são aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e devem ser utilizados conforme orientação médica para o manejo adequado da doença. “É importante seguir as condutas clínicas baseadas em evidências científicas para garantir a segurança e eficácia no tratamento da dengue”, diz a médica Marcela Rodrigues, diretora da Salus Imunizações.

Com Assessorias

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