O período de férias é marcado pela falta de rotina e horas livres para que as crianças e adolescentes possam brincar e se conectar com os familiares. Entre as grandes questões que cercam os pais e responsáveis está o uso contínuo das telas e celulares.  Presente no cotidiano infantil, o uso excessivo das telas é motivo de debate constante entre familiares, responsáveis e especialistas sobre o tema.

A gente sabe que inserir esses equipamentos é uma realidade na sociedade, porém o uso desenfreado, que muitas vezes é permitido nas férias, pode impactar a criatividade, além de gerar falta de socialização e transtornos de ansiedade, por exemplo”, revela a professora Viviane Anita Kunst, do Marista Escola Social Curitiba. 

Como é possível gerenciar o tempo e permitir que os filhos brinquem livremente e evitem o uso excessivo dos eletrônicos?  Apesar de curtas, as férias escolares de julho são uma oportunidade valiosa para as crianças se desligarem das telas e se conectarem com experiências do mundo real.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que crianças e adolescentes passem no máximo duas horas por dia em atividades de tela, excluindo o tempo usado para estudos. Durante as férias, é essencial aproveitar a oportunidade para reduzir ainda mais esse tempo e estimular outras formas de diversão e aprendizado.

A defesa de educadores, psicólogos e outros profissionais por mais cuidado e moderação dos meios eletrônicos durante esse período não é novidade. A infância é um período muito importante de crescimento e maturidade da criança. Todo o corpo, especialmente a estrutura do cérebro, está em processo de modelagem e desenvolvimento, e, portanto, é mais sensível a estímulos externos, incluindo a exposição a telas.

Durante a infância, as crianças estão mais suscetíveis a desenvolver hábitos e comportamentos a partir de suas experiências precoces. Tanto é verdade que se compararmos as sensibilidades dos adultos de hoje, que não tiveram acesso a tanta tela na infância com as crianças, estes têm maior consciência para gerenciar o tempo e o conteúdo consumido, ou seja, conseguem fazer o paralelo entre o tempo de tela saudável e o vício.

Já as crianças, por ainda não estarem completamente desenvolvidas, possuem maior propensão ao desenvolvimento de vício em telas, isso porque, acontece a liberação de hormônios e neurotransmissores relacionados a vício.

Com o passar do tempo, crianças expostas a telas em excesso têm sua capacidade de se comunicar, socializar e se engajar em atividades saudáveis fora das telas afetadas. É nas interações com o ambiente, professores e pais que as crianças percebem seu potencial para ampliar suas habilidades físicas, cognitivas, emocionais e sociais.

A pedagoga Dayse Campos, diretora da escola Interpares, explica que o uso excessivo de telas tem sido associado a diversos problemas, como distúrbios do sono, sedentarismo, problemas de visão e dificuldades de concentração.

Em meio a tantas transformações digitais e apego às telas, é essencial para um crescimento saudável para as crianças a descoberta da magia das tradições culturais, especialmente quando se trata do período de férias. Ao incentivar a redução do tempo de tela e a exploração de atividades diversas, contribuímos para um desenvolvimento mais saudável e equilibrado dos nossos jovens”, enfatiza.

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Dayse lista cinco atividades para ajudar pais e cuidadores:

1 – Exploração da natureza: Caminhadas, passeios de bicicleta, piqueniques e acampamentos. As crianças aprendem sobre a flora, fauna e ecossistemas, desenvolvendo uma apreciação e respeito pela natureza.

2 – Atividades criativas: Pintura, desenho, construção de brinquedos e artesanato. A confecção de fantasias, por exemplo, envolve a escolha de temas, seleção de materiais e a aplicação de habilidades manuais.

3 – Esportes e jogos: Futebol, vôlei, brincadeiras de esconde-esconde, entre outros. Atividades ao ar livre incentivam o exercício físico, melhorando a saúde cardiovascular, força muscular e coordenação motora. Movimentos como correr, pular e escalar ajudam no desenvolvimento das habilidades motoras grossas e finas.

4 – Eventos culturais: Visitas a museus, teatros, feiras de livros e apresentações musicais. Entender o passado por meio de exposições e apresentações ajuda as crianças a desenvolverem um senso de identidade e continuidade histórica.

5 – Leitura e contação de histórias: Criação de clubes de leitura, contação de histórias em grupo e leitura em família. A exposição a uma ampla variedade de palavras e estruturas de frases melhora o vocabulário e a habilidade de comunicação.

Ao ouvir ou ler histórias, as crianças aprendem a fazer previsões, entender causas e efeitos e pensar criticamente sobre os eventos e personagens. As férias são um período precioso para as crianças e adolescentes se reconectarem consigo mesmos, com a família e com o mundo ao seu redor.

 

Férias: brincar longe das telas é essencial para as crianças

No contraponto do uso das telas, os especialistas em educação infantil Viviane Anita Kunst e Karina Tenorio de Lima,  do Marista Escola Social Curitiba.  alertam que o brincar livre deve ser incentivado, e nada melhor do que as férias para que os pais e responsáveis criem uma rotina de valorização do brincar.

O ato da brincadeira desenvolve a criatividade, permite que a criança tenha liberdade para suas construções e expressões, promove interações entre eles, estimula o raciocínio lógico e o levantamento de hipóteses no mundo do faz de conta. A autonomia do brincar é muito necessária nesse mundo”, revela Karina.

As educadoras dão dicas de brincadeiras que podem ser feitas nas férias para evitar o uso excessivo de telas:

1. Circuito olímpico em casa

Faltando pouco tempo das Olimpíadas de Paris 2024, que tal montar brincadeiras que sejam semelhantes a um circuito de competição? Vale utilizar cordas, almofadas, travesseiros e materiais que tenham em casa, depois é só juntar as crianças e partir para a brincadeira.

2. Utilizar livros em dias de chuva

Em boa parte do país as férias prometem ser chuvosas. Portanto, a inserção de livros em brincadeiras que possam ser feitas dentro de casa é uma ótima maneira de evitar o uso das telas. Vale momentos de contação de histórias, mímicas, e adivinhações sobre os livros e os seus personagens.

3. Cozinhar também é brincar

Outro recurso que pode ser utilizado em casa é levar a brincadeira para a cozinha, com todos os cuidados com o fogão e utilizando objetos adequados para a idade das crianças. É possível fazer bolachas caseiras, pães e bolos e sucos divertidos e coloridos, tudo isso pode virar guloseimas e gerar ótimas recordações.

4. Brincadeiras tradicionais

O simples também funciona muito, por isso, as brincadeiras que passam de pai para filho como esconde-esconde, lenço-atrás e atividades com bexigas são ótimas opções. Além da diversão, é um ótimo momento de apresentar a brincadeira favorita da infância dos pais e responsáveis para as crianças.

5. Use materiais recicláveis

As caixas de leite, ovos e demais itens que iam direto para a lixeira podem virar construções sobre a mesa. Aqui vale utilizar toda a imaginação em busca de recuperar os itens e transformar em brinquedos. Aproveite para inserir pincéis e tintas para estimular ainda mais a criatividade dos pequenos.

Veja dicas de como tornar o período mais divertido e educativo

Durante as férias escolares, chega um momento em que os pais já não sabem mais como entreter as crianças e evitar que passem o dia e a noite em frente às telas. Para unir a diversão à ludicidade e ao desenvolvimento integral dos pequenos durante o período, a terapeuta ocupacional Palila Auad, da Hapvida NotreDame Intermédica, compartilha dicas de como incorporar experiências enriquecedoras à pausa na rotina de estudos.

De acordo com a profissional, é fundamental oferecer uma variedade de atividades divertidas e educativas. O lúdico, por exemplo, é essencial para estimular habilidades cognitivas, sociais e emocionais.

É preciso ter cuidado com o ócio das crianças. Deixar descansar é muito válido, porém o excesso de ociosidade pode desencadear o sedentarismo, a falta de propósito e o isolamento social, impactando inclusive, a rotina do sono”, alerta a terapeuta.

Ainda segundo Palila, além da supervisão, a interação familiar proporciona o estreitamento de vínculos, a elevação do senso de pertencimento e o aprimoramento da autoestima da criança. “As atividades compartilhadas entre pais e filhos criam um ambiente de apoio fundamental para o bem-estar emocional e psicológico das crianças. Isso contribui diretamente para a estruturação de uma infância equilibrada e saudável”, assegura.

A especialista compartilha opções de programação para o período e ressalta a importância de considerar e adaptar as atividades de acordo com a faixa etária e o interesse dos pequenos. “O equilíbrio entre tarefas educativas e momentos de lazer contribui para um período de férias escolares mais atraente e enriquecedor”, pontua.

Confira as sugestões da terapeuta ocupacional:

1. Atividades ao ar livre: organize passeios a parques, praias, trilhas ou piqueniques. O contato com a natureza estimula o exercício físico e proporciona um ambiente agradável.

2. Oficinas criativas: promova oficinas de arte, música, dança, culinária ou ciências. Permita que as crianças explorem sua criatividade e aprendam coisas novas de forma lúdica.

3. Acampamentos de férias: considere inscrever as crianças em acampamentos temáticos, como esportes, aventura, teatro ou ciências. Essa experiência pode ser educativa e proporcionar a oportunidade de fazer novos amigos.

4. Aulas de verão: ofereça aulas curtas durante o período de férias, como esportes, idiomas, artes marciais ou música. Isso mantém a mente ativa e permite que as crianças explorem novos interesses.

5. Dias temáticos: crie dias temáticos divertidos em casa, como dia de cinema, dia de jogos de tabuleiro, dia de culinária ou dia de arte. Isso mantém as crianças entretidas e envolvidas.

6. Leitura recreativa: incentive a leitura recreativa, proporcionando acesso a livros interessantes e desafiadores. Crie um espaço aconchegante para a finalidade, estabeleça metas para as férias e realize debates sobre os conteúdos lidos para estimular o raciocínio e o senso crítico.

7. Viagens em família: se possível, planeje uma viagem em família. Isso não apenas oferece uma pausa na rotina, mas também cria memórias duradouras.

8. Tempo em família: reserve um tempo especial para atividades em família, como jogos, noites de cinema em casa ou simplesmente passar tempo juntos. Isso fortalece os laços familiares e cria um ambiente acolhedor.

Com Assessorias

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