Ao lado das duas filhas e da atual esposa, Jorge Aragão apareceu neste domingo (13), Dia dos Pais, no Fantástico, emocionando a sua legião de fãs. O cantor e compositor, um dos mais importantes do gênero samba no país, foi diagnosticado há cerca de um mês com linfoma não Hodgkin (LNH), um câncer raro, e está em tratamento.

 

O cantor, de 73 anos, tirou seu inseparável boné para mostrar a cabeça raspada devido à quimioterapia e disse que não sabe como será quando perder a barba que o acompanha há décadas. Ele chorou na entrevista: ‘vou continuar batalhando para viver’.

E vai mesmo: os médicos recomendaram que ele continue cantando e compondo, como tem feito. No fim de semana, ele foi ovacionado ao subir ao palco, após um mês afastado para se tratar.

Jorge Aragão ficou internado entre os dias 8 e 23 de julho no Hospital Copa Dor, em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, onde fez os exames e iniciou o tratamento.

Altas chances de cura

A Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) esclarece que linfoma é um câncer do sangue, com origem nas células do sistema linfático, que é parte tanto do sistema circulatório, como do sistema imune. O tumor se espalha pelo organismo, podendo comprometer vários grupos de gânglios linfáticos e atingir o fígado, o baço e a medula óssea.

Assim como grande parte das doenças, quando descobertas precocemente, as chances de cura são altas, dependendo do tipo de câncer. Personalidades como Dilma Rousseff, Edson Celulari, Glória Perez e Reynaldo Gianecchini também foram diagnosticados com o LNH e tiveram sucesso em seus tratamentos.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), os linfomas não-Hodgkin (LNH) são o nono câncer mais comum na população, principalmente mais velha. São estimados cerca de 12.040 novos casos para cada ano do triênio de 2023 a 2025, sendo a maioria de linfoma não Hodgkin (6.420 em homens e 5.620 em mulheres) w 3.080 novos casos de linfoma de Hodgkin (1.500 em homens e 1.580 em mulheres.

Linfoma de Hodgkin ataca mais pessoas jovens

Franciele Guinami dos Santos (foto) tinha apenas 28 anos quando foi diagnosticada com um Linfoma de Hodgkin clássico. O tumor ocupa a 20ª posição entre os tipos de câncer mais frequentes, sendo mais identificado entre adolescentes, adultos jovens e idosos.

A suspeita de um problema cardíaco veio como uma sequela da Covid-19, e foi descartada após uma consulta com um médico especializado. A coceira no corpo e o aumento dos gânglios no pescoço indicavam a necessidade de uma biópsia, que comprovou o estágio 3 da doença. Desde então, já são dois anos de tratamento.

“O diagnóstico assusta, mas saber que a doença tem cura, é muito importante”, conta a paciente, que é uma das mais de três mil pessoas que são diagnosticadas com o Linfoma de Hodgkin todos os anos no Brasil.

Agosto Verde Claro conscientiza sobre os linfomas

Lorena Bedotti, hematologista do Grupo SOnHe, grupo de oncologistas e hematologistas de Campinas-SP, esclarece que os linfomas são um tipo de câncer que provocam o crescimento desenfreado das células (linfócitos) responsáveis pela defesa do nosso organismo de infecções. 

“Essas células se originam no sistema linfático, composto por linfonodos e tecidos que produzem, por meio da produção de anticorpos e vasos linfáticos, que conduzem essas células pelo corpo”, explica.

Agosto foi o mês escolhido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conscientização sobre a doença com a cor verde clara. Para Lorena Bedotti, ações como esta são fundamentais para levar conhecimento e confiança à população.

“O tratamento de linfoma está avançado e, quando o diagnóstico é feito nos estágios iniciais da doença, as chances de cura são muito grandes”, explica a médica. Por isso, a conscientização é tão importante.

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Sistema imunológico do paciente pode determinar a doença

Segundo a ABHH, há poucos fatores de risco, mas alguns conhecidos são sistema imune comprometido, exposição química e exposição a altas doses de radiação.

Jamille Cunha (foto), hematologista do Grupo SOnHe, explica que o surgimento dos linfomas está relacionado à vulnerabilidade do sistema imunológico do paciente.

“Algumas doenças hereditárias, autoimunes, ou até mesmo uso de drogas imunossupressoras e infecções virais, como o HIV, são potenciais fatores de risco para os linfomas”, diz a médica.

O que é linfoma não Hodgkin?

Existem mais de 40 subtipos de linfomas, que são inicialmente divididos em dois grupos: os Linfomas de Hodgkin e os Linfomas não-Hodgkin.

Especificamente, os linfomas não Hodgkin são divididos em três tipos: linfomas de células T, linfomas de células NK e linfomas de células B – que são os mais comuns e correspondem a 85% dos casos, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Ainda sobre o linfoma não Hodgkin existem, basicamente, duas classificações: o agressivo, que precisa de tratamento para curar o paciente; e o indolente que, em geral, não tem cura, mas é passível de controle.

Por que os linfomas podem ser confundidos?

Esse tipo de câncer se desenvolve principalmente nos linfonodos, também chamados de gânglios linfáticos. A hematologista Maria Amorelli (foto), que atende em Goiânia, explica que os sintomas iniciais dos dois tipos podem ser muito parecidos com o surgimento de gânglios.

“Eles costumam aparecer na região cervical, axilar e inguinal. E existem os sintomas B, que podem estar presentes nos dois tipos de linfomas que seriam febre, mais baixa que às vezes vem no final do dia, a chamada febre vespertina, coceira pelo corpo também pode ser um sintoma associado, além da perda de peso”.

A médica destaca que os linfomas podem ser confundidos inicialmente com doenças infecciosas pelo fato dos gânglios e da febre surgirem. Apenas através de uma biópsia é possível descobrir o subtipo de linfoma que o paciente possui.

“O linfoma não-hodgkin aumenta a incidência com a idade, quanto mais velho maior o risco. Já o linfoma de hodgkin tem um pico nos adultos jovens que começa com 15 anos e vai até em torno de 40 anos e depois ele volta a ter um pico de novo nos mais idosos, acima de 75 anos”, salienta.

Quais são os principais sintomas?

Os sintomas são bastante característicos e, de maneira geral, se manifestam com nódulos aumentados no pescoço ou virilha, possível ocorrência de febre, suores noturnos, emagrecimento, cansaço e coceira no corpo.

Conforme os locais acometidos, podem ainda apresentar tosse, falta de ar, dor no peito, aumento do volume abdominal e lesões cutâneas. O diagnóstico requer a realização de biópsia, com a retirada do tecido para análise microscópica das características.

Os sintomas dos linfomas não Hodgkin variam de pessoa para pessoa, mas em geral incluem:

Inchaço dos gânglios linfáticos da virilha, axilas e pescoço

Sudorese noturna

Febre

Erupção cutânea avermelhada

Náusea, vômitos ou dor abdominal

Tosse ou dificuldade para respirar

Como são tratados os linfomas?

A ABHH reforça que a maioria dos tratamentos é feito com quimioterapia, associação de imunoterapia e quimioterapia ou radioterapia. Porém, as situações clínicas são variadas e, por isso, o médico deve analisar de forma individual quanto ao prognóstico e melhor forma de tratar.

Linfoma de Hodgkin – como tratar

Com relação ao tratamento, o LH na maioria dos casos, é uma doença curável apresentando uma taxa de cura de mais de 85%. O tratamento clássico é a poliquimioterapia (múltiplas drogas) com ou sem radioterapia associada.

“É um linfoma que a grande maioria dos casos hoje em dia atinge uma cura, mas existem casos em que a gente tem uma doença mais agressiva ou a gente pega em estágio mais avançado em que a gente não consegue uma cura”, diz a hematologista Maria Amorelli.

Franciele adotou dois protocolos diferentes, mas só teve sucesso no terceiro, com o transplante de medula autólogo. “O momento mais difícil desde o diagnóstico da doença, foi perceber que o meu organismo não respondeu ao primeiro protocolo. Bate a insegurança, por isso, a fé sempre precisa ser maior”, pontua a paciente.

Linfoma de não Hodgkin – como tratar

Já o tratamento dos LNH – como o que acometeu Jorge Aragão – pode ser feito com quimioterapia, imunoterapia, radioterapia, terapias-alvo (substâncias que bloqueiam proteínas ou moléculas envolvidas no crescimento das células cancerígenas) e o transplante de células hematopoiéticas. 

O linfoma não-hodgkin de alto grau costuma ser mais agressivo, em que o crescimento da massa é muito rápido, nesses casos o tratamento é uma quimioterapia mais intensa, mas ao mesmo tempo a gente tem mais chance de cura”, pontua Maria Amorelli.

Em contrapartida, existe o linfoma de baixo grau, que são doenças mais lentas, algumas vezes demoram anos para que o paciente possa fechar um diagnóstico. “Nesses casos a gente tem o controle da doença com quimioterapia também, mais leves normalmente, mas a gente não consegue atingir uma cura”, salienta.

Sem prevenção

Infelizmente, não há como prevenir os linfomas, pois são doenças que surgem de maneira inesperada. “O que a gente tem que fazer é uma conscientização em torno do linfoma para ter um diagnóstico mais precoce e aumentar as chances de cura”, ressalta a hematologista Maria Amorelli.

As medidas preventivas são as mesmas para o câncer em geral: vida saudável, exercício físico, boa alimentação e evitar exposições a radiação. Além disso, o paciente que já teve algum câncer, já foi exposto a radiação e a quimioterapia ele tem muito mais chances de ter um segundo tumor, incluindo os linfomas”, detalha a especialista.

Com Assessorias

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