O Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho (28 de abril) foi instituído em memória às vítimas de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. No Brasil, em 2023, 2.888 pessoas morreram em decorrência de acidentes de trabalho, segundo números do sistema eSocial do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Ao todo, o País registrou 499.955 acidentes de trabalho. Nesse contexto, as mãos, principais ferramentas na execução de tarefas do dia a dia, costumam ser as mais impactadas.
As fraturas de mão e punho, por exemplo, foram a sétima maior causa de afastamento do trabalho em 2024, cerca de 21.245 registros de afastamento, cerca de 12,2% do total de acidentes de acordo com dados do Ministério da Previdência Social do ano anterior. Foram 101.177 ocorrências, um aumento de 24,7% em relação a 2023, quando o número contabilizado foi de 81.123. Alguns setores estão mais vulneráveis a acidentes envolvendo as mãos. Um deles é o segmento da construção civil, em razão do manuseio constante de ferramentas, equipamentos cortantes e materiais pesados.
Nessa área, a presença de trabalhadores informais é um grande desafio quando se fala em segurança e prevenção de acidentes. Sem registro formal, muitos desses profissionais não recebem treinamentos adequados, não têm acesso a Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) de qualidade e, muitas vezes, trabalham em condições precárias”, pontua o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM), Rui Barros.
Indústrias metalúrgicas, automobilísticas e frigoríficos também registram alto índice de acidentes envolvendo as mãos. “A falta de treinamento, a pressa na execução das tarefas e a exposição a máquinas sem proteção adequada são fatores que aumentam significativamente o risco de lesões”, diz o especialista.
Outro grupo que merece atenção são os profissionais da saúde, que enfrentam riscos diários de lesões nas mãos devido à manipulação de instrumentos cirúrgicos, agulhas e contato frequente com materiais cortantes. As lesões nas mãos causadas por acidentes de trabalho, que podem incluir, ainda, amputações esmagamentos e queimaduras químicas ou térmicas, podem levar a sequelas permanentes, comprometendo a funcionalidade da mão e impactando diretamente a qualidade de vida dos trabalhadores.
O impacto desses acidentes vai além do indivíduo afetado, refletindo também na saúde pública e na economia do país. O afastamento prolongado de trabalhadores gera um aumento nos custos previdenciários e sobrecarga no sistema de saúde, com a necessidade de cirurgias, reabilitação e acompanhamento prolongado para tratamento. Além disso, empresas enfrentam redução da produtividade, custos com substituição de mão de obra e indenizações trabalhistas”, lista o presidente da SBCM.
O cirurgião ressalta a necessidade de ampliar o debate sobre segurança e prevenção, garantindo melhores condições de trabalho e maior fiscalização, principalmente em setores de alto risco. “A conscientização sobre o uso correto de EPIs, aliada a treinamentos contínuos, pode prevenir milhares de acidentes e preservar a saúde e a produtividade da mão de obra”, conclui.
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A coluna vertebral: quais profissões exigem mais dela?
Além das mãos, a coluna vertebral é outra p reocupação. No Brasil, os problemas na coluna vertebral são os principais motivos de afastamento do trabalho, com mais de 3,5 milhões de pessoas afastadas devido a doenças como a hérnia de disco e as dores em geral de diversas causas, segundo o Ministério da Previdência Social.
No Abril Verde, dedicado à conscientização sobre segurança no ambiente de trabalho, o neurocirurgião Alexandre Elias, faz um alerta importante: as doenças da coluna, muitas vezes silenciosas, são uma das principais causas de afastamento do trabalho e, muitas vezes, são ignoradas no contexto da segurança ocupacional.
Diversas profissões exigem mais da coluna e, por isso, apresentam maiores riscos de lesões, desgastes e por essa razão é preciso ir além dos EPIs tradicionais, como capacetes e luvas, e pensar em ações preventivas para proteger a coluna”, afirma o médico, que é mestre pela Unifesp.
A coluna vertebral, responsável por sustentar o corpo, garantir o equilíbrio e permitir os movimentos, exige cuidados constantes para evitar disfunções estruturais. Profissões como motoristas, pedreiros, enfermeiros, garçons e trabalhadores industriais e braçais de forma geral estão entre as que mais oferecem riscos de danos à coluna, seja por exigir longas horas sentados, em pé, carregando peso ou realizando movimentos repetitivos.
Entre os problemas mais comuns que surgem como consequência dessas atividades está a aceleração de processos degenerativos que causam as doenças como a hérnia de disco – cervical e lombar, o bico de papagaio, a dor sacroilíaca, pioras de quadros de desvios da coluna para quem já tem o problema (escoliose, lordose, cifose), entre outras.
Além da dor, sintomas como formigamento, queimação ou dormência que irradiam para pernas e braços são indicativos de complicações, como pinçamento de nervos que sensibilizam toda a estrutura ao redor da coluna e sua extensão”, explica o médico, que indica a necessidade de consulta a um especialista.
Como cuidar melhor da coluna durante o trabalho?
Para evitar complicações, algumas dicas simples podem ser eficazes:
- Ajustar a postura: seja em qualquer atividade, mas é preciso ter atenção com o alinhamento postural, mantendo a coluna e membros alinhados e sem esforços em posições que não são naturais ao corpo.
- Fazer pausas: movimentar-se a cada hora, com pequenos alongamentos e rotações de pescoço, ombros, braços e pernas ajuda a reduzir a tensão muscular, ativar a circulação e as articulações.
- Evitar carregar peso em excesso: para as profissões em que não há como fugir do peso, é importante ter apoio de ferramentas, instrumentos que ajudem a dividir a carga. Além disso, é preciso ter atenção aos movimento do corpo em determinadas atividades, como por exemplo, dobrar os joelhos ao abaixar para pegar uma carga e mantê-la próxima ao corpo, evitando curvar a coluna.
“O Abril Verde não se trata apenas de prevenir acidentes imediatos, mas de promover a saúde no ambiente de trabalho no longo prazo. O cuidado com a coluna deve ser contínuo, tanto antes, quanto durante e após o expediente”, conclui Dr. Alexandre.
Com Assessorias