Segundo dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, elaborado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), 54 mil e 375 acidentes fatais relacionados ao trabalho foram registrados no Brasil entre 2002 e 2022.

No mesmo período, ocorreram mais de 12,5 milhões de acidentes e doenças do trabalho, o que significa, em média, 69 casos por hora.  De acordo com dados, somente de 2012 a 2024 houve 8.824.286 notificações de acidentes no ambiente de trabalho no Brasil. 

Além do cuidado com a integridade física, a saúde mental é outra preocupação relevante. Segundo o Ministério da Previdência Social o Brasil atingiu em 2024 o maior número de afastamentos por ansiedade e depressão em 10 anos. Ao todo, foram mais de 472 mil dispensas por transtornos mentais.

Em meio a este cenário, ao longo dos anos, a campanha Abril Verde ganha relevância como um movimento nacional de conscientização sobre a segurança no trabalho e a prevenção de acidentes laborais, voltado a promover o engajamento de empresas, profissionais e da sociedade na construção de ambientes laborais mais seguros, saudáveis e sustentáveis.

Como transformar desafios em soluções práticas e duradouras

Neste mês, o Brasil se mobiliza em torno do Abril Verde, um movimento nacional dedicado à valorização da saúde e segurança no trabalho. A data convida empresas e profissionais a refletir sobre práticas que podem, e devem, salvar vidas, com foco em ambientes laborais mais humanos, saudáveis e seguros. 

Para Marco Aurélio Bussacarini, especialista em Medicina Ocupacional pela USP e CEO da Aventus Ocupacional, o Abril Verde propõe um momento de reflexão e ação. Mais do que destacar números e riscos, a campanha busca incentivar a revisão de rotinas, a modernização de processos e o fortalecimento de políticas internas voltadas à prevenção.

Abril Verde é um convite à ação. Não se trata apenas de apontar falhas, mas de inspirar melhorias, valorizar iniciativas bem-sucedidas e estimular o compromisso coletivo com a segurança e a saúde no cotidiano profissional. A força do movimento está justamente na capacidade de transformar desafios em soluções práticas e duradouras”, afirma.

Marco Aurélio Bussacarini, especialista em Medicina Ocupacional (Foto: Divulgação)

‘Tecnologia é ferramenta’

Ainda de acordo com o especialista, ações simples podem gerar grandes impactos: ajustes ergonômicos, uso de equipamentos adequados, apoio emocional, campanhas educativas e incentivo à participação dos trabalhadores na gestão de riscos são práticas que fazem diferença no dia a dia.

Quando o ambiente de trabalho é pensado com empatia, responsabilidade e participação, os resultados aparecem. A segurança passa a ser um valor, não apenas uma obrigação”, completa.

Além da conscientização, Bussacarini destaca a importância da atualização constante das normas regulamentadoras (NRs) e a adoção de tecnologias como aliadas no monitoramento e na gestão da saúde ocupacional. Nesse sentido, a NR1 teve o texto atualizado pela portaria MTE 1.419, de 27 de agosto de 2024 e, a partir de 26 de maio de 2025, as companhias terão que se atentar ainda mais às questões psicológicas dos trabalhadores.

A tecnologia pode ser uma grande aliada, por meio de softwares de controle, sensores em equipamentos, aplicativos de registro e análise de dados. Tudo isso contribui para a tomada de decisões mais rápidas e eficazes. Mas é importante lembrar: tecnologia é ferramenta. A base continua sendo a cultura, o comprometimento e o cuidado com o outro”, pontua.

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6 dicas para fortalecer a cultura de prevenção nas empresas

Segundo informações do estudo “Well-Being at Work”, realizado pela consultoria Deloitte, 55% dos trabalhadores afirmam que um espaço que prioriza o bem-estar pode melhorar o seu desempenho, reforçando assim a importância de medidas preventivas e do cuidado com a saúde ocupacional do time.

Segundo Bussacarini, a prevenção deve ser entendida como um esforço contínuo, coletivo e adaptado às transformações do mundo do trabalho. Para ele, o investimento em capacitação permanente, a escuta ativa dos colaboradores e a modernização dos protocolos internos são medidas-chave para reduzir os riscos e garantir ambientes mais seguros.

Não se trata apenas de cumprir normas, mas de criar uma cultura em que o cuidado esteja presente em cada etapa da jornada profissional. Ergonomia, saúde mental, tecnologia e diálogo são aliados fundamentais nesse processo”, esclarece.

O especialista lista seis dicas para fortalecer a cultura de prevenção nas empresas

  1. Promova treinamentos contínuos – Capacitação é um dos pilares da prevenção. Investir em treinamentos regulares, com linguagem acessível e conteúdo prático, é fundamental para que todos compreendam os riscos e saibam como agir de forma segura.
  2. Valorize a escuta ativa dos trabalhadores – Os profissionais que estão na linha de frente conhecem bem os desafios do dia a dia. Criar canais de escuta e envolver os colaboradores na identificação de melhorias aumenta o engajamento e a efetividade das ações preventivas.
  3. Atualize protocolos e normas internas com regularidade – A legislação evolui, e os ambientes de trabalho também. Rever periodicamente os procedimentos internos garante que estejam alinhados com as melhores práticas e com as normas regulamentadoras em vigor.
  4. Cuide da ergonomia e do conforto no ambiente de trabalho – A ergonomia adequada reduz afastamentos, melhora o desempenho e evita lesões musculoesqueléticas. Simples ajustes em cadeiras, mesas ou a organização do espaço já fazem grande diferença.
  5. Incorpore a saúde mental à pauta da segurança – Falar sobre segurança é também falar sobre equilíbrio emocional, sobre clima organizacional saudável. Programas de apoio psicológico, escuta qualificada e ações de bem-estar são indispensáveis no cenário atual.
  6. Use a tecnologia como aliada – Ferramentas digitais, sensores e aplicativos podem ajudar a monitorar condições de trabalho, registrar ocorrências e antecipar riscos. Mas o mais importante é garantir que esses recursos estejam a serviço das pessoas.

Acidentes de trabalho em queda no Brasil

A campanha Abril Verde nasceu da dor de uma tragédia — a explosão em uma mina nos Estados Unidos, em 28 de abril de 1969, que tirou a vida de 78 trabalhadores. Desde então, a data foi adotada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como o Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho. No Brasil, esse momento se tornou ainda mais simbólico com a instituição do Dia Nacional em Memória das Vítimas de Acidentes de Trabalho, pela Lei nº 11.121/2005.

Dados divulgados, em 2023, pelo Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), de acordo com o Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho 2021, apontam que em uma década, o Brasil registrou uma queda significativa de 25,6% nos acidentes de trabalho, passando de 720.629 casos em 2011 para 536.174 em 2021, uma redução de 184.455 ocorrências.

Ainda assim, os números seguem altos e preocupam, especialmente em setores como o de Atividades de Atendimento Hospitalar, que liderou os afastamentos em 2021 com 62.852 casos, o equivalente a 11,7% do total. Segundo dados da Previdência Social, mais de 530 mil acidentes foram registrados no país naquele ano, sendo 65,8% envolvendo homens (352.099) e 34,2% mulheres (182.754).

Com Assessorias

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