Levantamento do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, com base em dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), aponta que de 2022 a 2024, a cada três horas e meia, é registrada uma morte no mercado formal de trabalho. De 2012 a 2024 foram registrados 8,8 milhões de acidentes de trabalho e 32 mil mortes.
Mas muito além das lesões por esforço repetitivo ou de acidentes envolvendo as mãos, nossa principal ferramenta de trabalho, os especialistas estão bastante preocupados é com a saúde mental dos trabalhadores brasileiros. Dados do Ministério da Previdência Social revelam que, em 2024, mais de 472 mil pessoas precisaram se afastar do trabalho devido a transtornos como ansiedade e depressão, o maior número registrado nos últimos dez anos.
Na semana do Dia do Trabalho (1 de maio), esse aumento nos afastamentos do trabalho no Brasil acende um alerta sobre as condições de trabalho, a sobrecarga emocional e a falta de suporte psicológico adequado. Para especialistas ouvidos no especial Saúde no Trabalho, do Portal Vida e Ação, o bem-estar psicológico é essencial para prevenir acidentes e doenças ocupacionais, contribuindo para um ambiente laboral mais seguro e produtivo.
Os principais fatores que afetam o bem-estar dos trabalhadores
O Brasil enfrenta uma crise de saúde mental que impacta diretamente trabalhadores e empresas. Essa crise não surge isoladamente, mas é resultado de um conjunto de fatores que impactam diretamente o bem-estar dos profissionais.
Sobrecarga de trabalho, pressão por metas inatingíveis, falta de reconhecimento, conflitos interpessoais, assédio moral e sexual, e a ausência de autonomia para execução de tarefas contribuem significativamente para esse cenário.
Esses desafios, aliados a ambientes tóxicos e a exigências desequilibradas entre vida pessoal e profissional, intensificam os níveis de estresse e ansiedade, levando ao recorde de afastamentos. Para o psicólogo Valney José, esse cenário evidencia um problema estrutural que precisa ser enfrentado com urgência.
A sobrecarga no ambiente profissional, a insegurança no emprego e a dificuldade de equilibrar vida pessoal e carreira são alguns dos principais gatilhos para o adoecimento mental. Precisamos de políticas eficazes que incentivem a promoção da saúde mental dentro das empresas e na sociedade como um todo”, afirma Valney.
Norma trabalhista obriga empresas a gerir os riscos à saúde mental
Diante desse cenário alarmante, o Ministério do Trabalho anunciou a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR–1), que estabelece diretrizes para a promoção da saúde no ambiente de trabalho. A nova versão da norma – que começa a valer a partir de 26 de maio – reforça a importância da adoção de políticas preventivas e do desenvolvimento de ações que garantam melhores condições psicológicas para os trabalhadores.
O cuidado com a saúde mental no ambiente de trabalho deve ser uma prioridade para empresas e gestores. Ambientes tóxicos, cobranças excessivas e falta de reconhecimento impactam diretamente o bem-estar emocional dos colaboradores, levando a quadros de esgotamento, baixa produtividade e aumento do absenteísmo. O especialista reforça que a prevenção deve ser prioridade e que o debate sobre saúde mental precisa ganhar espaço dentro das organizações.
A criação de espaços de acolhimento, flexibilidade na jornada e incentivo ao acompanhamento psicológico são medidas fundamentais para a construção de uma cultura organizacional mais saudável e sustentável“, diz o especialista em saúde mental.
Abril Verde conscientiza sobre saúde e segurança no trabalho
Nesta segunda-feira (28 de abril) é o Dia Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho e também no Brasil o Dia Nacional em Memória das Vítimas de Acidentes de Trabalho e Doenças Ocupacionais – que são aquelas decorrentes do exercício da profissão. No contexto do Abril Verde, em alusão às duas efemérides celebradas no mesmo dia, é fundamental destacar a relevância da saúde mental dos trabalhadores.
Durante este mês, empresas e organizações são incentivadas a implementar ações que promovam o bem-estar dos trabalhadores, como programas de suporte emocional, palestras educativas e a criação de espaços de diálogo abertos sobre o tema.
Medidas como avaliações de risco psicossocial, programas de suporte emocional e a criação de canais seguros para denúncias de assédio são essenciais para transformar as relações de trabalho e reduzir os índices de afastamento por transtornos mentais. A alta nos afastamentos reforça a necessidade de ampliar o acesso ao atendimento psicológico, reduzir estigmas e criar redes de apoio que favoreçam o cuidado integral da saúde mental no país.
Investir no bem-estar dos colaboradores não é um custo, mas um benefício. Empresas que adotam práticas de apoio emocional e ambientes mais saudáveis colhem resultados positivos, tanto em produtividade quanto na retenção de talentos”, destaca o professor, palestrante, músico e criador do projeto “Diálogos Musicados Sobre Saúde Mental” que já percorreu mais de 100 cidades pela Bahia.
Palavra de Especialista
Abril Verde: pela construção de ambientes de trabalho mais seguros, humanos e dignos
O Abril Verde não é apenas um mês de conscientização, é um marco simbólico que nos lembra de que vidas estão em risco todos os dias e que temos o dever de agir. É um chamado para uma causa urgente e inadiável: a saúde e a segurança dos trabalhadores.
Como empresa que atua diretamente com vítimas de acidentes laborais, sabemos o quanto é doloroso e desafiador acompanhar a vida de trabalhadores que tiveram sua trajetória profissional e pessoal interrompida por falhas que poderiam (e deveriam) ter sido evitadas. A prevenção de acidentes não é apenas uma exigência legal, mas um ato de respeito à vida.
Somente em 2022, o Brasil registrou mais de 612 mil acidentes de trabalho, com 2.538 mortes, segundo dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho. Esses números são mais do que simples estatísticas — são vidas interrompidas, famílias desestruturadas, histórias que não deveriam ter sido interrompidas tão cedo.
A cultura de segurança precisa estar no DNA das organizações. Isso começa com a educação contínua, passa pelo uso correto e obrigatório de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e se consolida com a participação ativa de líderes e gestores na rotina de segurança.
Infelizmente, ainda vemos empresas tratando a segurança como um item burocrático, algo a ser “resolvido no papel”. Esse comportamento coloca em risco não só os colaboradores, mas também a própria sustentabilidade do negócio. Acidentes geram afastamentos, ações judiciais, indenizações, além de manchar a reputação corporativa.
Além disso, é necessário lembrar que os riscos não são apenas físicos. O adoecimento mental causado pelo estresse, ansiedade, assédio moral e pressão excessiva também deve ser central nas políticas de saúde do trabalho. A saúde mental é um direito, e o ambiente corporativo precisa ser mais humano e acolhedor.
Outro ponto importante, porém pouco divulgado, é o direito do trabalhador de recusar tarefas que ofereçam risco iminente à sua vida ou integridade, conforme previsto na NR–1 do Ministério do Trabalho. Cabe às empresas não apenas respeitar esse direito, mas garantir que ele seja conhecido e respeitado no ambiente de trabalho.
Quando um acidente acontece, o acompanhamento e apoio ao trabalhador são indispensáveis. Isso inclui o devido preenchimento da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), o acesso ao auxílio-doença acidentário (B91) e a garantia da estabilidade no emprego por 12 meses após a alta médica. O colaborador precisa se sentir amparado nesse momento tão difícil.
Por fim, a construção de uma cultura de prevenção começa com uma liderança comprometida, capacitação constante, mapeamento e mitigação de riscos reais, além do engajamento de todos, da base ao topo da hierarquia.
Transformar o ambiente de trabalho em um espaço seguro, saudável e digno é uma responsabilidade de todos nós, é um compromisso coletivo. Vamos fazer do Abril Verde um ponto de partida para que, ao longo de todo o ano, cada trabalhador volte para casa com saúde e com segurança.
*Caroline Alves é head de Planejamento da DS Beline