Nesta quarta-feira (5/4), quatro crianças foram mortas e quatro ficaram feridas em um ataque a uma creche em Blumenau, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina. De acordo com a polícia, um homem de 25 anos pulou o muro da creche e começou a atacar as crianças com uma machadinha. O crime abalou todo o país e vem dominando os noticiários. Ataques como esses estão se tornando cada vez mais recorrentes nas escolas brasileiras.

No último dia 27 de março, na Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo, um aluno de 13 anos invadiu a instituição e assassinou uma professora dentro da sala de aula com uma faca. Outras 4 pessoas ficaram feridas, sendo 3 educadoras e um aluno. No dia 28, no Rio de Janeiro, a juíza da Vara da Infância e da Juventude do RJ, Vanessa Cavalieri, determinou a internação provisória de um adolescente suspeito de planejar um ataque a uma escola no estado.

Os casos recentes evidenciam um dado alarmante e trágico: em 2022 e 2023, o número de violências em escolas no Brasil já supera o total registrado nos 20 anos anteriores. O levantamento foi feito pela pesquisadora Michele Prado, do Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP, que registrou 22 ataques a escolas entre outubro de 2002 e março de 2023. Os agressores são, em geral, jovens (10 a 25 anos), do sexo masculino.

Maioria dos agressores é ou foi vítima de bullying na escola

De acordo com a pesquisa divulgada, a maioria é ou foi vítima de bullying na escola, possui características de isolamento social e indícios de transtornos mentais não diagnosticados ou acompanhados. Já o relatório O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às escolas e alternativas para a ação governamental, foram 34 ataques a escolas evitados no Brasil entre 2012 e 2022, sendo 22 deles somente no ano passado.

Outro estudo do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp mostra que, nos últimos 21 anos, pelo menos 23 escolas do Brasil registraram ataques de alunos e ex-alunos. Foram 12 episódios em escolas estaduais, seis em unidades municipais, um em escola cívico-militar municipal, e quatro em estabelecimentos particulares. As mortes chegam a 36, sendo 24 estudantes, cinco professoras, outros dois profissionais de educação e cinco alunos e ex-alunos responsáveis pelos ataques.

Segundo informações do Instituto, a maior fatia de alunos que admitiram ter sofrido com a prática concentram-se no ensino privado. Na escola pública, a parcela dos que reconheceram ter passado por “bullying” cresceu de 28,9% para 39,9%. Já entre alunos da rede privada subiu de 35,5% para 41,5%, no mesmo período.

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Acompanhamento psicológico é fundamental

O aumento desses ataques nos faz perguntar o que as autoridades devem começar a fazer para que eles sejam prevenidos. Para Lucas Takamatsu Martins Cardozo Galli, advogado criminalista do escritório Martins Cardozo, o apoio psicológico aos sobreviventes e toda a comunidade é um ponto importante que deve ser exigido. Além disso, é possível que esses ataques sejam incentivados ao ver outros acontecendo.

“Em casos como esses, é importante entendermos o que pode levar um jovem a planejar e cometer um crime premeditado”, aponta o especialista. No caso de São Paulo, torna-se ainda mais essencial o acompanhamento psicológico para todas as vítimas sobreviventes do ataque e toda a comunidade que sofre com o luto.

Para a psicóloga Vanessa Gebrim, especialista em Psicologia Clínica pela PUC de SP, vários fatores podem induzir jovens a cometerem crimes, como por exemplo, fatores sociais e hereditários. Mas o que se pouco se fala é sobre se os videogames, computadores, filmes, séries, smartphones e livros possuem algum poder de indução sobre a criação de uma mente criminosa nos jovens.

“A maioria dos jovens com idade entre 10 a 30 anos faz uso desses passatempos. Jovens com mentes criminosas, que possuem comportamentos violentos, podem ter fortes ligações com videogames ou filmes que expressam violência, além, é claro, das más companhias, condições sociais, traumas psicológicos e problemas psiquiátricos”, comenta a psicóloga.

Segundo ela, não se pode generalizar, pois nem todos os jovens que jogam, leiam e assistem violência estão condicionados a cometerem algum crime que envolva violência, mas é preciso ficar atento a que tipo de conteúdo os jovens estão consumindo e ao seu comportamento.

“Em relação ao apoio psicológico é importantíssimo, pois esses jovens precisam falar do que estão sentindo para que elaborem e assimilem todos os acontecimentos traumáticos que vivenciaram. Se não for tratado, a pessoa pode desenvolver a síndrome do estresse pós-traumático, onde a pessoa acaba revivendo as emoções do acontecimento sem ter controle sobre isso”, complementa.

Vanessa afirma que tudo isso gera sentimentos intensos de ansiedade. “Pode começar com uma crise de ansiedade muito grande, como se estivessem revivendo tudo. Pode dar muito medo, fobia, até síndrome do pânico com suor frio, sensação de náusea, vômito, coração que acelera, falta de apetite, distúrbio de sono e irritabilidade”. Segundo a especialista, aqueles que não conseguirem elaborar o que ocorreu podem mudar o comportamento e desenvolver a síndrome e por isso, é preciso ficar atento a esses sinais.

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