As baixas temperaturas do inverno não impactam apenas o sistema respiratório — o coração também sente os efeitos do frio. De acordo com o Instituto Nacional de Cardiologia, durante essa estação, os casos de infarto agudo do miocárdio aumentam em até 30% e os de acidente vascular cerebral (AVC), em até 20%, especialmente em temperatura abaixo de 14°C.  Pessoas entre 75 e 84 anos e aquelas com doenças do coração estão entre os públicos mais vulneráveis.

Isso acontece porque quando há uma queda brusca de temperatura, o corpo aciona mecanismos para manter o equilíbrio de temperatura interna. Parte desse processo conta com a vasoconstrição, responsável pela contração dos vasos sanguíneos, que aumentam a pressão sanguínea e evitam a perda excessiva de calor.

Esse aumento está relacionado à vasoconstrição, um mecanismo natural do corpo para conservar calor, que provoca a contração dos vasos sanguíneos. “Isso eleva a pressão arterial e exige mais esforço do coração para bombear o sangue”, explica a cardiologista Beatriz Zamuner, médica do Hospital Evangélico de Sorocaba (HES).

Segundo ela, esse cenário favorece a descompensação de condições como insuficiência cardíaca e arritmias, além de colaborar para o surgimento de tromboembolismo, miocardites e pericardites, ou seja, esse mecanismo natural do corpo acaba tornando o coração mais vulnerável. “O resultado é o aumento do risco de infarto, AVC e descompensação da hipertensão”, alerta a especialista.

O problema é que, durante o inverno, a vasoconstrição também estreita as artérias nos vasos do coração, afetando o sistema circulatório. O que pode resultar em dor no peito, infarto e até mesmo morte súbita”, explica Gisele Abud, médica e diretora Técnica da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24h Zona Leste, em Santos (SP).

Além de sobrecarregar o coração, esse aumento de pressão sanguínea nos vasos que já estão estreitos também facilita o desprendimento de placas de gordura localizadas no interior das artérias, que podem bloquear o fluxo do sangue para o coração e cérebro, causando o AVC.

Leia mais

Inverno saudável: como evitar AVC, infarto e doenças respiratórias
Inverno e poluição aumentam o risco de infarto e AVC em 15%
Inverno faz mal ao coração: risco de infarto aumenta em 30%
Inverno aumenta em até 30% mortes por infarto ou AVC
Por que o risco de infarto aumenta em dias frios?

Termoregulação: corpo precisa regular o calor

No inverno a ocorrência de doenças já é conhecida, principalmente quando se fala de doenças respiratórias. Mas para além delas, as doenças cardiovasculares também são motivo para preocupação de médicos.  Segundo o cardiologista do Hospital Edmundo Vasconcelos, Lucas Velloso Dutra, isso acontece porque o organismo busca a necessidade de regular a sua temperatura corporal, a chamada termoregulação.

Ao encarar uma baixa temperatura, o corpo realiza a vasoconstrição, ou seja, a constrição dos vasos sanguíneos, em que basicamente ocorre a diminuição do calibre e os vasos se tornam menores. Isso faz com que a pressão arterial aumente para evitar a perda de calor do corpo, o que faz com que o risco de infartos aumente”, explica o especialista.

Segundo ele, uma dica importante é evitar as mudanças bruscas de uma temperatura quente para uma temperatura fria e estar bem agasalhado caso isso ocorra. Além dos hipertensos, quem possui diabetes também deve redobrar os cuidados.

Fatores agravantes

Além das mudanças fisiológicas, o comportamento das pessoas durante o inverno também contribui para o agravamento dos quadros. “As pessoas tendem a se movimentar menos, o que pode levar a ganho de peso e piora do controle do colesterol e da pressão. Também é comum o aumento do consumo de alimentos mais calóricos e gordurosos e do álcool”, aponta Beatriz.

Outro fator de preocupação são as infecções respiratórias, como gripes, pneumonias e Covid-19, mais comuns nessa época. “Essas infecções provocam uma resposta inflamatória intensa no corpo, o que pode descompensar o coração, especialmente em quem já tem doenças cardíacas. Elas também podem desestabilizar placas de gordura nas artérias, favorecendo o rompimento e levando a infarto ou AVC”, afirma a especialista.

Mesmo quem nunca recebeu um diagnóstico de doença cardíaca deve ficar atento. “O inverno pode ser um gatilho para o primeiro evento cardiovascular, especialmente se a pessoa tiver fatores de risco ocultos ou negligenciados”, alerta a médica. Entre os fatores de risco mais comuns estão pressão alta não diagnosticada, colesterol elevado, sobrepeso, diabetes tipo 2, histórico familiar, tabagismo e sedentarismo.

Como identificar os sinais de infarto e AVC

A médica explica que os sinais de alerta de problemas cardíacos geralmente surgem de forma súbita, são intensos, pioram com esforço e não melhoram com o repouso. Eles também vêm acompanhados de outros sinais, como dor no peito, suor frio e palpitações, assim como podem ocorrer mesmo sem febre ou sinais típicos de infecção respiratória. “Se o sintoma for novo, incomum para você, ou vier acompanhado de mal-estar, não arrisque: procure atendimento médico”, recomenda.

Alguns sintomas não devem ser ignorados, especialmente no inverno. Os principais sinais apresentados em casos de doenças cardiovasculares são: dor ou desconforto no peito, braços, ombro esquerdo, cotovelos, mandíbula ou costas. Além disso, mulheres são mais propensas a apresentar falta de ar, náuseas, vômitos e dores nas costas ou mandíbula.

Segundo a cardiologista, é importante buscar atendimento médico ao sentir:

Dor no peito, mesmo em repouso;

– Falta de ar fora do comum, tosse persistente ou chiado;

– Tontura, palpitação ou desmaio;

– Inchaço nas pernas ou cansaço excessivo.

Já no caso do AVC, os sinais mais comuns são dormência na face, braços ou pernas, confusão, dificuldade para falar e entender, perda de equilíbrio ou coordenação, dor de cabeça intensa sem causa aparente. É crucial estar atento aos sinais de problemas cardíacos e saber como agir em caso de emergência.

Em caso de suspeita ou presença de sintomas de doenças cardiovasculares, é necessário buscar atendimento médico rápido. As Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s) ficam disponíveis 24h, durante os sete dias da semana, e são preparadas para atender casos de urgência e emergência, como infarto e AVC, alerta a médica.

Como proteger o coração no inverno?

Apesar de ser conhecida por ser a estação com maior número de casos de doenças respiratórias, o inverno também propicia o aumento de doenças cardiovasculares. Por isso, manter-se saudável durante o inverno envolve mais do que simplesmente vestir um casaco. O médico do Hospital Edmundo Vasconcelos ainda comenta alguns cuidados essenciais e formas de se prevenir de casos de infarto e de AVC.

É importante manter o uso adequado das medicações, manter uma boa hidratação, ter cuidados com a alimentação e evitar o excesso de sal, além de evitar as baixas temperaturas. Mas vale lembrar que é importante manter os cuidados ao longo de todo o ano, com a adoção de uma boa alimentação, prática de exercícios físicos e evitar o tabagismo”, detalha ele.

Confira as dicas de especialistas ouvidos pelo Vida e Ação

  • Hábitos como não fumar, tratar a pressão alta e o colesterol, praticar atividades físicas regularmente e manter uma alimentação saudável são essenciais para proteger o coração.
  • Cuidados simples podem fazer uma grande diferença na saúde cardiovascular durante o inverno.
  • Manter-se aquecido, especialmente nas extremidades do corpo, é fundamental para evitar a vasoconstrição acentuada pelo frio.
  • Também é importante manter a vacinação em dia, com destaque para as vacinas contra gripe, Cocis-19 e pneumonia, especialmente para quem já tem alguma doença cardíaca, pois esse grupo é considerado prioritário.
  • Controlar rigorosamente a pressão arterial, praticar atividades físicas regularmente e manter uma alimentação equilibrada, com menos sal, gordura e açúcar, são atitudes essenciais para o bom funcionamento do coração.
  • Além disso, evitar o consumo excessivo de álcool e o tabagismo, assim como garantir uma boa qualidade de sono e saber gerenciar o estresse, contribuem diretamente para reduzir os riscos de eventos cardiovasculares.
  • É sempre importante manter consultas constantes ao cardiologista, com a realização de exames de rotina e acompanhamento médico, especialmente para os grupos considerados de risco.

Medidas recomendadas pela OMS

Adotar medidas preventivas são passos importantes para proteger o coração durante o inverno. A Organização Mundial da Saúde (OMS), recomenda as seguintes ações individuais para prevenção:

• controlar o peso, evitando a obesidade;

• manter a pressão arterial e a glicemia dentro dos limites recomendados;

• ter uma alimentação balanceada, evitando o consumo excessivo de ultraprocessados, como bolachas recheadas e refrigerantes;

• não fumar;

• evitar o consumo de álcool;

• praticar atividade física regularmente.

Com Assessorias

Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *