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Em dois anos e meio, Jessica Semmens, de 22 anos de idade, conseguiu perder cerca de 57 kg com um “método” instigante: postando fotos de suas refeições no Instagram. Como ela, milhares de usuários postam constantemente fotos de pratos saudáveis nas redes sociais. Mas é bom ter cuidado. Um estudo mostrou que acessar o Instagram por mais de 30 minutos em exposição a imagens como estas aumenta consideravelmente os sintomas de ortorexia nervosa, a obsessão por comer alimentos saudáveis.

Os resultados da pesquisa foram apresentados e analisados durante a 21ª  edição do Congresso Brasileiro de Nutrologia, em São Paulo. A pesquisa foi conduzida por especialistas de Londres (Inglaterra) e publicada em junho no periódico mundialEating and Weight Disorders. O estudo foi realizado exclusivamente com quase 700 mulheres – o maior número de participantes com 24 anos e IMC de 22,14 (peso ideal). No Congresso, a médica nutróloga e diretora do Departamento de Transtornos do Comportamento Alimentar da Associação Brasileira de Nutrologia – Abran, Maria Del Rosario, ministrou uma aula sobre a pesquisa que demonstrou a mudança do comportamento alimentar de mulheres que acessaram redes sociais.

“Conversar sobre alimento saudável é muito bom, mas tornar isso uma obsessão pode prejudicar a saúde física e o comportamento social da pessoa, e ainda pode se transformar em uma doença. Em consultórios, vemos muitos casos que as pessoas são inspiradas por blogueiras fitness e consideram como ideal o prato “saudável” apresentado por determinadas personalidades do mundo digital. Isso é preocupante pela disseminação de informações sem evidências científicas e que podem provocar prejuízos à saúde de pessoas de grupos mais vulneráveis”, afirma a médica nutróloga.

O aumento de risco de ortorexia nervosa não está relacionado à opção nutricional. “O que precisamos desmitificar é que uma pessoa vegetariana não é ortorexa ou possui um distúrbio alimentar”, diz a médica nutróloga. Na pesquisa, 28% das mulheres eram veganas, 24% onívoras e 12% vegetarianas. “Com esse estudo, pudemos começar uma discussão sobre o papel desempenhado pelas mídias sociais modernas no início e na progressão dos principais transtornos alimentares, como anorexia, bulimia e a própria ortorexia nervosa” completa Maria Del Rosário.

Seriam as redes sociais os novos prescritores de dietas?

De acordo com Maria Del Rosário, o “uso das redes sociais está em crescimento e o que mais nos preocupa é a questão da saúde mental”, afirma. Além disso, ela lembrou que de ano em ano surgem novas dietas para seguirmos: “Já tivemos dietas sobre chá verde, quinoa, óleo de coco, ração humana, chia, suco verde, entre tantas outras. Contudo, a velocidade e a exposição de conteúdos trazidas por algumas blogueiras, muitas vezes sem nenhum apoio científico ou médico, pode levar as pessoas à uma alienação”, diz a diretora da Abran.

A médica nutróloga cita o exemplo da disseminação da Placentofagia pelas redes sociais. A placentofagia é a nutrição a partir da placenta do recém-nascido, prática comum entre os animais mamíferos – mas pode apresentar riscos à saúde. “Vimos no Brasil e nos Estados Unidos um grande crescimento da placentofagia entre os humanos, incluindo venda de cápsulas de placenta. Mas até qual ponto isso é saudável? “, indaga e comenta de uma recente revisão científica com ausência de benefícios clínicos associados a essa prática.

Essa questão foi levantada por um alerta do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, publicado, em 28 de agosto no American Journal of Obstetrics & Gynecology. O comunicado foi gerado a partir de um caso de um bebê que apresentava grande resistência a uma sepse – conjunto de graves manifestações em todo o organismo produzidas por uma infecção. Após investigações clínicas, foi descoberto que durante a gravidez a mãe havia ingerido cápsulas de placenta contaminada pela bactéria Streptococcus do grupo B. O órgão regulador norte-americano recomendou que os médicos desestimulem o uso dessas cápsulas e a placentofagia em função do alto risco de contaminação de mães, crianças, e fetos em desenvolvimento.

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