Aconteceu de novo. Mais um caso de uso inadequado de polimetilmetacrilato – substância conhecida como PMMA, bioplastia ou metacril – terminou em morte. Desta vez, a vítima foi a modelo e influencer Aline Maria Ferreira da Silva, de 33 anos, que nas redes sociais exibia fotos de biquíni, mostrando um corpo escultural para os padrões estéticos ditos ‘normais’.

Casada e mãe de 2 filhos – de 13 e 19 anos -, Aline se submeteu ao procedimento para aumentar o bumbum, recebendo aplicações de 30 ml de PMMA em cada glúteo, no último dia 23 de junho. Morreu nove dias depois por causa de complicações decorrentes do uso do produto, em um hospital de Brasília (DF), cidade onde morava.

O procedimento – também chamado internacionalmente de Brazilian Butt Lift, conhecido como BBL – foi feito em uma clínica de estética em Goiânia (GO), a Ame-Se. Já no dia seguinte, Aline começou a ter febre, foi piorando. Até que no dia 27 procurou um hospital público, já que não tinha plano de saúde. Chegou a ser intubada e, em estado grave, foi transferida para um hospital particular, onde acabou falecendo em 2 de julho.

A dona da clínica Ame-se, Grazielly Barbosa, que se apresentava como biomédica, foi presa na quinta-feira (4), em Goiânia. A polícia apurou que ela não chegou a se formar em Biomedicina – cursou até o terceiro semestre em um faculdade  no Paraguai. De acordo com familiares, a influencer conhecia a dona da clínica e confiava nela.

‘A Grazi disse que era uma coisa simples e rápida’, diz tia da vítima

Com mais de 40 mil seguidores nas redes sociais, Aline fazia propaganda de procedimentos estéticos, já tendo se submetido a outras intervenções com Grazielly na clínica onde fez o preenchimento com PMMA, incluindo preenchimentos no nariz, rosto, olhos e boca.

Tia de Aline, Elisângela Maria Lima contou ao UOL que a sobrinha não tinha problema de saúde. “Era saudável, ia para a academia”.  Elisângela contou que aconselhava Aline a tomar cuidado, que não precisava desses procedimentos.

Mas como já conhecia a Grazi e já tinha feito outros procedimentos com ela, confiou que não seria algo tão agressivo. A Grazi disse que era uma coisa simples, que não precisava se preocupar, pois era rápido. Aline, infelizmente, acreditou”.

Segundo a tia, Aline sempre foi bonita e vaidosa e sonhava em trabalhar como modelo e digital influencer. “Ela sempre foi muito carinhosa e amorosa com os amigos. Era muito apegada à minha mãe, que tem 86 anos. Para nós, foi uma perda muito grande. Ainda não caiu a ficha, ela estava no auge”, lamenta a tia. 

 

Produto é indicado para preenchimento de gordura em pessoas com HIV

O caso reacende a discussão sobre a segurança e os riscos envolvidos em procedimentos estéticos. Aline recebeu, o que resultou em consequências fatais e chamou a atenção para os perigos do PMMA, um material sintético amplamente utilizado em várias indústrias, incluindo a saúde.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) exige registro para o uso de PMMA em preenchimentos subcutâneos, sendo classificado como uma substância de uso em saúde da classe IV (máximo risco).

O produto tem aplicações aprovadas para correção de lipodistrofia em pacientes com  HIV/Aids e correções volumétricas faciais e corporais. A lipodistrofia é uma complicação do HIV e apresenta diferentes manifestações clínicas, como lipoatrofia de face (‘emagrecimento’ do rosto), glúteos e membros, e acúmulo de gordura em região abdominal e cervical.

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Entidades alertam para riscos e defendem que só médicos façam o procedimento

Sobre o caso, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBPC) e a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) emitiram notas destacando os riscos da substância e informaram que estão elaborando um parecer técnico conjunto, a ser apresentado ao para “definir os rumos desse procedimento estético, sempre com foco na segurança dos pacientes. (Veja abaixo em detalhes).

A SBD ressalta que “o PMMA não é recomendado para fins estéticos generalizados por diversas entidades médicas”. E diz que o uso da substância pode causar “reações imediatas ou em curto prazo, como edemas locais, processos inflamatórios, reações alérgicas e formação de granuloma; e tardias, muitos anos após a realização da injeção”.

Para a SBPC, o procedimento “exige critérios rigorosos na indicação e definição da dose” e a “aplicação indiscriminada desse produto pode ocasionar complicações de difícil resolução”, motivo pelo qual apenas o profissional médico está habilitado a conduzir o tratamento, conforme recomendação do Conselho Federal de Medicina (CFM).

Atualmente, há um crescente aumento no uso de preenchedores no mundo. Com a invasão de profissionais não médicos e novas áreas de tratamento, observa-se um aumento no número de casos de necrose de pele, perda de visão, alterações neurológicas e até morte”, diz a SBCP.

Diante de “resultados imprevisíveis e indesejáveis, incluindo reações incuráveis e persistentes”, ambas as entidades defendem que o procedimento seja indicado e realizado exclusivamente por médicos – a exemplo do peeling de fenol, que levou um jovem de 27 anos à morte em junho, caso que levou a Anvisa a proibir a substância recentemente, sob protestos do CFM e da SBD.

Cremesp já havia feito alerta em fevereiro

Em fevereiro deste ano, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) divulgou uma nota de repúdio ao  uso indevido do polimetilmetacrilato. Segundo o Cremesp, o uso do polímero plástico como preenchedor permanente em procedimentos estéticos vem causando diversas complicações aos pacientes.

Entre elas, a hipercalcemia grave e lesão renal crônica, inflamações, formações de nódulos, necroses, e outras. Seu uso incorreto pode levar, inclusive, ao óbito”, alertou o Conselho.

A entidade lembra que em 2017, inclusive, a SBCP incluiu pela primeira vez dados sobre as sequelas dos implantes com PMMA devido ao aumento no número de complicações. “Em 2016, foram feitas 4.432 cirurgias plásticas para corrigir defeitos decorrentes da aplicação da substância, de um total de 664.809 operações reparadoras. O total de complicações, porém, é bem maior: no mesmo ano de 2016, houve mais de 17 mil registros em todo o país”, acrescenta o Cremesp.

Nota da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) vem a público manifestar seu profundo pesar por mais uma morte envolvendo uma paciente submetida a um procedimento estético realizado por um não médico.

O uso da substância polimetilmetacrilato, conhecida como PMMA, bioplastia ou metacril, exige critérios rigorosos na indicação e definição da dose. A aplicação indiscriminada desse produto pode ocasionar complicações de difícil resolução, motivo pelo qual apenas o profissional médico está habilitado a conduzir o tratamento, conforme recomendação do Conselho Federal de Medicina.

Atualmente, há um crescente aumento no uso de preenchedores no mundo. Com a invasão de profissionais não médicos e novas áreas de tratamento, observa-se um aumento no número de casos de necrose de pele, perda de visão, alterações neurológicas e até morte.

Recomendamos que sempre se procure um médico especialista para realizar procedimentos com o uso de injetáveis com segurança. Esses profissionais são capacitados para tratar eventuais efeitos adversos ou complicações. Em caso de dúvidas, procure sempre um médico especialista, que é o profissional qualificado para qualquer tratamento médico.

Ressaltamos que um parecer técnico conjunto, resultante do entendimento entre a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e a Sociedade Brasileira de Dermatologia, está em desenvolvimento e será apresentado ao Conselho Federal de Medicina (CFM). Este parecer visa definir os rumos desse procedimento estético, sempre com foco na segurança dos pacientes.

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) mantém seus canais de comunicação abertos ao público para o esclarecimento de dúvidas e orientações.

Cremesp repudia aplicação indiscriminada do PMMA em procedimentos estéticos e alerta população sobre os seus riscos

A utilização do produto em altas quantidades causa diversas complicações aos pacientes e, até mesmo, a morte

O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) repudia veementemente o uso indevido do polimetilmetacrilato, conhecido popularmente como PMMA, um polímero plástico que tem sido usado como preenchedor permanente em procedimentos estéticos, causando diversas complicações aos pacientes. Entre elas, a hipercalcemia grave e lesão renal crônica, inflamações, formações de nódulos, necroses, e outras. Seu uso incorreto pode levar, inclusive, ao óbito.

Segundo orientações da Anvisa e do Ministério da Saúde, o produto pode ser aplicado para correção de lipodistrofia, que é a alteração da quantidade de gordura no corpo em pacientes com HIV/Aids, e também para a correção de pequenas irregularidades em áreas do corpo, respeitando seus limites de aplicação, em pequenas quantidades.

No entanto, o PMMA não é recomendado para fins estéticos por órgãos como a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Pareceres do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do Cremesp também repudiam a aplicação de grandes doses da substância e alertam sobre os riscos de seu uso. Confira o Parecer Cremesp nº 127.836/05 e o Parecer CFM nº 5/13, na íntegra.

Em 2017, inclusive, a SBCP incluiu pela primeira vez dados sobre as sequelas dos implantes com PMMA devido ao aumento no número de complicações. Em 2016, foram feitas 4.432 cirurgias plásticas para corrigir defeitos decorrentes da aplicação da substância, de um total de 664.809 operações reparadoras. O total de complicações, porém, é bem maior: no mesmo ano de 2016, houve mais de 17 mil registros em todo o país.

O Cremesp, em defesa da saúde da população, alerta sobre a aplicação indiscriminada do PMMA e reitera que tomará as medidas cabíveis em relação aos profissionais que utilizam a substância irregularmente na realização de procedimentos.

A nota da Sociedade Brasileira de Dermatologia está disponível no site da entidade – veja aqui.

Com Assessorias

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