Imagine passar a quarentena com direito a hospedagem em quarto com ar-condicionado, banheiro, smart TV com centenas de canais e internet com banda larga e ainda ser servido, diariamente, com café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar, em um hotel quatro estrelas do Rio de Janeiro, com direito até a vista para o mar? Parece sonho para muitas pessoas? Mas é o que a Prefeitura do Rio está oferecendo, gratuitamente, a idosos que vivem em comunidades, para que não corram risco de ser contagiados pelo novo coronavírus. Mas até o momento, somente 50 das 1.000 vagas oferecidas gratuitamente pelo município há duas semanas foram preenchidas.
O convite para que aceitem se hospedar voluntariamente durante o período do afastamento social foi feito inicialmente a moradores a partir de 60 anos da Rocinha e moradores de Copacabana, na faixa dos 80, dos hotéis disponibilizadas gratuitamente. Estas são as áreas da cidade que mais preocupam as autoridades. A Rocinha, devido ao índice elevado de pessoas com tuberculose. Copacabana, por ser o bairro do Rio com o maior índice de moradores idosos, grupo sob maior risco de contágio pelo vírus.
Uma nova frente de esforços está sendo feita para que os idosos aceitem a hospedagem voluntária. Porém, caso a tentativa não tenha efeito, a prefeitura buscará na Justiça o amparo para preservar as vidas deles e daqueles com quem convivem. O prefeito Marcelo Crivella estuda pedir à Justiça a “hospedagem compulsória” dos idosos já convidados a ocupar essas vagas. Nesta segunda-feira (13), ele anunciou que o procurador-geral do município deu parecer favorável à medida. Para isso, será preciso solicitação da autoridade médica à autoridade judiciária. Mas Crivella fez um novo apelo para que idosos de comunidades aceitem as vagas de hotéis.
As pessoas que estão nos hotéis estão satisfeitas. Se apertar a campainha, tem nossa equipe multidisciplinar de saúde para prestar socorro. E os que estão internados estão gostando muito”, garante.
O subsecretário municipal de Saúde, Jorge Darze, conversa com os responsáveis das clínicas da família da Rocinha e de Copacabana sobre a possibilidade de o município adotar tal medida. “Vamos levantar os casos dos idosos que as clínicas de família considerem mais importantes para serem preservados nos hotéis. O próximo passo será conversar com eles. Não queremos de forma alguma constrangê-los, mas, sim, protegê-los. Não havendo aceitação, teremos que apelar, realmente, para uma ordem judicial”, declarou o prefeito.
A hospedagem compulsória tem como  base a Lei Federal 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, que prevê que, “para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus, as autoridades poderão adotar, no âmbito de suas competências, dentre outras, as seguintes medidas: isolamento, quarentena e determinação de realização compulsória de: exames médicos, testes laboratoriais, coleta de amostras clínicas, vacinação e outras medidas profiláticas ou tratamentos médicos específicos”.
Coronavírus: cuidados com a saúde dos idosos

A vida em risco nas residências e abrigos de idosos

Diante do aumento exponencial de casos do Covid-19 no Brasil, aumenta a preocupação com a disponibilização de informações e protocolos práticos para as instituições de longa permanência de idosos (ILPIs), também conhecidas como casas ou residenciais de idosos. As pessoas com mais de 60 anos têm até 15% de chances de morte em caso de contaminação pelo novo coronavírus, risco que cresce de forma proporcional à idade. Há relatos de mortes concentradas neste tipo de local nos Estados UnidosFrança e Espanha.

Para ajudar a prevenir este cenário no Brasil, um grupo de voluntários formado por núcleos acadêmicos, ONGs, empresas e casas de repouso criou um plano de ação e o site ilpi.me com atitudes responsáveis de proteção em cinco passos: 1) preparação dos profissionais, 2) comunicado aos idosos residentes, 3) compra de insumos e proteção, 4) comunicado aos familiares e 5) comunicado à sociedade.

O site entrou no ar no dia 22 de março e o grupo está em plena atividade com foco em fazer a informação chegar às instituições e aproximar a interlocução com o poder público e a sociedade privada para viabilizar insumos necessários para essas instituições, bem como acesso aos serviços de saúde quando necessário. Pelo site também está disponível um chat de orientações geriátrica e gerontológicas gratuitas para os profissionais dessas instituições.

O plano de ação foi criado a partir de critérios de qualidade e de exequibilidade operacional e econômica. Apesar de apoiadas por uma vasta pesquisa e pelas melhores práticas adotadas por residenciais em todo o mundo, sobretudo na Europa, onde a crise está em estágio mais avançado, as recomendações foram devidamente adaptadas à realidade das instituições brasileiras, sobretudo as filantrópicas.

Alto risco

Estima-se que 1% da população idosa do Brasil viva nessas instituições. Publicação de 2016 do Ministério Público do Estado de São Paulo e do Centro de Apoio Operacional Cível e de Tutela Coletiva aponta que há 1.543 instituições no Estado de São Paulo. Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) realizada entre 2007 e 2009 localizou 3.548 instituições no território brasileiro. A maioria é filantrópica (65,2%), incluindo as religiosas. As privadas constituem 28,2% do total.

A falta de atualização desses números mostra descaso no mapeamento, na organização e no conhecimento sobre as ILPIs no Brasil. Considerando que os idosos são o principal grupo da pandemia do Covid-19, esse descaso tem que ser colocado em destaque para que não aconteçam aqui as calamidades que estamos vendo na França e, principalmente, na Espanha”, defende João Paulo Nogueira Ribeiro, médico e fundador do Instituto Horas da Vida.

Além de divulgar a iniciativa do site e do chat, o grupo quer fazer um apelo para defender uma interlocução com os órgãos públicos para centralizar as necessidades, as demandas e as próprias doações. “Não se sabe com precisão quantas ILPIs são, quais as suas modalidades, onde estão, de que precisam. Do outro lado, há várias empresas querendo fazer doações. É preciso abrir esse diálogo com os órgãos públicos”, frisa João Paulo Nogueira.

Isolados 2: idosos em asilos não podem receber visitas

Compra coletiva

Sobre a compra de insumos, de acordo com as perguntas que surgem e as demandas que estão sendo identificadas pelo site e pelo chat, o grupo está se organizando para tentar fazer uma compra coletiva ou preços diferenciados ou mesmo doações para as ILPIs. O problema é que esses materiais (álcool, máscaras, luvas, termômetros) estão em falta no mundo inteiro, inclusive no Brasil.

A iniciativa do site e do chat foi idealizada, inicialmente, em parceria entre a MedLogic e a Casa Ondina Lobo. Rapidamente, obteve apoio dos núcleos de Geriatria e Gerontologia da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), liderados pelos professores Edgar Nunes e Wilson Jacob, e também de residenciais geriátricos de referência, como a SBA. A importância do tema atraiu uma equipe interdisciplinar, de excelência, e ONGs relacionadas à temática – como o Instituto Horas da Vida – que ativamente contribuíram para a formação dos protocolos e conteúdos.

“Chancelamos a iniciativa por entender a urgência do momento e a importância de protocolos claros no que diz respeito aos cuidados com os idosos que vivem em lares de longa permanência. Contribuímos com conhecimento técnico científico na elaboração de alguns materiais e indicação de fluxos e protocolos e estamos apoiando também no processo de divulgação da iniciativa”, completa o fundador do Horas da Vida.

A iniciativa é 100% voluntária. Algumas das empresas e instituições apoiadoras estão empenhando recursos financeiros próprios e colaboradores para atuação no projeto. É um projeto com foco humanitário, totalmente gratuito para esse setor que, muitas vezes, torna-se invisível para a sociedade. O grupo está trabalhando também na definição de novos protocolos, como por exemplo: cuidado aos idosos frágeis em casa, protocolos para hospices e cuidados paliativos.

Fonte: Prefeitura do Rio e Agência Brasil, com Redação

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