Dentro de seis meses, hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) poderão oferecer cirurgia robótica para pacientes de câncer de próstata. No Rio de Janeiro, entretanto, isso já é uma realidade. Por ano, cerca de 30 mil pacientes procuram o Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), em Vila Isabel, para tratamento de câncer de próstata pelo SUS. Em 2024, o HUPE realizou 1.184 cirurgias de próstata, e é o único da rede pública a fazer procedimento por robótica.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Rio de Janeiro deve registrar, em 2024, 7.930 novos casos de câncer de próstata, sendo 3.350 na capital.  A doença é a segunda mais comum entre os homens, ficando atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Ela tem a característica de crescimento lento e não apresenta sintoma em sua fase inicial. Diagnosticada precocemente, as chances de cura são altas.

Uso de  robótica auxilia pacientes na cura do câncer de próstata no estado

Desde de 2019, o Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) realiza cirurgias de robótica, que é minimamente invasiva e permite uma recuperação mais rápida. Em quase cinco anos, ocorreram cerca de 800 procedimentos. O  HUPE realiza cerca de 30 procedimentos de robótica por mês

cirurgia robótica é uma evolução da videolaparoscopia. A unidade é controlada dentro de uma sala por um cirurgião, que realiza os movimentos por meio de braços (pinças). O mecanismo permite ações praticamente iguais às do ser humano.

O uso da tecnologia é mais seguro, permite uma recuperação mais rápida, provoca menos danos ao paciente e problemas no controle da urina. A robótica também permite formar médicos residentes com o contato com a tecnologia, enfermeiros, logísticas e engenharia clínica.

Além da área urológica, o equipamento de última geração, modelo Da Vinci com plataforma XI também é utilizado em outras especialidades como ginecologia, cirurgia geral e cirurgia torácica. Segundo o especialista, as intervenções urológicas, principalmente as de próstata, são as que mais utilizam a tecnologia. A unidade tem condições de fazer um procedimento por dia com o robô, dividindo os agendamentos entres as especialidades.

 30 mil atendimentos por ano em prevenção ao câncer de próstata 

O estado do Rio de Janeiro foi pioneiro no atendimento à Saúde do Homem com a criação, em 2010, do ambulatório da Policlínica Piquet Carneiro (PPC), no bairro São Francisco Xavier, que é uma extensão do Hospital Pedro Ernesto.

Além da prostectomia (cirurgia para o câncer de próstata), o Hupe realiza vasectomia e tratamento de PPC hidrocele testicular (problemas relacionados aos testículos e ainda promove ações educativas sobre a saúde do sistema genital do homem.

A Piquet Carneiro faz exame de PSA, toque, hemograma, glicose, creatinina e espermograma. Em 2023, a unidade realizou mais de 13 mil  consultas.  Nelcides Santos Mota, de 59 anos, foi uma das pessoas que buscou assistência na  unidade, referência no tratamento à doença. O “Novembro Azul”, mês dedicado aos cuidados da saúde da população masculina, incentiva a detecção precoce do câncer de próstata e o tratamento.

O exame preventivo salvou minha vida. Foi pelo exame de sangue de PSA, que descobri a próstata aumentada e um câncer em fase inicial. Digo aos homens que esqueçam o machismo e façam o toque, pois o exame é vida. A campanha é super importante pois ajuda a esclarecer dúvidas, disse Nelcides, que é morador do Engenho Novo e realizou cirurgia de próstata no início de novembro.

Marcos Augusto, de 61 anos, também levantou a bandeira da campanha “Novembro Azul” em prol da saúde masculina. Ele destacou a importância de se discutir o tema antes e depois do processo cirúrgico.

“Em julho de 2024, operei a próstata para a retirada de câncer. Ter o mês dedicado à prevenção é de suma importância para nós. O homem precisa saber de todos os aspectos que envolvem o processo cirúrgico para tomar a melhor decisão”, explicou o morador do Caju.

“O homem deve fazer o preventivo uma vez por ano. Os exames indicados são o PSA e o toque. Também precisam ser investigados os sintomas, como ir ao banheiro com mais frequência, retenção na urina e sangue. Em caso de suspeita, o paciente realiza uma biópsia e exame de imagem para verificar sua extensão. O homem com histórico familiar de câncer de próstata deve fazer o preventivo a partir dos 45 anos de idade. Quem não tem casos na família, deve iniciar aos 50 anos. O câncer de próstata é uma doença que não dá sinal e, se diagnosticado, em sua fase inicial, tem chances de cura de até  90%”, ressaltou o urologista Danilo Souza Lima, que há 12 anos atende no Pedro Ernesto.

Rio Imagem Centro e Baixada, unidades da Secretaria de Saúde, realizaram mais de 233 mil exames de tomografia, ressonância magnética, ultrassonografia e raio-x, em prevenção à saúde do homem e da mulher. Este ano, as duas unidades fizeram mais de 251 mil exames de imagens e 3.307 biópsias de próstata.

Tecnologia também é usada em endometriose profunda

A cozinheira Maria da Conceição Diniz, de 42 anos, comemora a forma como vem se recuperando da operação que fez para tratar uma endometriose profunda que a incomodava há pelo menos seis anos. Ela é a milésima paciente que passou pela cirurgia robótica realizada desde 2019 no Hupe. A tecnologia com uso de robôs no Hupe é pioneira na rede pública no estado e além de aumentar a precisão dos médicos nos procedimentos menos invasivos, garante recuperação mais rápida aos pacientes.

Maria da Conceição – que já tinha sido submetida a outras duas cirurgias  – fez o procedimento para tratar a endometriose em 7 de abril passado, e no dia 12, já estava em casa. Segundo ela, a recuperação, desta vez, tem sido mais tranquila.

“É uma recuperação totalmente diferente. Logo após a cirurgia, consegui andar, tomar banho, lavar o cabelo.  As outras operações que fiz foram mais simples, no entanto, senti mais dificuldades no pós-operatório. Viva a robótica”, comemora a cozinheira, que iniciou seu tratamento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Itaboraí, na região Metropolitana do estado, e encaminhada à cirurgia no Hupe por meio do Sistema Estadual de Regulação (SER). 

O ginecologista Marco Aurélio Pinho, coordenador do Programa de Endometriose do hospital, lembra que a paciente Maria da Conceição já havia feito outras duas cirurgias, de complexidade menor. Uma de ‘barriga aberta’ há 6 anos, quando descobriu que tinha endometriose profunda e aderência do canal urinário, e desde então sofria com dores. A outra foi uma laparoscopia para retirada da vesícula.

O caso da paciente Maria da Conceição era de grande complexidade. Mas com o uso do robô, reduzimos os riscos do procedimento”, afirmou o médico, ao explicar os benefícios do procedimento de alta complexidade, com tecnologia robótica:

Com o uso do robô, temos condições de fazer um procedimento minimamente invasivo nos pacientes. Aumenta e muito a nossa precisão durante a cirurgia, por mais complexa que seja, e a visibilidade também, devido à visualização em 3D. Também é uma cirurgia menos cansativa para nós profissionais e garante recuperação mais rápida dos pacientes”, relata Pinho,

Tecnologia amplia também a capacitação de profissionais 

Marco Aurélio Pinho destaca a capacitação  profissional como outro fator positivo da tecnologia robótica. Segundo ele, é preciso capacitar e treinar profissionais para o uso do equipamento e isso resulta em transmissão de conhecimento científico a cada vez mais equipes.

Ele explica ainda, que o robô atua em todas as etapas da cirurgia, mas é controlado pelo médico durante o procedimento. São usados monitores acoplados ao sistema que possibilita a visão dos movimentos por toda a equipe médica, permitindo a participação do cirurgião-auxiliar.

A tecnologia possibilita ainda que o paciente sinta menos dores, reduz ao mínimo o risco de sangramento durante a operação, propiciando diagnósticos mais rápidos e descobertas de doenças ainda na fase inicial.  No caso da endometriose, em geral, são feitos três furos na região onde passará pelo procedimento com uso do robô.

O anestesista Alberto Freaza, formado pelo HUPE, participa das cirurgias robóticas e ressalta a importância da oferta de procedimentos em um hospital da rede pública.

Tenho muito orgulho de fazer parte dessa história no Hospital Pedro Ernesto, onde me formei. Espero que possamos dobrar esse resultado e continuar oferecendo cada vez mais a cirurgia pelo SUS, que é o maior sistema de saúde do mundo. Ver esse serviço de ponta ser oferecido à população com menos recursos é muito motivador”, afirma Freaza.

Investimentos de R$16 milhões

O diretor-geral do Hupe, o médico urologista Ronaldo Damião, ressalta que a implantação da tecnologia aumentou o movimento cirúrgico do HUPE e propiciou a inclusão de cirurgias de alta complexidade para atendimento de usuários do SUS na unidade.

O Programa de Cirurgia Robótica do HUPE-UERJ possibilitou ainda um maior fluxo de leitos no hospital devido à rapidez com que os procedimentos acontecem. O Governo do Estado investiu R$16 milhões no programa.

Com isso, atendemos melhor à população fluminense, com mais qualidade e excelência. Com a tecnologia, o robô também traz para o HUPE a formação de recursos humanos”, afirmou Ronaldo Damião, que foi o responsável por implementar o Programa de Cirurgia Robótica no Hupe.

O robô do programa foi usado pela primeira vez no Brasil, em um hospital público para fazer o transplante entre vivos em fevereiro de 2019, uma semana após o HUPE inaugurar o Programa de Cirurgia Robótica.

Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe) é referência no tratamento à doença e único a ofertar procedimento de alta complexidade menos invasivo e com recuperação mais rápida 

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